(Autor do Texto: Angus Scott-Brown)
Uma vez que os administradores da carteira “Rule
Shaker” decidiram revelar nossos critérios, meus pensamentos se voltaram
para um dos livros clássicos de investimento: Common Stocks and
Uncommon Profits
de Philip Fisher. Escrito originalmente em
1958, esse livro tem sido considerado por muitos investidores como a bíblia de
investimentos, incluindo aí pelo menos um dos administradores da nossa carteira
“Rule Maker” americana. A chave para a compreensão do livro encontra-se em 15
pontos. Eu acho que seria bem interessante se fizéssemos uma explanação desses
pontos para verificarmos em que eles podem nos ajudar.
Ponto um: A companhia
possui produtos e serviços com potencial de mercado suficiente para um bom
crescimento de vendas, pelo menos nos próximos anos?
Esse ponto é válido tanto para companhias pequenas,
como para companhias de alto crescimento e as gigantes da indústria. Quando a
nossa carteira “Qualiport” anunciou que estava vendendo a
Unilever (LSE: ULVR), parte da razão era porquê os
administradores estavam insatisfeitos com a habilidade da companhia em fazer
crescer vendas ano-a-ano durante as próximas duas décadas. Vendas crescentes
são a engrenagem motora de qualquer negócio - ninguém consegue crescer sem que
as vendas aumentem. Mas Fisher acredita que não são os crescimentos trimestrais
ou anuais que interessam. O que ele está procurando são décadas de crescimento
ainda por vir. (o mesmo que as carteiras “Rule Shaker” e “Qualiport” buscam).
As companhias que conseguem obter lucros uma-vez-na-vida pelo corte de custos
têm pouca chance de se tornarem as grandes vencedoras no longo-prazo.
As companhias que conseguem ganhos no curto-prazo
também não são as nossas preferidas. Vamos voltar ao tempo em que os
vídeos-cassete eram novidade. Houve um curto período em que a sua fabricação e
vendas foram extremamente promissoras. Mas, infelizmente apenas para aqueles
fabricantes que começaram na frente. Duas coisas ocorreram: primeiro a venda de
vídeos-cassete se alastrou rapidamente e, logo depois, ficou saturada
resultando numa queda no crescimento. Segundo que, o grande número de
fabricantes no mercado e a concorrência de preços, fizeram com que o lucro por
unidade vendida caísse. Assim, aqueles que atiraram primeiro alcançaram
melhores resultados, e aqueles que vieram depois se saíram bem pior. Isso não
seria bom para uma “Rule Shaker”. Nós queremos companhias que consigam
manter o crescimento no longo-prazo.
Fisher classificou essas companhias em dois grupos. Primeiro aquelas que são capazes e tem sorte. Essas são companhias administradas por diretores perspicazes e que têm um bom planejamento de longo-prazo. Além de conduzirem bem o negócio, tiveram a sorte de ver um crescimento no seu nicho de mercado mais rápido do que era esperado. Um exemplo foi a Nokia (NYSE: NOK). Como a companhia se especializou na indústria de telecomunicações, seria razoável que esperássemos que ela conseguisse um bom crescimento. Mas, alguns anos atrás, muitos teriam dito que o crescimento que se deu na indústria de telefones celulares não passaria de mera ilusão.
A outra categoria engloba as companhias que tem sorte por serem capazes. Elas constroem sua própria sorte, (lembre-se da famosa frase de Gary Player: “quanto mais eu treino, mais eu tenho sorte”). Essas companhias são aquelas que venceram porquê se mantiveram firmes aos seus planos. Se você voltar à época da criação da Glaxo veria que eles sabiam muito bem qual era o plano e o que podiam esperar dele. Eles provavelmente teriam explicado a você que estavam experimentando diversos tipos de componentes químicos, e que apenas uma fração muito pequena deles funcionariam e poderiam vir a se tornar realmente efetivos, e desses, uma parcela ainda menor viria a se transformar num verdadeiro sucesso de vendas. O comprometimento da firma com o plano de negócios trouxe recompensas.
