terça-feira, 28 de julho de 2015

ABRIR UM NEGÓCIO OU INVESTIR ?









Muitas pessoas pensam que abrir um negócio é a melhor maneira de enriquecer. Investem as economias de anos e anos de trabalho árduo como empregado no seu empreendimento, com a expectativa de, depois de algum tempo, conseguirem a tão sonhada independência financeira. Muitas dessas mesmas pessoas dizem que o mercado de ações é muito perigoso. Será mesmo? Segundo estatísticas do Sebrae, 27% das pequenas empresas abertas no Estado de São Paulo fecham suas portas em menos de um ano de atividade. Em dois anos, mais 10% das empresas fecham suas portas (37% do total); e em três anos, quase metade delas (46%) já fecharam suas portas. Ao final de cinco anos, apenas 42% das empresas permanecem em atividade. Por que isso acontece? A grande razão para esse grande índice de insucesso das pequenas empresas é a falta de conhecimentos em gestão empresarial.




A maioria dos pequenos empresários não tem preparo o suficiente para administrar uma empresa. Não são poucas as exigências: para abrir uma empresa, é necessário preencher uma papelada enorme, registrar a sociedade na junta comercial, junto à Fazenda municipal, estadual e federal, arrumar dezenas de certidões negativas, contratar contador e advogado. É importante aprender um pouco sobre direitos trabalhistas antes de contratar os empregados, para evitar fazer besteira e pagar caro depois. Pagar impostos também dá uma trabalheira danada, porque a legislação tributária é complicada pra caramba. E você ainda corre o risco de contratar um contador incompetente, que só vai te trazer mais problemas depois. E eu nem falei dos problemas que surgirão depois que a empresa começar a funcionar. Tudo isso a que me referi deve ser enfrentado antes de abrir as portas. Depois, o pequeno empresário tem que controlar estoques, negociar com os fornecedores, administrar a eficiência de seus empregados (não pode xingar os empregados ineficientes nem expô-los ao ridículo, pois isso dá indenização por danos morais!). Tem também que controlar seus custos, ter uma publicidade eficiente para conseguir clientes, pensar em soluções que diferenciem sua empresa das demais.




Vou parar por aqui. Já deu pra perceber que dá muito trabalho colocar uma empresa em funcionamento e ter lucro com elas? A maioria dos pequenos empresários não tem a menor ideia de 50% dos requisitos que eu mencionei nos parágrafos acima. E por isso mesmo metade de suas empresas quebra antes de completar cinco anos de funcionamento. É possível ficar rico com uma empresa? É claro! É perfeitamente possível! Mas as probabilidades estão contra você.




Agora, imagine uma segunda situação. Ao invés de abrir você mesmo sua empresa, decide se associar a várias companhias, que já tiveram comprovado sucesso em produzir bons resultados ano a ano. Você não tem mais que se preocupar com legislação tributária ou trabalhista, porque as empresas contratam os melhores advogados e contadores que o dinheiro pode pagar. Não se preocupa com gestão de estoques, propaganda, controle da eficiência dos empregados. Sua única preocupação é estudar a cada trimestre (ou, se você não tiver tempo mesmo, uma vez por ano) os balanços das empresas para verificar se elas estão sendo bem administradas como você supôs inicialmente.




Isso é o mercado de ações. Cada ação é um pedacinho de uma empresa. E você pode investir o quanto considerar plausível, comprando uma fração maior ou menor da companhia. Quando você abre uma empresa, precisa alocar 100% de seu capital no empreendimento. Todas as suas economias são alocadas para um único investimento. E, se você é como a maioria dos pequenos empreendedores, não tem o menor conhecimento de gestão empresarial. Ou seja, você pega todo o seu dinheiro e entrega na mão de uma pessoa que não tem muita ideia do que fazer com ele. Você percebe o risco?




