"O
mercado, como o Senhor, ajuda aqueles que se ajudam. Mas, ao contrário do
Senhor, o mercado não perdoa aqueles que não sabem o que fazem. Pagar muito
caro por uma excelente companhia pode desfazer uma década de perspectivas
favoráveis de negócios” Warren Buffett.
Acredito
na filosofia básica de investimento de comprar ações de
companhias de qualidade mantendo-as para o longo-prazo,
e ignorando os sentimentos do mercado e da mídia. Mas, se eu tivesse que fazer
uma crítica seria exatamente que existe uma ênfase muito grande na qualidade. Eu concordo,
e tenho certeza que Buffett também concordaria, que a qualidade de um negócio é
mais importante do que seu preço hoje. Mas 100 vezes mais importante? A
experiência dos últimos anos provou que “pagar qualquer preço por um grande
negócio” é o caminho para um rendimento abaixo da média.
De 2002 a 2008 a Bovespa esteve num grande mercado de alta em que a avaliação pouco
importou. Para falar a verdade, acredito até que nos últimos anos quanto mais
os investidores focaram-se na avaliação, piores terão sido seus resultados. Mas
isso não foi verdadeiro no passado e, sinceramente, acredito que não seja
sustentável. Embora as leis econômicas da gravidade podem ter sido
temporariamente suspensas, não acredito que elas tenham sido alteradas
fundamentalmente.
Não
me levem a mal, eu creio piamente que a maneira com que a Internet (e outras
tecnologias), melhoraram nosso acesso ao capital, as melhores técnicas de
administração, etc..,e impactaram a economia positivamente e permanentemente.
Também não sou aquele tipo de “value investor” que acredita que qualquer coisa
sendo vendida acima de 20x seus lucros passados esteja superavaliada. Eu
simplesmente acredito na verdade universal que o valor de uma companhia (e
também, por decorrência, um pedaço da propriedade dessa companhia, que é uma
ação) vale não mais, não menos que o fluxo de caixa futuro que pode ser
retirado desse negócio, descontado de volta ao seu valor presente.
Acho difícil acreditar que esse tipo de pensamento esteja presente nos setores mais quentes do mercado hoje. As avaliações muito altas implicam num crescimento absurdo e numa lucratividade exagerada de várias companhias dentro de um mesmo setor. Isso é matematicamente impossível. É claro que algumas dessas companhias podem vir a ser as próximas Eztec, mas isso ocorrerá com muito poucas delas. Todas elas não podem alcançar 80% de market share! Acredito que os investidores desses setores devem se preparar para uma queda não porquê estão investindo em maus negócios, mas porquê avaliações extremas criam uma equação de risco-retorno muito pouco favorável. Acredito que a maioria deles não esteja investindo, mas apenas especulando.
Antes de você começar a me xingar, considere o seguinte: eu
possuo algumas dessas ações quentes. Mas eu comprei a um valor muito mais baixo
(ainda um pouco alto, para dizer a verdade) de “valuation”, quando acreditava
que seus fluxos de caixa futuros justificariam suas avaliações naquela época.
Hoje em dia, embora não me sinta confortável com suas avaliações, certamente
não estou comprando mais das mesmas, mas estou determinado a me manter firme a minha posição
de investidor de longo-prazo mantendo
esses papéis enquanto os negócios por trás deles continuarem a prosperar.
Se
pudéssemos prever o futuro com algum grau de precisão, a valuation seria fácil.
Mas como o futuro é imprevisível, a valuation se torna difícil e ambígua. A
valuation é muito menos introduzir números em uma planilha eletrônica e muito
mais atribuir pesos a fatores competitivos e estimar probabilidades. Não é arte
nem ciência - É um pouco de cada um.
A
falta de precisão existente na valuation faz com que várias pessoas sintam-se
desconfortáveis. Para lidar com esse desconforto várias pessoas se embrulham
num grande cobertor empregando uma análise de fluxo de caixa descontado
complexa. A minha visão sobre esse tipo de coisa é mais bem resumida por essa
citação da reunião anual de 1996 da Berkshire Hathaway:
Charlie
Munger (vice presidente da Berkshire Hathaway) disse, "Warren fala sobre
esses fluxos de caixa descontados. Eu nunca o vi fazendo um”.
"É
verdade" responde. "Se (o valor da companhia) não grita para você, é
porquê está muito perto”.
A
beleza da valuation, e dos investimentos em geral, é que, usando a famosa
analogia de Buffett, você não precisa ir em todas as bolas.