Ponto dois: A administração tem a determinação de continuar a
desenvolver produtos ou processos que irão aumentar as vendas quando o
potencial de crescimento do produto atual tiver se esgotado?
É de ar água na boca. Mas, será que a companhia
está sentada nos louros da vitória ou continua a buscar por novas formas de
crescimento? Qualquer produto possui uma fase de crescimento. Se você quer ver
crescimento contínuo, deve estar inovando constantemente. Acredite se quiser,
mas até mesmo a Coca-Cola (NYSE: KO) fabrica novos refrigerantes.
A chave para o sucesso no longo-prazo de qualquer companhia está no setor de
pesquisa e desenvolvimento (P&D), e uma das melhores formas de fazer isso é
aumentar a base de conhecimento da empresa. Peter Lynch criou o termo
“diworsification”, para classificar aquelas companhias que tentam crescer em
áreas não relacionadas com a sua área de conhecimento, tanto por aquisições
como por pesquisas. Concentrando sua P&D nos seus pontos fortes, você
estará mais bem preparado para evitar armadilhas no futuro do que entrando em
uma área totalmente nova. O comprometimento com a P&D, e a perseverança em
se manter fiel a sua área de conhecimentos, é provavelmente uma das melhores
formas de se obter bons resultados no longo-prazo.
Ponto três: Qual é o esforço da companhia em pesquisa e desenvolvimento, em relação ao seu tamanho?
É possível fazer uma avaliação rápida do
investimento em P&D pelo balanço patrimonial, mas é importante lembrar-se
que o gasto com P&D lá descrito é uma medida bruta. O que uma companhia
pode considerar como customizar o produto para um cliente a outra pode
considerar gasto com P&D, alegando a criação de um produto diferenciado.
Nós precisamos saber o que é realmente P&D, e depois verificarmos quanto a
P&D está conseguindo trazer de retorno. Isso será conseqüência direta da
qualidade dos pesquisadores e da efetividade com que a administração consegue
molda-los e conduzi-los. A administração deve assegurar-se, acima de tudo, que
a equipe de P&D está desenvolvendo produtos que tenham custos de produção
competitivos e que sejam tecnicamente atrativos para os clientes potenciais.
Quanto suporte de longo-prazo é dado a P&D? Interromper projetos podem melhorar os resultados no curto-prazo, mas comprometer pesquisas de longo-prazo, causar insegurança entre os pesquisadores que podem afetar os resultados com o passar dos anos, não. Cortes de curto-prazo podem ocasionar a interrupção de pesquisa de longo-prazo se nenhum resultado for obtido rapidamente.
E, finalmente, quanto é gasto em pesquisa de mercado, parte sempre relegada ao segundo plano na P&D? Se não pesquisarmos bem o nosso mercado potencial poderemos acabar gastando fortunas pesquisando e desenvolvendo coisas que ninguém vai usar.
Ponto quatro: A companhia tem
uma estrutura de vendas acima da média?
Pelo que eu saiba, esse é o
único dos 15 pontos que fala sobre marca. Considera-se que vendas e marketing
são as partes mais importantes do negócio (embora eu possa estar sendo um pouco
tendencioso, já que sou vendedor). É claro que, se não houver vendas, o negócio
não conseguirá gerar dinheiro. Da mesma forma que vendas e marketing superiores
podem fazer com que um produto inferior domine o mercado. (converse com aqueles
que não gostam dos produtos da Microsoft (Nasdaq: MSFT)).
Segundo Fisher, o primeiro
parâmetro de sucesso de uma firma é a reincidência de vendas para satisfazer
clientes. Vendas recorrentes são o aspecto chave para a estratégia do Rule Maker americano que
abrange ainda vários outros critérios relativos a marca. Quanto mais conhecida
for uma marca, mais disponíveis ficarem seus produtos, mais freqüentemente as
pessoas voltarem para comprar e mais leais forem ao fabricante, melhores terão
sido os resultados do departamento de vendas e marketing.
O tempo e dinheiro que uma
firma aloca para melhorar sua capacidade de vendas, através de treinamento e
educação, podem ser indicadores do sucesso de vendas.
Ponto cinco: A companhia tem boa margem de lucro?
