quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

RESISTA A TENTAÇÃO DAS DIVERSIFICAÇÕES




Diversificação. Examinemos o que quer dizer esta palavra, e como ela pode afetar os seus esforços para ficar rico. No sentido usado pela comunidade de investimentos, significa espalhar o dinheiro. Esticá-lo ao máximo.   Colocá-lo numa porção de pequenas especulações, em vez de em umas poucas e grandes.  

 
Segurança: esta é a idéia por trás da atitude. Seis dos seus investimentos dando em nada, talvez outros seis dêem em alguma coisa. Se a U-Lá-Lá Eletrônica falir e sua ação cair para 3 centavos, é possível que a sua especulação com a Oba-Oba Computadores resulte melhor. E se tudo desabar, ao menos os seus títulos federais talvez se valorizem, mantendo-a à tona.  A idéia é esta. Na ladainha dos aconselhamentos convencionais de investimentos, “uma carreira diversificada” está entre os objetivos mais procurados e reverenciados. Só uma coisa é melhor: uma carteira diversificada só de investimentos padrão. Se é isto que você tem então está com tudo!  É o que eles gostam de dizer. O fato é que a diversificação, ao reduzir os riscos, reduz também, na mesma medida, qualquer esperança que você possa ter de ficar rico.
 


A maioria de nós, aventureiros de classe média, começamos as nossas proezas especulativas com um capital limitado. Digamos que você dispõe de 5.000 reais, e quer que o seu bolso cresça. O que vai fazer com seu dinheiro? A sabedoria convencional manda diversificar. Fazer dez apostas de 500 reais cada. Seriam, por exemplo, 500 dólares de PETRO, já que a indústria petrolífera parece numa boa fase; 500 no dólar, para o caso de as taxas subirem; 500 em ouro, para cobrir a possibilidade de tudo o mais dar errado, e assim por diante. Pronto: todas as eventualidades estão cobertas. Dá um quentinho na barriga, não dá? Você está protegido de praticamente todos os perigos - inclusive do perigo de enriquecer. A diversificação tem três grandes defeitos:

1. Obriga-o a violar o preceito de que se devem sempre fazer apostas que valham a pena. Se o seu capital inicial todo já não é grande coisa, diversificá-lo só piora. Quanto mais se diversifica, menores se tornam as especulações. Levada a situação a extremos, você pode acabar com quantias que realmente não valem nada. Um grande ganho sobre um capital pequeno deixa-nos praticamente onde começamos: pobres. Digamos que Oba-Oba Computadores foi brilhante, e o preço da ação dobrou. Quanto você ganhou? Quinhentas pratas. Não é por aí que você vai atingir as alíquotas mais altas do imposto de renda.

2. Ao diversificar, você cria uma situação em que, provavelmente, ganhos e perdas acabam se cancelando e o deixando exatamente onde começou - no ponto zero. 

Você comprou dois papéis que, digamos, não eram exatamente investimentos padrão: Oba-Oba Computadores e U-Lá-Lá Eletrônica. Se as duas empresas fossem abençoadas, e viessem a disparar, pensou você, sua ações subiriam. Tudo bem, vamos dizer que tenha acertado os palpites. As empresas prosperaram e lhe proporcionaram um ganho de 200 reais em cada especulação de 500 reais.


Na hora em que você estava comprando U-Lá-Lá e Oba-Oba, porém, o seu conselheiro de investimentos, solenemente, alertou-o de que era melhor proteger-se de riscos, através da diversificação. Para o caso de mau tempo, costumava ele sentenciar, era bom ter um pouco de papéis conservadores e outro pouco de ouro.


