sexta-feira, 30 de maio de 2014

VISÃO GERAL DA VALUATION











"O mercado, como o Senhor, ajuda aqueles que se ajudam. Mas, ao contrário do Senhor, o mercado não perdoa aqueles que não sabem o que fazem. Pagar muito caro por uma excelente companhia pode desfazer uma década de perspectivas favoráveis de negócios” Warren Buffett.

Acredito na filosofia básica de investimento de comprar ações de companhias de qualidade mantendo-as para o longo-prazo, e ignorando os sentimentos do mercado e da mídia. Mas, se eu tivesse que fazer uma crítica seria exatamente que existe uma ênfase muito grande na qualidade. Eu concordo, e tenho certeza que Buffett também concordaria, que a qualidade de um negócio é mais importante do que seu preço hoje. Mas 100 vezes mais importante?  A experiência dos últimos anos provou quepagar qualquer preço por um grande negócio é o caminho para um rendimento abaixo da média.
De 2002 a 2008 a Bovespa esteve num grande mercado de alta em que a avaliação pouco importou. Para falar a verdade, acredito até que nos últimos anos quanto mais os investidores focaram-se na avaliação, piores terão sido seus resultados. Mas isso não foi verdadeiro no passado e, sinceramente, acredito que não seja sustentável. Embora as leis econômicas da gravidade podem ter sido temporariamente suspensas, não acredito que elas tenham sido alteradas fundamentalmente.
Não me levem a mal, eu creio piamente que a maneira com que a Internet (e outras tecnologias), melhoraram nosso acesso ao capital, as melhores técnicas de administração, etc..,e impactaram a economia positivamente e permanentemente. Também não sou aquele tipo de “value investor” que acredita que qualquer coisa sendo vendida acima de 20x seus lucros passados esteja superavaliada. Eu simplesmente acredito na verdade universal que o valor de uma companhia (e também, por decorrência, um pedaço da propriedade dessa companhia, que é uma ação) vale não mais, não menos que o fluxo de caixa futuro que pode ser retirado desse negócio, descontado de volta ao seu valor presente.



Acho difícil acreditar que esse tipo de pensamento esteja presente nos setores mais quentes do mercado hoje. As avaliações muito altas implicam num crescimento absurdo e numa lucratividade exagerada de várias companhias dentro de um mesmo setor. Isso é matematicamente impossível. É claro que algumas dessas companhias podem vir a ser as próximas Eztec, mas isso ocorrerá com muito poucas delas. Todas elas não podem alcançar 80% de market share! Acredito que os investidores desses setores devem se preparar para uma queda não porquê estão investindo em maus negócios, mas porquê avaliações extremas criam uma equação de risco-retorno muito pouco favorável. Acredito que a maioria deles não esteja investindo, mas apenas especulando.


Antes de você começar a me xingar, considere o seguinte: eu possuo algumas dessas ações quentes. Mas eu comprei a um valor muito mais baixo (ainda um pouco alto, para dizer a verdade) de “valuation”, quando acreditava que seus fluxos de caixa futuros justificariam suas avaliações naquela época. Hoje em dia, embora não me sinta confortável com suas avaliações, certamente não estou comprando mais das mesmas, mas estou determinado a me manter firme a minha posição de investidor de longo-prazo mantendo esses papéis enquanto os negócios por trás deles continuarem a prosperar.
Se pudéssemos prever o futuro com algum grau de precisão, a valuation seria fácil. Mas como o futuro é imprevisível, a valuation se torna difícil e ambígua. A valuation é muito menos introduzir números em uma planilha eletrônica e muito mais atribuir pesos a fatores competitivos e estimar probabilidades. Não é arte nem ciência - É um pouco de cada um.
A falta de precisão existente na valuation faz com que várias pessoas sintam-se desconfortáveis. Para lidar com esse desconforto várias pessoas se embrulham num grande cobertor empregando uma análise de fluxo de caixa descontado complexa. A minha visão sobre esse tipo de coisa é mais bem resumida por essa citação da reunião anual de 1996 da Berkshire Hathaway:
Charlie Munger (vice presidente da Berkshire Hathaway) disse, "Warren fala sobre esses fluxos de caixa descontados. Eu nunca o vi fazendo um”.
"É verdade" responde. "Se (o valor da companhia) não grita para você, é porquê está muito perto”.
A beleza da valuation, e dos investimentos em geral, é que, usando a famosa analogia de Buffett, você não precisa ir em todas as bolas.