O que mais interessava a Fisher era a margem
operacional – quanto, em termos de dinheiro, uma companhia consegue fazer em
cima de suas operações, expresso em percentual de vendas.
Companhias com margens estreitas terão maior
tendência a apresentar variabilidade de resultados. Isto quer dizer que, quando
atravessando momentos difíceis, suas margens poderão cair mais do que as
companhias com margens superiores. Da mesma forma, em períodos prósperos suas
margens deverão crescer proporcionalmente mais, por estarem começando de
patamares mais baixos. Uma oscilação de margens como essas (que podem não
resistir muito em períodos mais difíceis) não contribuem para uma história de
sucesso no longo-prazo. Em termos de investimento, Fisher acreditava que as
melhores oportunidades nunca vinham de companhias com pequenas margens.
Olhando o histórico de companhias maiores e mais
antigas, os melhores investimentos vieram daquelas com margens grandes que
serviam como proteção contra os altos e baixos do curto-prazo.
Ponto seis: O que a companhia tem feito para manter ou melhorar sua margem de lucros?
Existe um velho ditado:
“compre no boato e venda no fato”. As pessoas estão muito mais interessadas em
companhias que elas acreditem que se sairão melhor no futuro, principalmente se
perceberem que elas passam desapercebidas pelo investidor mediano. Quando a
informação cai no domínio público é considerada menos valiosa. Isso reforça
a idéia que o futuro intangível de uma companhia é muito mais valioso que o seu
passado concreto. Ninguém consegue ficar mais rico em cima de lucros
passados. São as margens futuras que contam. Nós não poderemos garantir quais
serão elas, mas podemos verificar quais companhias estão trabalhando no sentido
de aumenta-las.
As margens de lucro estarão sempre pressionadas. Custos trabalhistas, taxas, matérias-primas, todos os gastos de uma companhia tendem a crescer com o tempo. Existem duas formas de lidar com o problema de forma a aumentar ou preservar as margens. Primeiro pode-se aumentar os preços, uma opção viável para companhias que possuam forte demanda ou fraca concorrência. Infelizmente, essa é uma solução de curto-prazo que não conseguirá ser mantida por muito tempo. Quando outras companhias virem o aumento de lucros provenientes do aumento de preços, tenderão a aumentar também a produção. Isso acaba com a vantagem. A presença de uma concorrência extra reduz a possibilidade de se aumentar os preços para cobrir futuros aumentos de custos.
Muito melhor seria se a
companhia conseguisse adotar uma política de aperfeiçoamento continuo da sua
efetividade. Uma solução apenas não resiste por muitos anos, porquê no ano
seguinte existirão novos problemas diferentes. Sucessos de curto-prazo poderão
nos distrair e permitir com que pressões de longo-prazo passem desapercebidas.
Uma companhia de sucesso deve estar sempre aperfeiçoando a forma com que
executa suas tarefas, seja melhorando a produção pela implementação de novos
métodos, pela aquisição de novos equipamentos para reduzir custos, pelo
aperfeiçoamento da sua força de trabalho de maneira a se tornar mais efetiva
ou, simplesmente procurando alternativas mais baratas como, por exemplo,
métodos de transporte mais em conta.
Ponto sete: A companhia tem uma excelente política de relacionamento pessoal e trabalhista?
Quando a maioria das pessoas
pensa em relações trabalhistas as primeiras palavras que vem a cabeça são greve
e sindicato. A única forma de enfraquecermos essa associação é através de boas relações
trabalhistas. Uma greve indica que as relações se quebraram. Se toda diretoria
é composta por membros do sindicato, existem boas chances disso ter acontecido
porquê no passado os trabalhadores possuíam pouca esperança de serem tratados
com justiça, e que as negociações com a diretoria se faziam necessárias. A
ausência de greves não significa que as relações sejam maravilhosas também. Ao
invés disso, elas podem não ter acontecido devido a uma administração fraca com
receio das conseqüências de um conflito.
Uma alta rotatividade de diretores pode ser um bom indicador de más relações de trabalho. Se gerentes e trabalhadores estão satisfeitos uns com os outros, eles conseguem trabalhar juntos para aumentar a produtividade da firma e ninguém precisará ir embora. Por outro lado, trabalhadores infelizes, serão mais propensos a abandonar o barco, seguidos por um maior giro de executivos.