Você, então, foi lá e comprou 500 reais em ouro e outros 500 num fundo que opera com títulos de 50 anos do Departamento de Estradas de Rodagem do seu estado natal. São títulos perfeitos, isentos de impostos, e nunca se deram mal. De repente, você está no meio de uma explosão na economia. Como há muita demanda de capital pelo comércio, e de crédito aos consumidores, os juros disparam, o que derruba o valor dos seus papéis com juros prefixados. Caíram em 100 reais. Quanto ao ouro, quem tem o metal amarelo está freneticamente vendendo, a fim de fazer dinheiro. Todo mundo quer aplicar em ações, que estão disparando, ou pôr o dinheiro nos novos tipos de contas bancárias, que pagam aqueles juros fenomenais. O valor escoa do seu ouro como se de um balde furado e, logo, o que você comprou por 500 reais está valendo 200. Muito bem, você ganhou 400 nas ações, e perdeu 400 nos títulos e no ouro. Qual é a graça?

3. Ao diversificar, você vira um artista de circo que tenta manter no ar uma porção de bolas ao mesmo tempo. Bolas demais. Se tiver somente umas poucas especulações em andamento e uma ou duas se derem mal, dá para adotar uma posição defensiva.  Mas se tem uma dúzia de bolas no ar e a metade delas começa a ir na direção errada, as suas chances de escapar incólume do dilema não são lá essas coisas.


Quanto maior o número de especulações em que você entra, mais tempo e estudos terá de dedicar-lhes. A confusão pode se generalizar. Quando as coisas começam a dar errado - o que é inevitável, como você sabe - e surge um problema atrás do outro, você pode acabar à beira do pânico. Geralmente, o que acontece numa situação dessas, especialmente com novatos no mercado, é que ficam paralisados. Como são pressionados a tomar decisões difíceis demais, depressa demais, acabam não fazendo coisa nenhuma. Conseguem apenas ficar estáticos, cheios de espanto, vendo o seu dinheirinho derreter diante dos seus olhos arregalados. 


Quando se pensa nesses três grandes defeitos da diversificação, colocando-os diante da sua única qualidade - a segurança -, diversificar já não nos parece algo tão bom assim.  Um pouco de diversificação, provavelmente, não fará mal. Três boas especulações, talvez quatro, até uma meia dúzia, se sua atração por tal quantidade for forte o bastante. Pessoalmente, não gosto de ter mais de quatro de uma só vez; a maior parte do tempo, especulo em três ou menos - às vezes numa coisa só. Uma quantidade maior me faz sentir desconfortável. Isto vai muito da preferência pessoal, e da maneira de pensar de cada um. Se achar que pode operar eficazmente com um número maior, tudo bem. Mas não diversifique só por diversificar. Você se torna um concorrentezinho num concurso de supermercado, no qual o objetivo é encher o cesto o mais rápido possível. Acaba indo para casa com um monte de porcarias caras que nem queria. Ao especular, você deve pôr o seu dinheiro em alternativas que realmente o atraiam, e em mais nenhuma. Jamais compre alguma coisa só porque precisa arredondar “uma carteira diversificada”.


Como dizem alguns, em Wall Street: “Ponha todos os seus ovos no mesmo cesto, e tome conta do cesto.” Este é o único clichê financeiro que resiste a análise. O primeiro que o disse não era certamente dado a diversificações. É muito mais fácil tomar conta de um, ou de uns poucos cestos, do que uma dúzia deles. Quando a raposa aparecer querendo roubar os ovos, você poderá cuidar dela sem ter de ficar correndo em círculos.






3 comentários:

  1. Ok, linda sua história, mas estás partindo da premissa que essa sua única cesta terá exito. E se ocorrer o contrário, perderás tudo o que foi investido apenas por estar almejando um passo muito maior do que o que realmente pode dar.

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  2. O texto não está falando em colocar seu investimento em apenas uma ação. Ele sugere uma diversificação, mas em poucos ativos. E é contra a super diversificação ( Exemplo 70 ativos ). De 7 a 12 é o ideal.

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  3. E aquela tese de 50% em ações e 505 em renda fixa, procede?

    senão me engano essa tese é de Beijamin Graham

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