Ao investir em ações, você não precisa pegar 100% do seu dinheiro e investir em um único empreendimento. Na verdade, não é necessário nem que você invista 100% de suas economias em ações. Você investe o quanto quiser, o quanto puder, e quando desejar. Se quiser investir 10% de suas economias e colocar o restante em títulos do tesouro ou em outro investimento de renda fixa, você pode. Se você quiser investir em uma única empresa ou em várias companhias, também pode. Ou seja, quem decide o risco que você quer correr é você mesmo. Além disso, ao investir em ações, é perfeitamente possível alocar suas aplicações em empresas de diversos setores diferentes da economia. Quando você abre uma empresa, o único setor em que você investe é aquele em que sua empresa está localizada. Ou seja, se aquele setor tiver problemas, as chances de o negócio dar errado se tornam maiores ainda.

E, ao investir em ações, você nem precisa abandonar o emprego em que está. Ao abrir uma empresa, é preciso estar 100% concentrado em tudo o que acontece nela. E a única fonte de renda de 90% dos empresários do setor é a produzida pela empresa. Ou seja, se você é como a maioria das pessoas e tem que comer, se vestir e sustentar uma família, você precisa tirar dinheiro da empresa praticamente desde sua fundação. Ao investir em ações, contudo, nada impede que você continue com o seu emprego, dependendo do seu patrão (ou do governo, se você é servidor público): ou seja, você tem uma renda praticamente garantida enquanto, aos poucos, vai construindo seu patrimônio, que paulatinamente assegura um fluxo de renda que, no futuro, pode ser suficiente para garantir seu padrão de vida.











segunda-feira, 27 de julho de 2015

O QUE É SER RICO ?










Certa vez um consultor financeiro perguntou a um agricultor o que era ser rico. Ele prontamente respondeu que, quando era criança, achava que ser rico era comer carne todos os dias. Já que, no presente, o agricultor ganhava o suficiente para não sofrer restrições alimentares, ele podia se considerar rico.

É possível que muitas pessoas discordem da definição de riqueza do agricultor.

Para saber o que é ser rico para você, pergunte-se:

› Quais são meus objetivos?
› Quanto dinheiro quero ter?
› Quando irei me considerar uma pessoa rica?

Se você não tiver ideia definida sobre o que é ser rico, não saberá aonde quer chegar e nunca estará satisfeito. É por esse motivo que, para algumas pessoas, a viagem nunca termina. Elas sempre irão querer ganhar mais por não saberem quanto é o suficiente.




Muito pior que não se preocupar com dinheiro é gastar a vida toda procurando acumular. O dinheiro deve ser um meio, e não um fim.




Uma forma mais precisa de medir seu nível de riqueza é fazer-se a seguinte pergunta: “Quanto tempo mais?”. A resposta será o número de meses ou anos que você levará para acumular quantia suficiente para sustentar seus gastos sem precisar trabalhar mais.




Caso real:

Um executivo, funcionário de uma empresa multinacional, tinha um salário de R$ 50 mil por mês. Por ter acumulado poupança de R$ 400 mil, ele se considerava rico. A empresa em que ele trabalhava passou por um problema financeiro e o demitiu. O patrimônio que ele havia guardado foi suficiente para sustentar seu padrão de vida por exatos oito meses. Depois desse tempo, ele teve que vender a cobertura financiada em que morava e seu casamento também não resistiu à crise.

“Quanto mais simples for o estilo de vida que você almeja, 
mais fácil será enriquecer.”












domingo, 26 de julho de 2015

COMO O MERCADO DE TULIPAS DO SÉCULO XVII EXPLICA AS CRISES FINANCEIRAS












Isso parece alguma coisa que você já viu. Mas trata-se de um mercado diferente: o da compra e venda de tulipas, que “floresceu” na Holanda do século XVII. Essas flores caíram no gosto dos endinheirados da Europa logo que foram trazidas da Turquia. E os holandeses, que sabiam fazer dinheiro tão bem quanto faziam moinhos, começaram a plantá-las a rodo para abastecer esse povo.