Se uma companhia está bem estabelecida, um baixo índice de participação do sindicato poderá indicar que a administração conseguiu lidar satisfatoriamente com seus problemas no passado. O inverso pode não ser verdadeiro. Uma sindicalização crescente não quer dizer necessariamente que existam problemas nas relações trabalhistas. Várias companhias de sucesso construíram bons relacionamentos em ambientes altamente sindicalizados.
Se possível, dê uma olhada no tamanho das filas de emprego. Será que a companhia na qual você está pensando em investir é uma empregadora popular? Ela é considerada uma das melhores firmas para se trabalhar? As vagas são preenchidas rapidamente? Os trabalhadores se demitiriam de uma concorrente próxima pela possibilidade de trabalhar lá? Os trabalhadores possuem favoritas entre as indústrias dos mais diversos setores, vale a pena sabermos quais são elas.
Salários também são importantes. Embora nós desejemos que nossas companhias mantenham suas margens de lucro altas através de um rígido controle de custos, os níveis de salários mais efetivos raramente são os mais baixos. Um salário justo e descente normalmente leva os trabalhadores a ficarem mais motivados e obterem maior eficiência para a empresa.
Ponto oito: A companhia tem uma excelente política
de executivos?
Nós vimos no ponto anterior
como é importante para uma companhia possuir trabalhadores felizes, mas é muito
importante que seus executivos também sejam felizes. Eles são as pessoas do
nível de decisão e cuja ambição e ingenuidade irão influir diretamente nos
destinos da companhia. Se as relações com executivos forem pobres duas coisas
podem acontecer. Primeiro a demissão, gerando a necessidade de substituição por
outras pessoas que necessitarão de tempo para aprender o novo trabalho. A
segunda é a acomodação, já que não conseguem condições para trabalhar
eficientemente. Algumas vezes pode ser importante trazer sangue novo de fora
para dentro, mas os executivos que trabalham na firma não devem achar que foram
colocados de lado e necessitam se sentir satisfeitos e recompensados pelas suas
realizações. A presença freqüente de “headhunters” na firma é um sinal de que
as coisas não estão indo muito bem.
Ponto nove: A companhia vai a fundo na sua administração?
Quando uma companhia está começando é possível que
ela consiga vencer pelas mãos de uma só pessoa. Mas quando ela vai crescendo
isso vai se tornando cada vez mais difícil. Mais detalhes necessitam ser
acompanhados, decisões necessitam ser tomadas, o que acaba sendo muita coisa
para uma pessoa. É por isso que a delegação para as pessoas certas é
importante. Todos os gerentes devem receber autoridade e responsabilidade pela
sua área sem interferências desnecessárias do CEO. Muitos empresários acham
difícil permitirem as coisas andarem dessa maneira, motivo pelo qual acabam
vendendo a companhia depois que o crescimento ultrapassou um certo ponto. É um
sacrifício, mas eles se sentem melhores assim do que conduzindo a administração
à distância.
É necessária flexibilidade. A maioria das companhias começa com um sócio fundador que tem a idéia de iniciar alguma coisa nova ou fazer algo diferente. Se as possibilidades de continuar seguindo esse caminho são limitadas, o resultado acaba sendo a estagnação. Quando olhamos para uma companhia, queremos ver uma administração vitoriosa e uma ampla cultura de delegação. Queremos ver também flexibilidade e a avaliação de novas idéias, não importa quanto elas divergem da forma como as coisas são feitas hoje em dia.
Ponto 10: A companhia tem uma boa análise de gastos e
controle de custos?
