sábado, 24 de maio de 2014

SETOR BANCÁRIO














Embora existam mais de 20 ações de bancos no Brasil, muitos investidores fogem do setor. Os demonstrativos financeiros são esquisitos e os resultados normalmente não se enquadram nos filtros e fórmulas que muitos investidores gostam de usar. É uma pena porquê como Warren Buffett mostrou no passado, as ações bem escolhidas de bancos podem ser tão lucrativas quanto as industriais, de saúde, ou de tecnologia.




O Básico

Vamos começar examinando rapidamente o que um banco faz. De uma forma simplista os bancos estão no negócio de comprar e vender dinheiro. Os bancos compram dinheiro através de depósitos em conta corrente e poupanças; CDBs, financiamentos imobiliários, ou tudo isso junto. Bancos vendem dinheiro através de empréstimos, investimento em títulos, ou ambos. Comprando barato e vendendo caro. Criação de valor ao seu melhor estilo.




A maioria dos bancos, para não dizer todos, fazem dinheiro também por intermédio de uma constelação de tarifas e taxas de serviços. Alguns chegam a vender suas dívidas no curto-prazo logo depois de serem adquiridas. Outros bancos conseguem outras fontes de renda, tais como a administração de recursos e seguros.




As taxas de juros são muito importantes para os bancos porquê elas determinam essencialmente por qual valor o dinheiro será comprado e vendido. Mas não seria inteligente fazer declarações genéricas como “taxas de juros subindo/caindo é ruim” bons gerentes de banco não são bobos nem pouco solícitos e podem se ajustar muito bem a diferentes cenários.




De uma forma geral, o fator mais importante é como as taxas de juros se comportam em relação as expectativas dos administradores do banco. Se os gerentes do banco estão se preparando para taxas altas e essas taxas não se materializam, é provável que o negócio não termine tão bem como se imaginava (e vice-versa para taxas caindo). Infelizmente, não existe uma formula padrão para conhecermos facilmente as expectativas da administração. Vale a pena prestar atenção aos números trimestrais e anuais da CVM e os comentários da administração durante os conference calls.



  
Crescimento

Existem várias partes móveis num banco. Eles não possuem vendas na acepção da palavra, mas você pode olhar na combinação das Receita de Intermediação Financeira (menos as previsões para perdas) e Receitas não financeiras como aproximações. Você vai querer ver esses números indo para cima claramente.




Depósitos e crescimento de empréstimos também são importantes. Se o crescimento de depósitos for fraco, o banco terá que encontrar uma outra fonte de recursos mais cara. Da mesma forma, se a taxa de crescimento de empréstimos for pequena, será mais difícil para o banco ganhar um spread considerável em cima do dinheiro que controla.






Não podemos deixar de olhar para o crescimento de lucros - Um crescimento dessa linha inferior do demonstrativo é tão importante para um banco quanto para qualquer outra companhia. Então, mesmo com todos os conceitos confusos que descreveremos, não se esqueça que o lucro e o lucro por ação continuam importantes.





Lucratividade

Como em qualquer negócio, a lucratividade é o parâmetro para o sucesso de um banco. Uma forte lucratividade pode ser a diferença entre uma ação mediana e uma ação acima da média.

Margem líquida de intermediação financeira (Net interest margin) é uma boa base para a medida da lucratividade de empréstimos e financiamentos, o core business de um Banco.  A Margem líquida de intermediação financeira é basicamente a razão entre a Receita de intermediação financeira (empréstimos, papéis, etc.) e os depósitos a vista (depósitos, fundos emprestados, etc.). De uma forma geral, você pode pensar nela como se fosse a margem bruta do banco. (NT- no Economática (Dep Vista / Rec Op Fin (%) = Depósitos a Vista  / Receita da Intermediação Financeira).




Quando for analisar a Margem líquida de intermediação financeira, sugiro que você compare bancos similares que usem estratégias similares. Dentro dos bancos com linhas similares de negócio, margens altas podem significar sinais de grande administração. Mas podem também ser sinais de políticas mais arriscadas de crédito. Margens menores podem sugerir problemas no lado dos depósitos ou um custo de recursos maior, ou podem significar práticas de crédito mais conservadoras. Quando se comparam números o contexto é muito importante. 




O Índice de eficiência (efficiency ratio) é outra métrica importante. Existem formas diferentes para calcular esse número, mas a sistemática é a mesma: ele é empregado para medir a razão entre as despesas que não incidem juros e o lucro. O ideal é que esse número seja o menor possível - quanto menor for esse número, menos se estará gastando com coisas como marketing, salários, custos das agências, e melhores serão os lucros. 




Ativos 

A estrutura de capital do Banco, qualidade de ativos, e liquidez são importantes. Os bancos empregam bastante alavancagem para aumentar seu poder lucrativo. Para impedir que os bancos extrapolem e corram riscos de solvência, os reguladores impõem limites.




Para ficar “bem capitalizado”, um banco deve possuir um índice, expresso como percentual do capital submetido à risco em relação aos ativos de 10% (baseado no risco se refere a certos ajustes necessários para espelhar que determinados ativos - por exemplo, Caixa e Títulos do Governo são menos arriscados do que outros). Da mesma forma, os acionistas devem olhar para o índice de Patrimônio Líquido sobre Ativos para ter uma noção se a companhia está aumentando ou diminuindo sua alavancagem.