Aí apareceu um elemento surpresa nessa história: um vírus. Quando ele contaminava uma tulipa, deixava a flor fraquinha e danificava o pigmento dela. Péssimo para a planta, ótimo para os humanos: o que era um dano para o vegetal deixava a flor mais bonita, com listras brancas, leitosas, entremeando o pigmento da flor. Esse vírus, porém, só atacava as plantas de vez em quando, o que tornava essa variedade um tipo raro, exclusivo. Tão exclusivo que ganhou um nome pomposo, Semper Augustus, e um preço estrondoso. Em 1624, um botão custava, em florins holandeses, o mesmo que uma casa em Amsterdã – ou, para ficar só nos artigos de nome pomposo e preço estrondoso, valia o mesmo que um Rolex Daytona de ouro vale hoje: um apartamento (R$ 200 mil). Desse jeito, a Semper Augustus logo deixou de ser um mero luxo para virar simplesmente um luxo. Seu preço alto também puxou para cima a cotação das outras tulipas – a mera existência de um Rolex de R$ 200 mil faz um de R$ 20 mil parecer barato, certo? Então. Com as tulipas ordinárias foi a mesma coisa. Bastava ser tulipa que já estava bom: não faltaria gente a fim de pagar caro por qualquer uma.




Os floristas só faziam negócios na primavera, quando os bulbos (as raízes das quais nascem as tulipas) floresciam. Mas, conforme os preços foram aumentando, isso deixou de fazer sentido. Se você fosse um florista e precisasse de dinheiro no meio do inverno, meses antes de ter como vender as plantas, não teria problemas para levantar capital. Era só vender o próprio bulbo sem a flor e deixar o cliente esperando a tulipa surgir. Um mercado novo foi nascendo com isso. Especuladores passaram a comprar bulbos aos montes na esperança de revender mais caro quando as flores dessem as caras. Convenhamos, um investimento bem esperto, já que os preços não paravam de subir. Na verdade, os especuladores nem precisavam levar o bulbo para casa. Ficavam só com um contrato (um “título”, no jargão financeiro) que lhes dava direito ao dinheiro que a flor rendesse mais tarde. Não demorou, e passaram a comercializar os próprios contratos. Quem tivesse pago 1.200 florins 1 por um desses títulos, esperando que o bulbo subisse de preço até a primavera, às vezes preferia vender a algum interessado por 1.300 e embolsar o lucro na hora a ficar esperando. Esse outro sujeito podia encontrar alguém a fim de pagar 1.400 e vender de uma vez, levando 100 florins para casa sem fazer força.




 A coisa era tão tiro certo que os mais espertos começaram a fazer um malabarismo financeiro: pegar, digamos, 1.400 florins emprestados para comprar o bulbo e vendê-lo no mesmo dia por 1.500. Isso é mais do que dinheiro fácil. É lucrar sem ter investido nada – coisa que os especuladores chamam de “alavancagem”.




Um holandês qualquer que acordasse sem um tostão no bolso podia fazer o empréstimo de manhã, comprar a tulipa ao meio-dia, vender mais caro à tarde, pagar o que devia com juros e ir dormir com o lucro. Dava para viver disso, até. E ainda dá. Tanto que os Bancos fazem dinheiro exatamente assim até hoje. Eles pegam emprestado pelo menos o triplo do que têm e usam o dinheiro para investir. Depois pagam tudo e vão dormir com o lucro. O Lehman Brothers, maior Banco de investimentos dos EUA até 2008, chegava a tomar empréstimos de US$ 30 bilhões para cada US$ 1 bilhão que tinha nas mãos. É como se alguém que ganha R$ 5 mil por mês hoje pegasse empréstimos de R$ 2 milhões todo ano. Pagar tudo isso e ir dormir mais rico não é para qualquer um – nem para o Lehman, que faliu, levando a economia mundial junto. Mas essa é outra história.





