Investimento em valor não é tão simples como comprar uma nota de um real por cinqüenta centavos e depois vende-la quando atingir R$ 1,00. Algumas vezes
você pode fazer muito melhor do que isso.
Investidores em valor vêm em vários formatos e tamanhos. Alguns investem
em imóveis, outros em títulos (normalmente os mais desvalorizados) e alguns
outros em ações. Alguns se especializam em algumas indústrias ou países, e
outros se tornam mais generalistas. Mas, a maioria dos investidores em valor
possuem duas coisas em comum: (1) Eles procuram comprar com um desconto
significativo em relação ao valor intrínseco (a metáfora da nota de um real por cinqüenta centavos); e (2) Eles vendem quando o valor intrínseco é
atingido. Durante a minha carreira como investidor, eu acreditei piamente
nesses dois princípios, mas, com o passar do tempo, fui fazendo alguns ajustes
quando comecei a entender melhor o que eu chamo de "opções embutidas". Opções
embutidas são algumas coisas que possa fazer uma ação apreciar-se ainda mais –
em outras palavras, comprar uma nota de um real por cinqüenta centavos e ter a
grata experiência de vendê-la não por R$1, mas por R$2
ou mais. Embora não perder dinheiro seja o fator mais importante em um
investimento de longo-prazo, o segundo certamente é possuir algumas poucas
ações que se valorizaram várias vezes com o passar do tempo.
Verdadeiros Foguetes
Quais são as fontes de "opções embutidas?" O que faz uma ação decolar? É
claro que existem muitas razões para isso, mas as que eu encontrei mais
freqüentemente foram: (1) Um negócio excelente que foi abalado por alguma
decepção passageira, fazendo a ação despencar, algum tempo depois o negócio
retorna para suas características econômicas anteriores; e (2) Uma companhia
pertencente a um setor aonde os investidores são bastante irracionais, que se
deixam contaminar pelo pessimismo (em que nenhum preço é baixo demais que não
se possa vender) e pela euforia (em que nenhum preço é alto demais que não se
possa comprar).
Warren Buffett: " - Durante quase três anos, as ações do McDonald's, que eu considero um dos melhores negócios do mundo, caíram
de $50 para $12,12. Mais ou menos na mesma época, um outro negócio fabuloso, o Home Depot, caiu
de $70 para $20,10. A partir daí, o McDonald's mais que dobrou de preço e o Home Depot também."
Quando as ações que eu tenho na minha carteira sobem rápido assim, eu começo a pensar em vender. As posições já subiram bastante e a margem de segurança diminui ou acaba. Apesar disso, eu continuo com esses dois papéis. Por quê? Principalmente porquê eu me surpreendo, cada vez mais, com a qualidade desses negócios (Ex: EZTC3, GRND3) como são bem administrados e sempre prontos a superar minhas expectativas (que tendem a ser bem conservadoras – um dos pontos chaves do investimento em valor). Eu acredito que a Eztec e a Grendene continuam sendo excelentes negócios e acredito também que seus grandes esforços para decolar novamente irão trazer resultados compensadores por pelo menos mais dois ou três anos. Se eles fossem negócios de baixa qualidade, eu já teria vendido.
Empresas Medíocres em Indústrias Chatas
Pode parecer óbvio que todos nós deveríamos procurar investir em
empresas de alta-qualidade, e, melhor ainda, em setores em que os investidores
são conhecidos por pagarem preços ridiculamente altos pelos seus papéis. Mas,
na prática, muitos investidores em valor acabam com umas carteiras compostas
por empresas medíocres em setores chatos, principalmente por duas razões:
Primeiro porquê: ações de bons negócios raramente ficam baratas. Segundo porquê: os setores chatos são
normalmente mais fáceis de entender - existem poucos requisitos para se entrar
no seu círculo de competência e prever seu futuro com algum grau de precisão.
Duas características que não estão presentes em muitos setores como, por
exemplo, os de tecnologia, muito freqüentado pelos membros mais idiotas do
clube do "ouvi falar".
Ter uma carteira composta de negócios medíocres em setores chatos não é,
necessariamente, uma coisa ruim. Dois investidores lendários, Walter e Edwin Schloss bateram o mercado
por décadas seguidas tendo em sua carteira nada além de guimbas de cigarro ultrabaratas. Mas, aqui,
ultrabarata é a palavra chave. Várias experiências dolorosas me ensinaram que,
se você vai pescar bem no fundo do poço, tem que se assegurar que possui uma
margem extra de segurança, porquê esta vai ser a única forma de ganhar
dinheiro.
Considere, por exemplo, a Vale do Rio Doce, uma mineradora especializada em um nicho do mercado, no qual eu fui cuidadoso o suficiente de
não comprar perto do pico alguns anos atrás. Eu avalio que a companhia tenha uma
boa estratégia, a administração esteja fazendo seu trabalho direito e ela
esteja melhor posicionada que suas concorrentes. Mas ela pertence a uma das piores indústrias
imagináveis. A administração não possui qualquer controle sobre a demanda por
encontrar-se em um setor extremamente cíclico, sobre os preços de uma commodity, sobre os impostos, sobre as exportações, e assim
por diante. Por isso, mesmo quando as coisas estão indo muito bem para a
economia, as características econômicas da Vale podem começar a piorar.
A Petrobrás é outra empresa mineradora (extrativista), a única diferença é que o minério dela é líquido, e os princípios econômicos que regem as duas empresas são semelhantes. Vale lembrar a frase do Warren Buffett que alerta todos a se manter longe de empresas extrativistas (empresas de commodities).
" - Empresas de Commodities não possuem vantagem competitiva durável e por isto mesmo não podem possuir margens decentes a não ser que recebam a benesse de uma época de economia punjante. O ouro que você compra no joalheiro não possui seu valor por ser uma Marca, mas sim por ser Ouro. Assim, tanto fez, tanto faz qual foi a mineradora que o extraiu, e de qual país provém. O mesmo ocorre com o petróleo. Não importa se veio da Arábia ou da Rússia; o importante é que o combustível faz o seu carro funcionar. " Warren Buffett
Então, por quê alguns colegas ainda tem esta ação na carteira? Porquê
acreditam que, se a economia continuar a ganhar força, a companhia poderá lucrar
entre R$ 10,00 a R$ 20,00 por ação. Se isso acontecer, eu nem preciso torcer por um grande
entusiasmo por parte dos investidores. Mesmo assumindo um baixo P/L de 10 os lucros elevarão os preços da ação para
uma faixa de R$ 50,00 - R$ 60,00, muito superior aos preços praticados hoje, em torno de R$ 30,00.
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