Luiz Barsi é o melhor amigo das ações de energia elétrica.
Luiz Barsi, um dos maiores investidores da Bovespa — e que fez fortuna aplicando em ações que pagam dividendos —, diz que as empresas de energia elétrica estão entre as suas preferidas hoje.
São Paulo - O paulistano Luiz Barsi tinha cerca de 130 milhões de reais aplicados em ações de empresas de energia elétrica em agosto de 2012, pouco antes de o governo anunciar a controversa mudança de regras para a renovação de concessões desse setor. Essas companhias chegaram a perder quase 40 bilhões de reais em valor de mercado — e Barsi perdeu metade desses 130 milhões no último semestre. Em vez de se desesperar com o tombo, ele voltou a comprar. As ações preferidas são as de Eletrobras, que caiu 58% em 2012, Transmissão Paulista, que desvalorizou 40%, e Eletropaulo, que teve baixa de 47% (além de tudo, a empresa foi obrigada pelo governo federal a reduzir suas tarifas mais do que esperava).
Para Barsi — que construiu um patrimônio de 1 bilhão de reais na bolsa
comprando ações ao longo de 40 anos —, ainda que os resultados dessas
companhias piorem com as novas regras de concessão, elas continuarão
lucrativas. E pagando dividendos elevados.
"É assim que se ganha dinheiro no mercado", diz. O investidor é um dos
únicos que pensam desse jeito. Dos 19 analistas que acompanham a
Eletropaulo, por exemplo, nenhum recomenda aplicar na companhia. A
maioria dos gestores de fundos de ações está vendendo esses papéis. Como
Barsi tem um pouquinho mais de dinheiro que esses analistas todos, é
sempre bom ouvi-lo.
EXAME - Os gestores têm vendido ações de empresas de energia
elétrica. Os analistas estão pessimistas. Por que o senhor continua
investindo nesse setor?
Luiz Barsi - Realmente, o cenário piorou muito, e o
maior problema é que ainda não dá para calcular o impacto que essa
mudança de regras terá no caixa das companhias. Mas nenhum país vive
sem energia elétrica e, depois da queda dos últimos meses, as ações
ficaram com um preço muito interessante.
A Eletropaulo, por exemplo, cujos dividendos são maravilhosos,
superiores a 20% do preço do papel por ano, está muito barata. Do
jeito que está hoje, já é para comprar de olhos fechados. Mas ainda
existe a possibilidade de o governo afrouxar as regras, com o pagamento
de indenizações maiores. Aí fica excelente.
EXAME - Mesmo se o governo ceder, não é provável que o lucro
dessas empresas caia, o que reduziria os dividendos pagos aos
acionistas?
Luiz Barsi - Devem diminuir mesmo, mas não de forma
significativa. Não acredito que vá cair 40%, como aconteceu com algumas
ações. Isso prejudica a distribuição total de dividendos, mas em valores
absolutos. É preciso pensar nos dividendos como um percentual do valor
investido na ação. Por exemplo: se eu aplico 10.000 reais nos papéis da
Eletrobras, espero receber pelo menos 10% em dividendos.
Como o preço da ação despencou, esse percentual deve se manter, apesar
da esperada redução do lucro. O retorno com dividendos de Eletropaulo,
Eletrobras e Transmissão Paulista neste ano seguramente será maior que o
da renda fixa. Acredito que ficará entre 10% e 15%. Por isso, estou
comprando adoidado.
EXAME - Quanto o senhor já comprou?
Luiz Barsi - Minha carteira de papéis de empresas de
energia elétrica caiu 50% no ano passado, mas estou voltando aos 130
milhões de reais que tinha antes da desvalorização desse setor. Só no
dia 14 de dezembro, comprei 3 milhões de reais em ações da Eletropaulo
porque achei que o preço estava muito bom.
Paguei 12 reais por ação; hoje, está em torno de 15 reais. Em todo
caso, não é esse tipo de ganho que procuro. Meu objetivo não é tentar
comprar na baixa e vender na alta para ganhar a diferença. Eu acumulo
ações. Só vendo quando sou obrigado — quando uma empresa sai do mercado,
por exemplo. Minha remuneração é o dividendo, é isso que analiso.
EXAME - Ações de empresas como Ambev, Cielo e Natura, que estão
entre as preferidas dos gestores de fundos de dividendos neste ano,
fazem parte de sua carteira?
Luiz Barsi - De jeito nenhum. Respeito demais o risco
ao investir — e risco, para mim, é comprar uma empresa com um valor de
mercado muito superior ao patrimonial. É o caso das companhias que você
citou: o valor chega a ser três vezes maior. Elas estão caras e o
retorno anual via dividendos é muito baixo, de 4% a 5%.
EXAME - Mas o senhor investe em ações de empresas que pagam
dividendos de 3% a 5%, como a Ultrapar. Quando percentuais baixos valem a
pena?
Luiz Barsi - Quando as empresas estão baratas e há
novos projetos, que indiquem que os resultados vão melhorar, o que pode
aumentar a distribuição de dividendos. É o caso da Ultrapar. Também
estou otimista com as companhias de papel e celulose, que respondem por
20% de minha carteira de ações. Gosto porque são bem administradas e
rentáveis. A Klabin foi bem nos últimos três anos, e agora vamos ouvir
falar cada vez mais da Suzano, que está investindo em novas fábricas no
Maranhão e no Piauí.
EXAME - O senhor é o maior acionista individual da fabricante de materiais de construção Eternit. É hora de comprar ou vender?
Luiz Barsi - O retorno via dividendos é bom, de cerca
de 10%, mas a Eternit está com uma espada na cabeça chamada amianto — um
terço do faturamento vem de produtos fabricados com esse material, que
já foi proibido em diversos países. O Supremo Tribunal Federal está
analisando o caso aqui. Se decidir proibir o uso da substância, a ação
vai desvalorizar muito, então não recomendo.
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