A especulação com os bulbos de tulipa crescia, e o preço deles ia na mesma toada. No auge do boom, em 1636, a Semper Augustus subiu 300%, de 2 mil para 6 mil florins. Com as flores menos caras, foi mais ainda. A tulipa do tipo Gouda, mais comum, subiu de 20 para 225 florins – mais de 1.125%.




O mercado das tulipas tinha pegado fogo: se você adquiria um título de bulbo, pelo preço que fosse, sempre aparecia alguém para comprá-lo por um valor maior. Só que fogo não é eterno, posto que é chama. “Mas que seja infinito enquanto dure”, torciam os especuladores. Não foi. Esse mercado só se sustentaria se os preços continuassem subindo para sempre. Mas os valores ali já não tinham mais nada a ver com a demanda pelas flores como artigos de luxo. Não havia tantos nobres dispostos a gastar o preço de uma mansão numa florzinha para mostrar aos amigos. A quantidade de gente assim é um recurso finito.




Àquela altura, não havia mais um consumidor final para valer. As pessoas só compravam os títulos por valores extorsivos na esperança de que surgisse alguém “mais otário” lá na frente disposto a pagar mais ainda por eles. Mas otários também são um recurso finito.




Uma hora começou a faltar compradores. Para piorar, descobriram um monte de fraudes: floristas estavam vendendo mais contratos do que a quantidade de bulbos que tinham em estoque. Era como imprimir dinheiro falso. Outra: ninguém sabia que o responsável pela existência da Semper Augustus era um vírus (nem se fazia ideia do que era um vírus, já que a vida microscópica era desconhecida na época). Se o vírus não infectasse o bulbo, nascia uma tulipa normal. E o investidor via que tinha comprado gato por lebre.




Quando tudo isso veio à tona, a desconfiança reinou. E o mercado minguou. De vez. As ações da Vale subiram 200% em 3 anos. A tulipa mais valiosa da Holanda no século XVII também. Quem tinha vendido casa e carruagem para investir no dinheiro fácil das tulipas se viu com as calças na mão de uma hora para a outra. Os contratos tinham virado “títulos podres”, como dizem os economistas. Não valiam mais nada. O governo precisou intervir, perdoando dívidas de pessoas falidas. E a economia demoraria anos para voltar ao normal.




Para qualquer um que acompanhou o que aconteceu com a economia antes, durante e depois da crise de 2008, tudo isso é familiar. No mundo dos investimentos, os primeiros anos do século XXI foram tão eufóricos como a época da mania das tulipas. Inclusive boa parte das ações subiu tanto quanto as flores de 300 anos atrás. Sem exagero, nos três anos anteriores à crise, as da Vale aumentaram quase tanto quanto a Semper Augustus nos três anos de pico da bolha holandesa: 200%. As da Gerdau foram no mesmo pique das tulipas Gouda: 1.000%. E a onda não afetou só quem opera diretamente na bolsa. As 312 mil pessoas que optaram por deixar uma parte de seus fundos de garantia em ações da Petrobras quando o governo criou esse programa, em 2000, viram seu dinheiro dar cria. Quem separou R$ 50 mil do FGTS para investir nisso, por exemplo, chegou a ter mais de R$ 500 mil na conta em 2008 – e fazendo menos esforço do que se tivesse ganhado esse dinheiro no Big Brother; ou na Holanda do século XVII. A diferença é que esse não foi um jogo entre malandros e otários. Os lucros dessas empresas estavam subindo no mesmo ritmo que o preço das ações – às vezes até mais rápido. Isso deixa tudo mais concreto.