A qualidade dos ativos é importante porquê se as pessoas não pagarem suas dívidas, o banco em questão irá enfrentar alguns problemas. Alguns números para se olhar incluem o o percentual de perdas de empréstimos em relação ao total de empréstimos, e o percentual de falta de pagamento em relação ao total de empréstimos. Veja suas tendências para saber se a qualidade dos ativos está se deteriorando.





Liquidez é também importante no mundo dos bancos e mostra basicamente com que facilidade um banco poderá oferecer um empréstimo. Se um banco for bastante líquido e tiver bastante dinheiro nas mãos, poderá responder muito mais rapidamente a novas oportunidades. É claro que existe um custo de oportunidade em se manter dinheiro parado- você poderá estar perdendo aquilo que ganharia se o dinheiro estivesse emprestado. Logo, se um banco estiver muito líquido, ele está colocando dinheiro debaixo do colchão. Existem duas maneiras rápidas de se verificar a liquidez – o percentual dos ativos mantidos em dinheiro e títulos do governo, e o índice empréstimos/depósitos. O ideal seria que esse último índice se mantivessem em 100% para todos os bancos bem capitalizados.




Performance 

Com todos os parâmetros iguais, normalmente seria uma boa idéia investir com os caras que provaram fazer mais dinheiro em cima de uma determinada quantidade de capital. Uma forma de julgarmos isso é olhando para o Retorno sobre Ativos e para o Retorno sobre o Patrimônio Líquido. No geral essas métricas capturam o resultado final das decisões da administração sobre liquidez, alavancagem, qualidade de crédito e outras opções operacionais.




Deve-se atentar quando olhando para retornos sobre ativos que se esteja comparando bancos dentro com o mesmo modelo de negócios, Bancos que geram um monte de rendas não derivadas de juros, como o podem as vezes requerer menos ativos na base de dinheiro-sobre-dinheiro do que a os bancos mais focados em fornecer crédito. Devemos estar atentos, pois esse tipo de comparação pode induzir a conclusões erradas.

Retorno sobre o patrimônio líquido é também muito útil para mim. Gosto de poder dividi-lo em margem líquida, giro de ativo e alavancagem financeira para poder estudar como, e por quê um determinado banco é melhor do que outro. Além do que, descobri que bancos cuja administração tenha produzido Retornos sobre o Patrimônio Líquido consistentemente acima da média conseguem normalmente uma performance na Bolsa também acima da media.




Conheça o negócio

Não existem criaturas no Mercado chamadas “Bancos Padrão” — cada um deles possui suas próprias nuances e fatores de risco. Pegue, por exemplo, o Daycoval. Embora apresente bons números, e tenha uma boa performance, existe uma bomba de retardo em como a companhia conduz suas operações de hipoteca. Se você olhasse cegamente para os números e não se debruçasse sobre os relatórios, poderia ser facilmente enganado pensando que o banco fosse mais seguro do que realmente é.




Conhecer o negócio é também importante quando se comparam bancos. Comparar um centro financeiro como o Itaú com um banco regional como o Banese não faz qualquer sentido. Logo, quanto mais você conhecer sobre o negócio, melhor você entenderá o que os números realmente estão querendo dizer.




Não adianta pensar demais

Foi dado esse pequeno tratamento sobre a análise de ações de bancos para auxiliar vocês com as avaliações de suas ações. Mas, como sempre, os números contam apenas uma parte da historia, sendo importante realizar sua própria diligência para entender realmente as políticas, estratégias e expectativas da companhia em questão, antes de comprar qualquer pedacinho dela.





É fato que o setor bancário possua alguns índices e métricas pouco usuais para a medição de performance, mas não fique assombrado com detalhes. Depois de dito tudo isso, os padrões de sucesso por trás de uma ação de banco têm pouca diferença da maioria das outras companhias: um padrão de crescimento de lucros consistentes, dividendos, ativos, habilidades, liderança honesta e expectativa de crescimentos maiores no futuro.




Indicadores de Rentabilidade de Bancos.  Fonte Economática: LINK
Pay Out (%) = Dividendos propostos no Doar / Lucro Líquido
Giro do Ativo (x) = Receita da Intermediação Financeira  / Ativo Total
Giro do Pat.Líq (x) = Receita da Intermediação Financeira / Patrimônio Líquido
Margem Bruta (%) = Resultado Bruto da Intermediação Financeira / Receita da Intermediação Financeira
Margem Líq (%) = Lucro Líquido / Receita da Intermediação Financeira
Rentab. do Ativo (%) = Lucro Líquido / Ativo Total
Rentab. sobre o Patrim.  (%) = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido
Rentab. Pat. Líq. (L/P-L) (%) = Lucro Líquido / (Patrimônio Líquido - Lucro Líquido)
Giro Depósitos (x) = Depósitos Totais  / Receita da Intermediação Financeira
Dep. Vista / Rec. Op. Fin (%) = Depósitos a Vista  / Receita da Intermediação Financeira










Um comentário:

  1. Obrigado pelas informações!
    De fato muito úteis.
    Tenho uma pergunta.
    Analisando o site FUNDAMENTUS e olhando alguns bancos encontro o GIRO DOS ATIVOS como nulo ou zero, ou seja, não aparece valor algum. Consegue me informar o porque não aparece nenhum valor, sendo que calculando por certo daria um valor!

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