Embora o cabeça da organização não consiga
acompanhar cada detalhe da empresa, é importante que alguém de dentro faça
isso. Um dos pontos chaves para o aperfeiçoamento do negócio é a atenção aos
detalhes. Uma boa análise de custos irá mostrar aos administradores aonde é
necessário concentrar esforços para maximizar a eficiência das operações. Em
muitos casos, as fusões e aquisições acontecem para maximizar a eficiência do
negócio. Se uma companhia vende uma divisão, não quer dizer necessariamente que
ela seja ruim. Pode apenas significar que a companhia pode fazer melhor uso
daquele dinheiro em algum outro lugar. Sem um estudo acurado dos diversos
processos envolvidos em um negócio é difícil dizer aonde podem ser feitas
melhorias. As empresas podem acabar vendendo produtos que divergem do negócio
como um todo.
É muito difícil avaliar se um controle de custos está sendo feito da maneira correta. Como investidores apenas temos acesso a documentos públicos, que normalmente trazem poucos detalhes nessa área. Apenas quando alguma coisa vai muito mal é que temos uma visão melhor do quadro. Números apenas não são suficientes. Uma abundância de valores de gastos não é substituto para a precisão. Se os administradores estiverem baseando suas decisões em cima de dados errados, não tomarão as decisões corretas. A não ser que você conheça pessoalmente o departamento de contabilidade terá que assumir que o controle de custos se comporta da mesma maneira que você avalia toda a administração.
Ponto 11: Existem outros aspectos do negócio, peculiares ao seu ramo, que irão fornecer ao investidor pistas importantes sobre a excelência da companhia em relação a seus concorrentes?
Um critério muito vago - O que é importante para
indústria pode não ser para outra. A localização é importante? Para uma empresa
do varejo, pode ser vital, mas para uma manufatura pode não ser. Em alguns
casos, é uma coisa que pode ser calculada. Varejistas podem estar interessados
em minimizar os custos do ponto para aumentar as vendas, enquanto uma editora
pode estar mais interessada na quantidade de livros encalhados em relação às
vendas.
Uma coisa que fica clara para nós, do “Rule
Shaker”, é a força de uma patente. Patentes podem ser uma faca de dois gumes.
Por um lado protegem a firma do risco de serem copiadas pela concorrência. Uma
nova companhia necessita de tempo para crescer e precisa proteger-se contra a
violação da sua propriedade intelectual enquanto faz isso. Por outro lado, é
importante que uma companhia que possua uma proteção de patente não deite em
louros. Uma patente tem vida limitada e, se uma companhia depender tanto dessa
patente, acabará sendo ameaçada. Apos a patente expirar, a concorrência criará
uma guerra de preços. A pesquisa e desenvolvimento têm que trabalhar
continuamente para manter a liderança sobre a concorrência.
É claro que nenhum mercado é estático. Outras
companhias estarão sempre tentando encontrar uma forma melhor de fazer as
coisas. Quando os concorrentes encontram uma firma que possui a vantagem de um
produto patenteado, procuram por uma forma de alcançar um resultado semelhante
de outra maneira. As companhias que estão continuamente procurando por novas
possibilidades podem deixar a concorrência a ver navios.
Ponto 12: A companhia possuí uma visão de curto ou longo-prazo em relação aos lucros?
Por exemplo, vamos supor que uma empresa seja
proprietária de um processo e queira licencia-lo a outras companhias. Uma
possibilidade seria vender tudo de uma vez só, o que permitiria aos
consumidores utilizarem o processo pelo resto de suas vidas. O resultado seria
um grande lucro naquele ano, mas o que dizer do ano seguinte? Poderia não haver
mais nenhuma licença nova e o os lucros reduzir-se-iam a zero. Por outro lado,
vender uma licença renovável a um custo inicial mais baixo iria gerar um fluxo
de caixa constante no futuro.
Deve-se levar em consideração a flexibilidade
existente entre fornecedores e clientes. Se uma companhia exagerar nos lucros,
ela ou seus fornecedores poderão ficar fora do mercado. Por exemplo, a Coca-Cola (NYSE: KO) segurou as vendas por muito
tempo controlando o preço pelo qual as engarrafadoras poderiam vender seus
produtos aos clientes. Isso tirou delas a capacidade de reagir a mudanças nas
condições do mercado pela alteração de preços.
Ponto 13: No futuro, é provável que o
crescimento da companhia necessitará da emissão de mais ações para financiar
seu negócio, de maneira que o grande número de ações irá anular o benefício dos
acionistas que se anteciparam a esse crescimento?
