Nenhuma empresa brasileira é tão copiada quanto a Malharia Hering. Os clones querem repetir sua bem-sucedida transição para o varejo. Mas o modelo tão admirado começa a dar sinais de fadiga.
Franquia da Hering no Rio de Janeiro
A indústria têxtil catarinense Hering é a empresa mais copiada do Brasil. Fundada por imigrantes alemães em 1880, a companhia passou mais de um século dedicada a fabricar calças e camisetas básicas e vendê-las para milhares de pequenos lojistas em todo o país.
Até que, em 1996, quando estava à beira da falência, começou a abrir lojas próprias. E não parou mais. Dezesseis anos depois, a empresa é um sucesso indiscutível. Nos últimos cinco anos, suas ações valorizaram 991%. No mesmo período, as vendas quadruplicaram e fecharam 2012 em estimado 1,8 bilhão de reais.
Essa transição da quase falência ao crescimento exponencial deixou outros empresários brasileiros mortos de inveja — e com uma possível solução à mão para seus negócios. Dezenas de fabricantes dos mais diversos setores lançaram redes de lojas próprias e passaram a investir pesado em marketing e em inovação.
Todo mundo, de repente, tentou ser a Hering — a fabricante de pisos Portobello, a Hope, de lingerie, a Alpargatas, dona das Havaianas, a Ambev e até a fabricante de cosméticos Granado, fundada em 1870. A má notícia: justamente quando é tão copiado, o modelo da Hering começou a ratear.
DA INDÚSTRIA PARA O VAREJO:
Algumas fabricantes dos mais variados setores que nos últimos anos investiram em redes de lojas:
HOPE
Estreia no Varejo: 2005
Faturamento: 200 milhões
Número de lojas: 130
PORTOBELLO
Estreia no varejo: 1998
Faturamento: 587 milhões
Número de lojas: 115
HAVAIANAS
Estréia no varejo: 2008
Faturamento: 2,6 bilhões
Número de lojas 249
QUIOSQUE BRAHMA
Estréia no varejo:1996
Faturamento: 25,3 bilhões
Número de lojas: 987
O último clone da Hering a se manifestar foi a Malwee, cuja sede fica em Jaraguá do Sul, também em Santa Catarina. Em 2012, a empresa faturou estimado 1,2 bilhão de reais. Nenhuma outra fabricante de roupas chega a tantos pontos de venda no país: são 25 000 lojinhas em 5.000 cidades.
A Hering, que ainda vende metade da produção em lojas multimarcas, tem 17.000. "A Malwee cresceu sem escolher cliente — vende até para posto de gasolina", afirma Ulrich Kuhn, ex-diretor da Hering e conselheiro da Abit, associação que reúne as empresas do setor têxtil. Deu certo durante muito tempo. Mas, em 2011, a Malwee se rendeu ao varejo. Inaugurou 39 lojas próprias em shoppings e tem planos de dobrar o número até o fim do ano. De novembro para cá, anunciou também a compra de duas redes: a Scene, de moda unissex, com 20 lojas no estado de São Paulo, e a Puket, de meias e lingerie, com mais de 100 pontos em todo o país. Felizmente para empresas como a Malwee, a história da Hering também aponta as maiores armadilhas a evitar. Grupos industriais que partem para o varejo são obrigados a fazê-lo com cautela, justamente para não irritar os comerciantes. A Hering levou dez anos até acertar o modelo. Abre lojas em cidades grandes e médias.
Nas pequenas, em que as redes de rua são mais importantes, nem pensar. “As lojas multimarcas seguem como nossa prioridade”, diz Guilherme Weege, presidente e acionista da Malwee, que não diria mesmo nada que irritasse seus clientes atuais.
Nas pequenas, em que as redes de rua são mais importantes, nem pensar. “As lojas multimarcas seguem como nossa prioridade”, diz Guilherme Weege, presidente e acionista da Malwee, que não diria mesmo nada que irritasse seus clientes atuais.
A transição de modelo é dificultada por uma peculiaridade. Empresas centenárias que nunca pensaram em marketing têm de aprender tudo correndo. E cometem erros simplórios. A malharia Marisol, vizinha da Malwee em Jaraguá do Sul, cometeu uma série de barbeiragens em sua tentativa de ser a nova Hering. Comprou cinco marcas que nada tinham a ver umas com as outras e não emplacou nenhuma. Seu faturamento está parado nos 400 milhões de reais há quatro anos.