Você pode esperar o
tempo que achar necessário até sentir-se seguro que descobriu não só um negócio
de alta qualidade, mas também um negócio que esteja sendo vendido a um grande
desconto. Esse tipo de oportunidade é muito raro nos dias de hoje, então é
necessário ter muita paciência. Para me disciplinar, costumo usar o que chamo
de teste do “me-belisque-eu-devo–estar-sonhando”. Isso quer dizer que antes de
investir, eu devo dizer para mim mesmo, “Eu não acredito que sou tão sortudo de
ter encontrado uma companhia que o mercado tenha compreendido tão mal e precificado
suas ações tão baixo que sou capaz de comprá-las por este preço.”
Como andei citando Buffett nesse artigo algumas vezes, bem que poderia
concluir com uma das minha citações preferidas aos acionistas:
“Nós
confessamos que sentimos otimismo em relação aos nossos investimentos em
seguros. É claro que nosso entusiasmo por ações não é incondicional. Nas mesmas
circunstâncias, investimento em ações por intermédio de firmas de seguro faz muito
pouco sentido”.
"Nós
ficamos excitados em comprometer um grande percentual dos fundos de nossas
companhias de seguro quando encontramos: (1) Negócios que conseguimos entender
(2) Com perspectivas favoráveis de longo-prazo, (3) Operados por pessoas
honestas e competentes, (4) Vendidos a preços atrativos. Normalmente podemos
identificar um pequeno número de investimentos que atendam aos requisitos (1),
(2) e (3), mas o (4) normalmente impede que tomemos qualquer atitude. Por
exemplo, em 1971 nossa posição total em ações nas companhias subsidiária de
seguros da Berkshire era de somente $10,7 milhões a preço de custo, e $11,7
milhões a preço de mercado. Existiam companhias que classificamos como
excelentes – mas, muito poucas a preços interessantes." (uma nota de rodapé
irresistível: em 1971 os administradores de fundos de pensão investiram o valor
recorde de 122% dos fundos disponíveis em ações – a preços cheios não seria
possível comprar o suficiente, Em 1974, depois da bolsa chegar a seu valor
mínimo, eles possuíam apenas 22%)
"Os
últimos anos foram uma história completamente diferente para nós. No final de
1975 nossas subsidiárias de seguros mantinham ações a valores exatamente iguais
ao custo de $39,3 milhões. No final de 1978 essa posição de ações foi aumentada para um preço de custo de $129,1 milhões e um
valor de mercado de $216,5 milhões. Durante os três anos que se seguiram nós
realizamos ganhos de capital, incluindo impostos de aproximadamente $24,7
milhões, embora, nossos ganhos não realizados neste período de três anos tenha
sido de aproximadamente $112 milhões. Durante esse mesmo período o Índice Dow-Jones
caiu de 852 para 804. Foi um período maravilhoso para os compradores de ações
orientados para o Valor."
É
claro que o resultado de investimento sem paralelos de Buffett durante tantos
anos é fruto da compra de negócios de alta qualidade a preços atrativos. Se ele
não conseguir encontrar ambas as características, esperará pacientemente do
lado de fora. É exatamente o que está acontecendo hoje. Desde 1971, ele tem
ganho com larga margem do mercado, recusando-se a pagar o que ele considera
preços exorbitantes por ações. Somente o tempo poderá dizer quem
está certo, mas eu mantenho meu dinheiro com a filosofia do Investimento em Valor como Buffett.
Olá investimentovalor, gosto muito de seu blog e estou sempre revisitando para ver as matérias novas. Também sou um investidor em valor. No caso dessa matéria minha atitude é diferente da sua. Quando tenho ações de uma empresa que comprei barato, e agora considero super-avaliadas eu as vendo e invisto em renda fixa (que venho conseguindo 5%-6% líquido acima do IPCA há muitos anos) ou em outras empresas (se na época tiver outras empresas que considero boas e descontadas). Depois se o preço das ações baixar a um patamar que eu considere barato, eu recompro novamente. Como estou sempre querendo aprender, gostaria de saber os motivos de manter essas ações super-avaliadas em carteira. Grato.
ResponderExcluirIsto depende do tipo de investimento. Tem ações que valem a pena manter em carteira, desde que tenham uma taxa de crescimento alta, até esta taxa de crescimento ficar acanhada. Se a a ação não for de crescimento, e sim de dividendos, tem que ver se o DY dela é alto o suficiente para valer a pena manter ela em carteira. Este é o caso dos FIIs que pagam exatamente os aluguéis.
ResponderExcluir"embora não me sinta confortável com suas avaliações, certamente não estou comprando mais das mesmas, mas estou determinado a me manter firme a minha posição de investidor"
ResponderExcluirAo meu ver não existe diferença alguma entre manter o papel e comprar o papel, o dinheiro é o mesmo.