Você pode esperar o tempo que achar necessário até sentir-se seguro que descobriu não só um negócio de alta qualidade, mas também um negócio que esteja sendo vendido a um grande desconto. Esse tipo de oportunidade é muito raro nos dias de hoje, então é necessário ter muita paciência. Para me disciplinar, costumo usar o que chamo de teste do “me-belisque-eu-devo–estar-sonhando”. Isso quer dizer que antes de investir, eu devo dizer para mim mesmo, “Eu não acredito que sou tão sortudo de ter encontrado uma companhia que o mercado tenha compreendido tão mal e precificado suas ações tão baixo que sou capaz de comprá-las por este preço.
Como andei citando Buffett nesse artigo algumas vezes, bem que poderia concluir com uma das minha citações preferidas aos acionistas:
Nós confessamos que sentimos otimismo em relação aos nossos investimentos em seguros. É claro que nosso entusiasmo por ações não é incondicional. Nas mesmas circunstâncias, investimento em ações por intermédio de firmas de seguro faz muito pouco sentido”.
"Nós ficamos excitados em comprometer um grande percentual dos fundos de nossas companhias de seguro quando encontramos: (1) Negócios que conseguimos entender (2) Com perspectivas favoráveis de longo-prazo, (3) Operados por pessoas honestas e competentes, (4) Vendidos a preços atrativos. Normalmente podemos identificar um pequeno número de investimentos que atendam aos requisitos (1), (2) e (3), mas o (4) normalmente impede que tomemos qualquer atitude. Por exemplo, em 1971 nossa posição total em ações nas companhias subsidiária de seguros da Berkshire era de somente $10,7 milhões a preço de custo, e $11,7 milhões a preço de mercado. Existiam companhias que classificamos como excelentes – mas, muito poucas a preços interessantes." (uma nota de rodapé irresistível: em 1971 os administradores de fundos de pensão investiram o valor recorde de 122% dos fundos disponíveis em ações – a preços cheios não seria possível comprar o suficiente, Em 1974, depois da bolsa chegar a seu valor mínimo, eles possuíam apenas 22%)
"Os últimos anos foram uma história completamente diferente para nós. No final de 1975 nossas subsidiárias de seguros mantinham ações a valores exatamente iguais ao custo de $39,3 milhões. No final de 1978 essa posição de ações foi aumentada  para um preço de custo de $129,1 milhões e um valor de mercado de $216,5 milhões. Durante os três anos que se seguiram nós realizamos ganhos de capital, incluindo impostos de aproximadamente $24,7 milhões, embora, nossos ganhos não realizados neste período de três anos tenha sido de aproximadamente $112 milhões. Durante esse mesmo período o Índice Dow-Jones caiu de 852 para 804. Foi um período maravilhoso para os compradores de ações orientados para o Valor."
É claro que o resultado de investimento sem paralelos de Buffett durante tantos anos é fruto da compra de negócios de alta qualidade a preços atrativos. Se ele não conseguir encontrar ambas as características, esperará pacientemente do lado de fora. É exatamente o que está acontecendo hoje. Desde 1971, ele tem ganho com larga margem do mercado, recusando-se a pagar o que ele considera preços exorbitantes por ações. Somente o tempo poderá dizer quem está certo, mas eu mantenho meu dinheiro com a filosofia do Investimento em Valor como Buffett.




  






3 comentários:

  1. Olá investimentovalor, gosto muito de seu blog e estou sempre revisitando para ver as matérias novas. Também sou um investidor em valor. No caso dessa matéria minha atitude é diferente da sua. Quando tenho ações de uma empresa que comprei barato, e agora considero super-avaliadas eu as vendo e invisto em renda fixa (que venho conseguindo 5%-6% líquido acima do IPCA há muitos anos) ou em outras empresas (se na época tiver outras empresas que considero boas e descontadas). Depois se o preço das ações baixar a um patamar que eu considere barato, eu recompro novamente. Como estou sempre querendo aprender, gostaria de saber os motivos de manter essas ações super-avaliadas em carteira. Grato.

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  2. Isto depende do tipo de investimento. Tem ações que valem a pena manter em carteira, desde que tenham uma taxa de crescimento alta, até esta taxa de crescimento ficar acanhada. Se a a ação não for de crescimento, e sim de dividendos, tem que ver se o DY dela é alto o suficiente para valer a pena manter ela em carteira. Este é o caso dos FIIs que pagam exatamente os aluguéis.

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  3. "embora não me sinta confortável com suas avaliações, certamente não estou comprando mais das mesmas, mas estou determinado a me manter firme a minha posição de investidor"

    Ao meu ver não existe diferença alguma entre manter o papel e comprar o papel, o dinheiro é o mesmo.

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