Se você tem uma ação da Vale, por exemplo, significa que é dono de 0,2 bilionésimo da empresa. Como proprietário de uma parte da mineradora, você tem direito a um pedaço dos lucros dela, os “dividendos”, no jargão. E esse dinheiro pinga na sua conta de tempos em tempos. É para isso que serve uma ação: pagar dividendos. Se os lucros estão altos, o dinheiro que entra para você também é alto. Ter esses papéis nas mãos é um bom negócio quando a empresa é lucrativa. Tão bom que outras pessoas vão querer comprá-los de você para ficar com o direito de receber um naco dos lucros da companhia. Aí é a lei da oferta e da procura: se muita gente está interessada nelas, o preço sobe. E você pode vender na bolsa por mais do que pagou. Básico. É para isso também que serve uma ação – lucrar sobre as expectativas dos outros.




Quem compra, em tese, é um sujeito interessado em ficar com o papel para que a grana dos dividendos caia na conta dele. Mas, como tem muita gente nesse mercado, na prática o comprador típico é alguém que só espera vender a ação por um preço maior no futuro, igual ao mercado de tulipas.

Os ganhos podem ser tão grandes entre a compra e a venda de uma ação que, na prática, a bolsa gira em torno disso. Quase todo mundo que compra papéis o faz na esperança de vendê-los por mais dinheiro um dia. E os dividendos acabam vistos como meros adicionais, só um dinheirinho que chega de vez em quando. O que vale mesmo é a expectativa de vender os papéis por um valor duas, três, dez vezes maior. Mas isso é uma inversão de valores que só atrapalha na hora de entender a lógica do mercado acionário.




Para começar, o que faz o preço de uma ação subir? O óbvio: quanto mais pessoas estiverem interessadas no papel, mais caro ele vai ficar no mercado. Normal. Mas o que faz com que muita gente decida comprar ações de alguma empresa em especial, levando o preço dos papéis lá para cima? O potencial de lucros dessa empresa. Quanto mais a companhia faturar, maior será a capacidade de ela pagar dividendos polpudos. Ou seja, os dividendos não são meros extras. Eles formam a essência do mercado financeiro.




Se existe a expectativa de que uma empresa vai dar mais lucros, de que ela vai pagar dividendos melhores lá na frente, mais investidores correrão para as ações dela. E o preço vai subir. Mas tem um problema aí: expectativa é só expectativa. Ninguém tem como dizer se uma empresa vai dar mais ou menos lucro no futuro. E, se ela começar a viver no prejuízo e acabar falindo, o destino das ações será o mesmo dos títulos de tulipas: não valer mais nada.




É por causa dessa incerteza que o mercado financeiro está cheio de analistas pagos para estudar a saúde financeira das empresas. Eles fuçam os balanços e escarafuncham o mercado em busca de quaisquer indícios sobre a capacidade de uma companhia continuar dando lucro. Mas não é o suficiente. Por exemplo, você compraria ações de uma empresa que aumentou seu faturamento de US$ 13 bilhões para US$ 100 bilhões em cinco anos? Para completar, imagine que essa mesma companhia ainda afirmasse por A mais B que iria dobrar esses US$ 100 bilhões logo ali, no ano seguinte. Adicione o fato de que ela já era tão grande e aparentemente segura como uma Vale da vida.




Não comprar ações de uma empresa dessas seria como rasgar dinheiro. E essa companhia existiu: era a Enron, a maior companhia de energia elétrica dos EUA no fim do século XX. Depois de quase multiplicar seu faturamento por dez, ela foi para a confortável posição de segunda companhia que mais faturava no mundo, atrás apenas da Exxon Mobil, a maior petroleira da Terra. Não podia haver investimento mais seguro. Era a empresa responsável por iluminar boa parte do território da maior economia do mundo. Para ela deixar de ganhar, só se os americanos abdicassem da eletricidade para viver sob luz de velas. Por isso mesmo, as companhias de energia elétrica geralmente são garantia de um fluxo constante de dividendos. Um negócio quase sem risco. Tanto que, em épocas de vacas magras, muita gente corre para as ações delas – enquanto a Bovespa derretia na crise de 2008, por exemplo, os papéis de várias empresas dessa área ficaram imunes. Mas claro: se fosse só por isso, todo mundo compraria apenas ações da companhia de energia elétrica. Mas tem outro ponto. Se, por um lado, essas ações garantem dividendos faça chuva ou faça sol na economia, por outro, elas dificilmente sobem grande coisa.