Estamos falando aqui da capacidade financeira da
companhia desenvolver o seu negócio. O ideal seria que a companhia conseguisse
os recursos necessários para expandir o negócio dentro da própria empresa. Mas,
se estivermos lidando com uma companhia de crescimento rápido isso será
complicado porquê elas costumam expandir-se mais rápido que seus lucros
permitem. Se a companhia é vitoriosa, ela será capaz de pegar dinheiro
emprestado no mercado lastrado na sua força administrativa, produtos e previsão
de crescimento. Com o passar dos anos esse crescimento deverá gerar fundos o
suficiente não apenas para cobrir as dívidas, mas também para recompensar os
acionistas pelo período de lucros reduzidos durante a fase inicial de expansão.
Se a companhia não conseguir recursos necessários para financiar sua expansão dentro da própria empresa ou pela tomada de empréstimos, a solução será efetuar o financiamento do seu patrimônio. A companhia terá que emitir novas ações de forma a conseguir o dinheiro que necessita, diluindo a percentual de propriedade que os acionistas possuem sobre a companhia.
O financiamento de patrimônio pode ser uma coisa
boa para os acionistas existentes se o crescimento gerado por esse
financiamento conseguir superar a quantidades de novas ações emitidas. Por
exemplo, se os lucros crescerem 20%, então um acréscimo de 10% no número total
de ações pode ser aceitável. Mas, se for necessário dobrar o número de ações
existentes para se conseguir esse crescimento de 20%, então, certamente essa
não terá sido uma boa coisa para os antigos acionistas.
Ponto 14: A companhia fala abertamente a seus
acionistas, mas na hora eu alguma coisa da errada ela se cala?
É sabido que, quando as coisas vão bem para uma
companhia, as notas à imprensa correm frouxas, mas quando as coisas dão errado,
tirar alguma coisa da empresa pode ser mais difícil que arrancar leite de
pedra. É muito comum as pessoas ficarem orgulhosas quando as coisas dão certo,
mas assumir a responsabilidade por todas as coisas que acontecem dentro da empresa
é sinal de maturidade. Nada na vida dá sempre certo. "Espere o inesperado”
é um ditado maravilhoso, mas, por definição, impraticável. Você não pode
antecipar todas as eventualidades, mas o principal é não entrar em pânico. A
companhia que não mantém seus investidores atualizados é destinada a não
conseguir resolver seus próprios problemas. É necessário manter os erros da
companhia em segredo? Nós estamos procurando por empresas que irão superar os
problemas em seus negócios, e que desejem manter seus investidores o mais
atualizados possível sobre o seu progresso.
Ponto 15: A companhia possui uma
administração de integridade inquestionável?
Fisher, muito apropriadamente, elege esse ponto
como o mais importante dos 15. Quando você está investindo em uma companhia,
não está investindo apenas nos seus produtos e serviços, mas, também, na
habilidade da companhia fazer um bom uso do seu dinheiro. Os administradores
sabem exatamente o que está sendo feito com o dinheiro confiado a eles pelos
acionistas e têm uma grande flexibilidade para fazerem o que acharem melhor com
esse dinheiro. Esta responsabilidade não pode ser extrapolada. Não importa se o
potencial da empresa é gigantesco, se você não tem confiança na capacidade dela
de colocar o interesse dos acionistas em primeiro lugar, restam poucas dúvidas
de que o seu dinheiro deveria estar sendo investido em outro lugar.
Conclusão:
Chegamos ao fim. 15 pontos que você deveria considerar em seus investimentos. Poucos investidores seriam capazes de acompanhar todos eles, e muitas vezes alguns deles se provarão quase impossíveis de serem monitorados. O que podemos ganhar a partir desses pontos é a compreensão do tipo de coisa que as verdadeiras grandes companhias deveriam estar fazendo.
A Procura de um exemplo prático? Submeta sua
companhia favorita ao teste dos 15 pontos e veja quantos ela consegue
satisfazer. E sinta-se à vontade para nos dizer como ela se sai no nosso fórum
de discussão sobre os princípios das “Rule Shaker”.
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