sexta-feira, 23 de maio de 2014

O MITO DO ÍNDICE PREÇO/LUCRO (P/L)












Seria possível prever para onde vai o mercado olhando para o valor médio do índice P/L? Alguns investidores pensam que sim ou, pelo menos, que faríamos uma boa coisa se comprássemos quando o índice estivesse baixo e vendêssemos quando o índice estivesse alto. Minha experiência diz exatamente o contrário. O nível do índice P/L não tem qualquer serventia para o Tempo de Mercado ( Hora certa de comprar ).





Mas, por que acreditamos que somos capazes de prever o futuro olhando para índice P/L? Isso vem da forma como nós, seres humanos, lidamos com a natureza, justiça, valor e simplicidade. Nós acreditamos erradamente que as curvas de oferta e demanda das ações seguem as mesmas tendências das curvas de oferta e demanda do petróleo ou do milho. ("Compra-se mais de qualquer coisa quando estiver barata.") A verdade é que a demanda por ações possui uma relação justamente inversa ao preço: é quando as ações já estão altas (como estiveram em 1999) que as ordens entopem os Home Brokers.




Existe um grande componente emocional na crença de que quando compramos em mercados de P/L baixo obteríamos sucesso. Quando compramos ações “baratas” e somos recompensados com sucesso, nos sentimos espertos e merecedores do ganho de capital. Talvez os investidores tenham medo de mercados com altos P/L instintivamente. O cara da corretora ao lado que continua comprando em um mercado em alta parece um jogador e não merecedor de ganhos. Mas esse medo das alturas não deve reger sua habilidade de manter ações.

A Tese de que as ações deveriam ser vendidas quando os seus P/Ls atingirem valores altos possuem dois problemas. Primeiro que os dados históricos não suportam a tese e segundo que isso vai de encontro à teoria de finanças.

Num artigo da primavera de 2010 para o Jornal Wall Street Post, Warren Buffett mostrou estatisticamente que não existe qualquer relação entre o P/L do Mercado e seu retorno subseqüente. Isso é verdade não importa como você meça o índice (por exemplo, acima de um número aleatório, como 20, ou dentro dos maiores 20% históricos) e não importa também por quanto tempo você mede os retornos (ex: mais do que cinco anos). Essa conclusão é baseada em 125 anos de dados. Toda vez que os mercados vão bem ou mal em relação ao índice P/L existem números semelhantes de magnitudes parecidas de ocasiões em que eles fizeram justamente o inverso. P/Ls baixos levam da mesma maneira tanto a resultados ruins como bons.




Existem mais pesquisas sobre a irrelevância entre P/Ls médios e as oportunidades de compra. Empregue o P/L de referência que você quiser. Compre abaixo de 20 e venda acima de 8, ou compre abaixo de 8 e venda acima de 8, o que você preferir - Você não encontrará qualquer estratégia que funcione - De uma forma geral, você acabará com um retorno pior do que conseguiria se comprasse e segurasse. Por quê? Porquê você estará fora do mercado em períodos cruciais, e não conseguirá se livrar de todas as correções. Com um valor P/L de corte de 25, por exemplo, você estaria fora do Mercado em 1922 (quando o mercado subiu 28%) e comprado em todas as quedas que houveram nos quatro anos subseqüentes. Uma análise dos retornos da Bolsa da Inglaterra, feitas por Damodaran em seu livro "Filosofias de Investimentos" em outro mercado aonde dados históricos são bem antigos, indicam o mesmo resultado: Gatilhos de P/L não funcionam.

A teoria de finanças também vai de encontro a estratégia de permitir que o nível P/L do Mercado dite suas preferências por ações ao invés da renda fixa. As ações competem com a renda fixa por oferecerem um “prêmio de risco” Se esse prêmio fosse fixo você poderia exigir um Yeld de lucros específico. Inverta o Yeld de lucros, ou L/P, e você encontraria um P/L alvo. De posse desse P/L você poderia dizer que determinadas ações estariam baratas se estivessem abaixo dele e caras se estivessem acima. O problema é que o prêmio de risco não é regido por fórmulas matemáticas, mas por preferências emocionais variáveis que vão a favor ou contra lucros incertos (mas com oportunidades potenciais) em comparação aos fluxos mais certos da renda fixa. Em suma, o humor dos investidores joga estratégias simples em relação ao índice P/L pela janela.













4 comentários:

  1. Olá IV,

    Parabéns pelos posts, o considero detentor de uns dos blogs de mais alta qualidade de informação da blogosfera.

    Estou sempre acompanhando.

    Abração!

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  2. Interessante post - IV.

    Eu também procuro não olhar muito para P/L - sei que isso é contrário a maioria dos meus colegas, mas essa é minha estratégia. Como não tenho tempo para acompanhar o mercado diariamente, não tenho conhecimentos profundos em contabilidade ou finanças corporativas ... o que procuro fazer é comprar ações de empresas boas com o intuito de me tornar sócio, monitorar essas empresas em uma base trimestral/anual e enquanto elas continuarem dando lucros, eu continuarei sócio !!!

    Neste momento, estou tentando simplificar a minha estratégia. Acho que o importante é focar no acumulo de patrimônio, pelo menos neste estágio inicial. E claro, sempre continuar estudando e aprendendo !!!

    Um grande abraço.

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  3. Olá, colega!
    Tem o link das pesquisas? Todas pesquisas que li apontam justamente o contrário.
    Sempre que o mercado, como um todo, se deslocou muito de 20 (falo do S&P500), inflou-se bolhas.
    Não entendi também onde as finanças seriam contrárias. Li o parágrafo, mas não consegui compreender.
    O Equity premium é algo bem documentado por muitos dados em muitos países. Se isso diminui ou aumenta em períodos curtos de prazo, ele costuma se manter estável em períodos longos de tempo. Aliás, o mercado baseado em emoções e expectativas de investidores coaduna mais com curto prazo, não com longo prazo, pois como já dizia Grahan o mercado é uma máquina de votação no curto prazo, e de pesar no longo prazo. O que o mercado pesa é lucros, e se os lucros não vierem em empresas com grande expectativa (P/L altos), a decepção é bem provável.
    Entretanto, claro que o P/L, é um entre vários fundamentos a ser observados.

    Abraço!

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  4. A pesquisa não tem link, foi retirada do livro "Filosofias de Investimento de Aswath Damodaran" da Editora Qualitymark LTDA.

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