O maior investidor da história
explica por que prefere ativos produtivos - como empresas, fazendas ou imóveis
- ao ouro ou papéis de renda fixa.
São Paulo – Em um raro artigo publicado na revista “Fortune”, o megainvestidor Warren Buffett explicou, de uma forma bastante detalhada, sua preferência histórica
pela classe de ativos produtivos - como empresas, fazendas ou imóveis – em
detrimento das outras duas categorias de investimento existentes.
Na definição de Buffett, há basicamente três
categorias de investimento. A primeira inclui os papéis financeiros que possuem
algum valor monetário. Um título público do governo brasileiro, por exemplo,
tem um valor de face que serve de referência para sua troca por dinheiro. O
mesmo vale para debêntures (títulos de dívida de empresas), papéis
imobiliários, CDB de bancos e outros instrumentos financeiros de renda fixa.
Em geral, o mercado costuma enxergar essas opções
de investimento como de baixo risco porque a volatilidade do valor de face costuma
ser muito baixa ou até igual a zero. Para Buffett, entretanto, uma aplicação
pode ter volatilidade zero e, ainda assim, representar um risco enorme.
Mesmo que um governo nunca pare de pagar
principal e juros de um título público, explica Buffett, quem compra esse papel
corre o sério risco de ter o poder de compra destruído ao longo dos anos – o
que, na visão do bilionário, é sinônimo de péssimo investimento.
Em primeiro lugar, ele afirma que não é por que
um título público paga 5% de juros que a pessoa estará necessariamente
enriquecendo. De tempos em tempos, qualquer economia do mundo tem de enfrentar
pressões inflacionárias. Se o aumento dos preços superar o percentual de juros
pago por um título, esse investidor, na prática, perderá dinheiro.
Além da inflação, o investidor que quiser
calcular da forma correta o ganho real obtido com um título financeiro de renda
fixa também deverá descontar os impostos sobre os lucros. Buffett explica que
nos últimos 47 anos, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos pagaram juros
médios de 5,7% ao ano, o que parece satisfatório. Mas considerando a inflação
média anual de 4,3% e a carga tributária de 25% dos ganhos para investidores
pessoas físicas, o ganho real nesse período foi zero.
É por isso que ele não considera atrativos
investimentos com base monetária neste momento – apesar de eles sempre
aparecerem entre os preferidos em tempos de crise. O bilionário diz que quase
só compra títulos americanos como forma de obter um pequeno rendimento enquanto
decide o que fazer com os recursos no longo prazo. O dinheiro aplicado em um
investimento líquido como os títulos pode ser resgatado a qualquer momento,
sempre que surge uma oportunidade melhor.
Outra possibilidade é buscar títulos de renda
fixa quando existe um potencial de ganho atípico, seja porque o mercado passa a
desconfiar injustificadamente de determinado emissor ou porque os juros estão
tão altos que gerarão um ganho interessante em valor de mercado quando as taxas
voltarem a recuar.
Não é isso, entretanto, que pode ser observado
neste momento. O banqueiro Shelby Cullom Davis dizia que os bônus costumam ser
vendidos como algo que oferece retorno sem risco, mas que nos preços atuais só
entregam risco sem retorno. A afirmação vale especialmente para a realidade dos
países ricos, ainda que os juros reais tenham declinado para patamares
historicamente baixos também no Brasil.
De acordo com Buffett, o segundo tipo de
investimento são os ativos que não produzem nada, mas que mesmo assim são
comprados por pessoas que acreditam que um terceiro estará disposto a pagar
mais por ele no futuro. As tulipas holandesas foram um exemplo desse tipo de
investimento no século XVII.
Hoje, o principal ativo dessa categoria seria o
ouro. O metal é considerado como uma espécie de porto seguro pelos investidores
porque costuma se valorizar principalmente em momentos de guerra ou pânico nos
mercados. Buffett, entretanto, vê dois problemas no ouro: a real demanda pelo
metal para a produção de joias ou decorações é baixíssima e não há um fator de correção
claro ao longo do tempo – em volume, uma onça será sempre uma onça.
O que motiva a atual corrida pelo ouro, portanto,
é a crença de que o metal sempre vai se valorizar. Após quase uma década de
valorização constante, essa tese acaba se validando por ela mesma. O ouro sobe,
mais investidores se juntam à festa e as cotações continuam em alta. Mas isso
não dura para sempre, como provam os tristes fins das bolhas da internet e dos
imóveis nos EUA na década passada.
Buffett faz uma conta convincente para mostrar que o
ouro também não vai se valorizar para sempre. Ele afirma que todo o estoque
mundial do metal representa cerca de 170.000 toneladas métricas. Se todo o ouro
do planeta fosse depositado no mesmo lugar, caberia em um cubo com lados de
20,7 metros – ou seja, algo com folga acomodável em um campo de futebol.
Considerando que a onça de ouro custa cerca de 1.750 dólares, esse cubo valeria
nada menos do que 9,6 trilhões de dólares.
Com o mesmo dinheiro, no entanto, um investidor
poderia comprar todas as terras cultiváveis dos Estados Unidos mais 16 empresas
do tamanho da Exxon Mobil (a mais lucrativa do mundo atualmente) e ainda
sobraria 1 trilhão de dólares para escolher outros ativos. “Você pode imaginar
algum investidor que escolheria a primeira opção em vez da segunda?”, pergunta
o bilionário.
Daqui a um século, as terras já terão produzidos
bilhões de toneladas de milho, trigo, algodão e outras culturas. A Exxon Mobil
provavelmente já terá pagado trilhões de dólares em dividendos. O ouro, entretanto,
continuará a ocupar o mesmo espaço no campo de futebol. Ainda que haja alguma
valorização, Buffett duvida que seja comparável à dos demais ativos.
É por esse motivo que o bilionário defende a
terceira categoria de investimentos: a dos ativos produtivos, que incluem
empresas, terras e imóveis. O sonho de qualquer investidor é encontrar ativos
que não sofrerão depreciação ao longo do tempo mesmo sem exigir grandes
investimentos e produzirão fluxos de caixa que sejam corrigidos ao menos pela
inflação. Empresas como a Coca-Cola e a IBM, as fazendas e os imóveis têm
conseguido passar nesse teste.
Buffett tem uma explicação simples para o
fenômeno. No futuro, a população dos Estados Unidos deve consumir mais bens do
que hoje. E as empresas americanas devem continuar a entregar os bens
demandados com eficiência e algum lucro. Durante o século 20, o índice Dow Jones da Bolsa de
Nova York saltou de 66 para 11.497 pontos. É por isso que Buffett planeja
continuar a aumentar suas participações em empresas de primeira linha.
“Acredito que, sob qualquer período longo de tempo, essa será a categoria de
investimentos que se provará vencedora entre as três que examinamos. Ainda mais
importante, essa será também, de longe, a categoria mais segura”, escreveu ele.
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