Loja da Malwee em São Paulo
O que faz tanta gente arriscar para seguir os passos da Hering é a constatação de um fenômeno social. Com mais dinheiro no bolso, o consumidor brasileiro já não se contenta em comprar produtos básicos nas lojinhas de bairro. Uma fatia crescente da população passou a frequentar shoppings e a comprar produtos de marca.
A participação das lojas de bairro nas vendas de roupas caiu de 44% para 37% desde 2007. Como era
de esperar, as empresas que vendiam por esse canal tiveram de encontrar uma solução — investir em marcas e redes próprias. “As lojas têm duas funções. A mais óbvia é vender produtos. Mas também ajudam a reforçar a imagem das marcas e, com isso, a vender mais nas lojinhas tradicionais”, afirma Alberto Serrentino, sócio da consultoria de varejo GS&MD.
de esperar, as empresas que vendiam por esse canal tiveram de encontrar uma solução — investir em marcas e redes próprias. “As lojas têm duas funções. A mais óbvia é vender produtos. Mas também ajudam a reforçar a imagem das marcas e, com isso, a vender mais nas lojinhas tradicionais”, afirma Alberto Serrentino, sócio da consultoria de varejo GS&MD.
Nesse cenário, a Hering levou extrema vantagem pelo pioneirismo. Por ter entrado nos shoppings e nos melhores pontos comerciais uma década antes dos concorrentes, aproveitou o melhor dos mundos — custos baixos, concorrência inexistente e consumidores ávidos por novidades.
Agora, os preços de aluguéis nos shoppings dispararam e há dezenas de marcas disputando os mesmos espaços. Embora continue a servir de inspiração para diversas empresas, a Hering está às voltas com os primeiros sinais de esgotamento de seu modelo. No dia 9 de janeiro, a empresa comunicou ao mercado que suas vendas no terceiro trimestre de 2012 ficaram abaixo do previsto.
Embora a receita tivesse crescido quase 11% na comparação com o mesmo período do ano anterior, as vendas nas lojas abertas há pelo menos 12 meses recuaram 0,2%. É pouco. Mas é o primeiro passo em falso de uma empresa acostumada a dar boas notícias aos acionistas. Segundo a Hering, o resultado é fruto de um problema pontual de logística. "É complicado conduzir as expectativas do mercado. Crescemos 30% de 2007 a 2010 e 11% em 2011. Que outra empresa cresceu isso?", diz Fabio Hering, presidente da empresa.
Naturalmente, a Hering não poderia quadruplicar seu faturamento a cada período de cinco anos. O ritmo precisaria cair em algum momento. Mas o tropeço do fim de 2012 trouxe à tona outros detalhes
que passavam despercebidos em meio ao crescimento alucinante da empresa.
que passavam despercebidos em meio ao crescimento alucinante da empresa.
A margem operacional, que fechou em 29,1% em 2011, caiu para 26,6% nos primeiros nove meses de 2012, o último dado disponível. Analistas e consultores ouvidos por EXAME são unânimes em afirmar que, embora ainda viva um ótimo momento, a Hering terá de — ironia — encontrar um novo modelo.
Com 515 lojas em todo o país, o espaço para novos pontos de venda é limitado. A meta é abrir mais 75 lojas em 2013. O que pode impulsionar um novo ciclo de crescimento são novas marcas. A Hering Kids, voltada para o público infantil, fechou 2012 com 26 unidades e deve ganhar 30 em 2013. O potencial calculado pela empresa é de 200 unidades. A Dzarm, marca jovem do grupo, também pode ganhar lojas próprias.
Loja da Hering Kids em São Paulo
Para expandir essas novas redes, no entanto, a Hering vai precisar enfrentar uma forte concorrência — que ela mesma ajudou a criar.
Fonte: http://exame.abril.com.br/ 08/02/2013
está notícia está meio requentada .... foi publicada há 1 ano????
ResponderExcluirnão entendi nada!
Sim, foi publicado há 1 ano, mas os fatos são bem recentes. Para o andamento que as coisas levam neste tipo de trâmite, suas causas e consequências estão bem frescas, pois aí estamos tratando de fatos economicos, e em economia "1 ano" é igual a "Ontem". Se a notícia tivesse 10 anos então já seria ultrapassada, porque os desdobramentos dela já estariam antigos ou já teriam acontecido. Neste caso da Hering 1 ano é ainda cedo e os desdobramentos da notícia acima não aconteceram 100%. Temos ainda algum chão pela frente, e a recente queda das ações são um resultado daquilo, pois a bolsa leva tempo para assimilar e jogar nos preços das ações os acontecimentos pretéritos.
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