sábado, 25 de janeiro de 2014

BUFFETT DEFINE UM INVESTIMENTO LUCRATIVO E SEGURO




O maior investidor da história explica por que prefere ativos produtivos - como empresas, fazendas ou imóveis - ao ouro ou papéis de renda fixa.





São Paulo – Em um raro artigo publicado na revista “Fortune”, o megainvestidor Warren Buffett explicou, de uma forma bastante detalhada, sua preferência histórica pela classe de ativos produtivos - como empresas, fazendas ou imóveis – em detrimento das outras duas categorias de investimento existentes.


Na definição de Buffett, há basicamente três categorias de investimento. A primeira inclui os papéis financeiros que possuem algum valor monetário. Um título público do governo brasileiro, por exemplo, tem um valor de face que serve de referência para sua troca por dinheiro. O mesmo vale para debêntures (títulos de dívida de empresas), papéis imobiliários, CDB de bancos e outros instrumentos financeiros de renda fixa.

Em geral, o mercado costuma enxergar essas opções de investimento como de baixo risco porque a volatilidade do valor de face costuma ser muito baixa ou até igual a zero. Para Buffett, entretanto, uma aplicação pode ter volatilidade zero e, ainda assim, representar um risco enorme.

Mesmo que um governo nunca pare de pagar principal e juros de um título público, explica Buffett, quem compra esse papel corre o sério risco de ter o poder de compra destruído ao longo dos anos – o que, na visão do bilionário, é sinônimo de péssimo investimento.

Em primeiro lugar, ele afirma que não é por que um título público paga 5% de juros que a pessoa estará necessariamente enriquecendo. De tempos em tempos, qualquer economia do mundo tem de enfrentar pressões inflacionárias. Se o aumento dos preços superar o percentual de juros pago por um título, esse investidor, na prática, perderá dinheiro.

Além da inflação, o investidor que quiser calcular da forma correta o ganho real obtido com um título financeiro de renda fixa também deverá descontar os impostos sobre os lucros. Buffett explica que nos últimos 47 anos, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos pagaram juros médios de 5,7% ao ano, o que parece satisfatório. Mas considerando a inflação média anual de 4,3% e a carga tributária de 25% dos ganhos para investidores pessoas físicas, o ganho real nesse período foi zero.

É por isso que ele não considera atrativos investimentos com base monetária neste momento – apesar de eles sempre aparecerem entre os preferidos em tempos de crise. O bilionário diz que quase só compra títulos americanos como forma de obter um pequeno rendimento enquanto decide o que fazer com os recursos no longo prazo. O dinheiro aplicado em um investimento líquido como os títulos pode ser resgatado a qualquer momento, sempre que surge uma oportunidade melhor.

Outra possibilidade é buscar títulos de renda fixa quando existe um potencial de ganho atípico, seja porque o mercado passa a desconfiar injustificadamente de determinado emissor ou porque os juros estão tão altos que gerarão um ganho interessante em valor de mercado quando as taxas voltarem a recuar.

Não é isso, entretanto, que pode ser observado neste momento. O banqueiro Shelby Cullom Davis dizia que os bônus costumam ser vendidos como algo que oferece retorno sem risco, mas que nos preços atuais só entregam risco sem retorno. A afirmação vale especialmente para a realidade dos países ricos, ainda que os juros reais tenham declinado para patamares historicamente baixos também no Brasil.

De acordo com Buffett, o segundo tipo de investimento são os ativos que não produzem nada, mas que mesmo assim são comprados por pessoas que acreditam que um terceiro estará disposto a pagar mais por ele no futuro. As tulipas holandesas foram um exemplo desse tipo de investimento no século XVII.

Hoje, o principal ativo dessa categoria seria o ouro. O metal é considerado como uma espécie de porto seguro pelos investidores porque costuma se valorizar principalmente em momentos de guerra ou pânico nos mercados. Buffett, entretanto, vê dois problemas no ouro: a real demanda pelo metal para a produção de joias ou decorações é baixíssima e não há um fator de correção claro ao longo do tempo – em volume, uma onça será sempre uma onça.

O que motiva a atual corrida pelo ouro, portanto, é a crença de que o metal sempre vai se valorizar. Após quase uma década de valorização constante, essa tese acaba se validando por ela mesma. O ouro sobe, mais investidores se juntam à festa e as cotações continuam em alta. Mas isso não dura para sempre, como provam os tristes fins das bolhas da internet e dos imóveis nos EUA na década passada.

Buffett faz uma conta convincente para mostrar que o ouro também não vai se valorizar para sempre. Ele afirma que todo o estoque mundial do metal representa cerca de 170.000 toneladas métricas. Se todo o ouro do planeta fosse depositado no mesmo lugar, caberia em um cubo com lados de 20,7 metros – ou seja, algo com folga acomodável em um campo de futebol. Considerando que a onça de ouro custa cerca de 1.750 dólares, esse cubo valeria nada menos do que 9,6 trilhões de dólares.

Com o mesmo dinheiro, no entanto, um investidor poderia comprar todas as terras cultiváveis dos Estados Unidos mais 16 empresas do tamanho da Exxon Mobil (a mais lucrativa do mundo atualmente) e ainda sobraria 1 trilhão de dólares para escolher outros ativos. “Você pode imaginar algum investidor que escolheria a primeira opção em vez da segunda?”, pergunta o bilionário.

Daqui a um século, as terras já terão produzidos bilhões de toneladas de milho, trigo, algodão e outras culturas. A Exxon Mobil provavelmente já terá pagado trilhões de dólares em dividendos. O ouro, entretanto, continuará a ocupar o mesmo espaço no campo de futebol. Ainda que haja alguma valorização, Buffett duvida que seja comparável à dos demais ativos.

É por esse motivo que o bilionário defende a terceira categoria de investimentos: a dos ativos produtivos, que incluem empresas, terras e imóveis. O sonho de qualquer investidor é encontrar ativos que não sofrerão depreciação ao longo do tempo mesmo sem exigir grandes investimentos e produzirão fluxos de caixa que sejam corrigidos ao menos pela inflação. Empresas como a Coca-Cola e a IBM, as fazendas e os imóveis têm conseguido passar nesse teste.


Buffett tem uma explicação simples para o fenômeno. No futuro, a população dos Estados Unidos deve consumir mais bens do que hoje. E as empresas americanas devem continuar a entregar os bens demandados com eficiência e algum lucro.  Durante o século 20, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York saltou de 66 para 11.497 pontos. É por isso que Buffett planeja continuar a aumentar suas participações em empresas de primeira linha. “Acredito que, sob qualquer período longo de tempo, essa será a categoria de investimentos que se provará vencedora entre as três que examinamos. Ainda mais importante, essa será também, de longe, a categoria mais segura”, escreveu ele.


  











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