O potencial de lucro dessas empresas está restrito ao consumo de energia das pessoas. E isso nunca dá grandes saltos de uma hora para a outra. Então, as expectativas de lucro nunca batem no teto. Ficam sempre ali, numa zona morna. E o preço das ações delas nunca sobe um absurdo do dia para a noite.




Se você tem papéis da Petrobras, por exemplo, e ela anuncia que o pré-sal tem o dobro do petróleo que estava previsto, o potencial de lucro dela vai para a estratosfera, e o preço das ações sobe junto. Com uma empresa de energia elétrica é virtualmente impossível acontecer algo assim. E é isso o que torna o caso da Enron especial. Se uma elétrica das grandes como ela começa a apresentar lucros absurdos, é o mundo perfeito: uma ação com um potencial enorme de subir e que não tem como descer. Era bom demais para ser verdade. Mas era verdade. Aí não deu outra: as ações dispararam.




Para variar, quase naquele ritmo da Semper Augustus, a rainha das tulipas: 200% em três anos – entre 1999 e 2001, a ação da Enron foi de US$ 30,00 para US$ 90,00. Bom para os investidores que compraram essas ações na bolsa; melhor ainda para os executivos da Enron. Eles ganhavam toneladas desses papéis de graça, como parte de seus bônus anuais. Um prêmio merecido, diga-se, se você levar em conta que a Enron recebeu o Prêmio de Empresa mais Inovadora da América, da revista Fortune, por seis anos consecutivos.




Depois que o preço dos papéis triplicou, alguns executivos fizeram o que qualquer um faria: venderam as centenas de milhares de ações que tinham ganho de bônus, embolsaram o lucro todo e saíram para curtir a vida. Um deles foi Lou Pai, um americano de origem chinesa. Aos 52 anos, ele controlava uma das divisões da Enron e resolveu se aposentar. Lou conseguiu US$ 268 milhões numa tacada só e foi viver tranquilo numa fazenda de 310 km2 no Colorado – a segunda maior propriedade daquele Estado. Também tinha uma menorzinha, no Texas, para abrigar seu haras. Um fim de carreira mais do que feliz. Só que a história estava longe de acabar.




Para quem tinha comprado ações da Enron, ela estava apenas começando. Pouco mais de um ano depois de o valor de cada ação ter chegado a US$ 90,00, a Enron estava falida. E quem tinha apostado suas economias nela também. Perda total. Um investimento que deveria ser à prova de risco − e que já tinha enriquecido muita gente − se mostrava furado. O que aconteceu? Um crime. Os executivos da empresa estavam mentindo sobre os lucros. Eles colocavam valores falsos nos balanços para garantir seus próprios lucros, na forma de bônus pelo bom desempenho da companhia. Uma hora, porém, as autoridades que fiscalizam empresas com ações na bolsa acabaram descobrindo as fraudes.




Refizeram, então, os balanços e constataram que a Enron estava dando prejuízo. A notícia se espalhou e as ações despencaram para perto de zero. E em questão de meses foram a zero mesmo: a Enron entrou com um pedido de falência. A tulipa estava morta. Esse foi um caso extremo em que uma mentira estava por trás da escalada nos preços das ações. E que terminou com a empresa fechando as portas.

Mas o mercado vive situações parecidas o tempo todo. Não precisa haver uma fraude para que uma ação suba a um valor muito maior do que deveria. Basta que as expectativas sobre os lucros que ela possa dar no futuro sejam exageradas.





Na maioria das vezes, inclusive, a irracionalidade reina não só em relação a uma única empresa, mas no mercado inteiro. Centenas de companhias diferentes podem ver o preço de suas ações subir ao mesmo tempo por conta de expectativas fora da realidade.