Representar números por meio de linhas em papel milimetrado pode ser útil ou perigoso. É útil quando ajuda você a visualizar algo com maior clareza do que lhe seria possível apenas com números. Fica perigoso quando torna a coisa representada mais sólida e portentosa do que na realidade é.
A Ilusão do Grafista, freqüentemente, é uma extensão gráfica da Armadilha do Historiador. Ilustra-se isto melhor com os grafistas de Wall Street. Trata-se de pessoas com um jargão particular, que quase ninguém mais é capaz de entender; possuem suas próprias revistas e jornais, igualmente incompreensíveis para os mortais comuns; e têm sua própria ilusão de ordem, cruamente visualizada. Acreditam que o preço futuro de uma ação - ou de uma moeda, metal precioso ou qualquer outra coisa cuja cotação de mercado é noticiada com freqüência - pode ser determinado por meio de gráficos nos quais são registradas as oscilações de preço passadas.
O grafista começa fixando sua atenção em algum tipo de investimento - digamos numa ação, a U-Lá-Lá Eletrônica. Vai buscar em meses, anos atrás, as variações de preço da ação, traduzindo os números encontrados em pontos e linhas sobre papel milimetrado. E passa a estudar o padrão resultante. Está especialmente interessado em oscilações bruscas, altos e baixos ocorridos imediatamente antes de uma alta ou baixa significativa na ação da U-Lá-Lá. Da próxima vez que topar com oscilações semelhantes, concluirá que está à beira de uma nova alta ou baixa importante, e montará a sua especulação a partir daí.
Quando as coisas não ocorrem como espera - ou seja, em mais ou menos 50% das vezes -, com a maior humildade o grafista assumirá a culpa. E insistirá em que o problema foi ele não ter sido astuto o bastante. O grafista sabe que o mercado pode ser previsto pelos gráficos, desde que ele seja capaz de perceber os padrões corretos.
É incapaz de acreditar na mais simples das explicações possíveis: o mercado de ações não obedece a padrão nenhum. Praticamente, jamais se repete, e nunca o faz de forma confiável, previsível. Fazer gráficos dos preços de ações é como fazer gráficos da espuma do mar. Agora está assim, daqui a pouco não estará mais. O mesmo desenho você só tornará a ver por pura sorte. E, caso o reveja, não quer dizer rigorosamente nada, pois não antecipa coisa alguma.
Outro elemento da Ilusão do Grafista decorre da forma peculiar como uma linha traçada em preto, ininterrupta, audaciosamente cortando o papel milimetrado, é capaz de fazer um monte de números desinteressantes, essencialmente desordenados, parecer uma importante tendência. Há séculos que os camelôs e os vigaristas deste mundo conhecem a força dos gráficos. Vendedores de fundos mútuos nunca saem de casa sem eles. O valor da cota do fundo é capaz de vir subindo tão devagarinho que sequer empata com a inflação; colocando, porém, os anos bem juntinhos num gráfico, talvez esquecendo-se de alguns maus anos que preferem não comentar, os promotores de fundos são capazes de apresentar uma beleza de gráfico no seu folheto de venda.
O cliente vê aquela linha preta em disparada e fica boquiaberto: ‘’Puxa!’’
O perigo não está só em que você pode ser passado para trás por outros; pior é ser enganado por si próprio. Digamos que está examinando um gráfico que mostra o valor da lira em relação ao dólar, em anos recentes. A linha não para de subir, e lhe ocorre: ‘’Ei! Quem sabe não é uma boa entrar nessa?!’’ Mas, espere um momento. Não se deixe fascinar pela linha, apenas. Examine o que ela se propõe a representar em termos numéricos. Talvez apareçam ali somente os pontos altos da lira a cada ano. Um outro gráfico, mostrando seus pontos baixos, talvez se apresente como uma linha descendente. Por outras palavras, a relação lira - dólar tem sido marcada por variações cada vez mais amplas. As mudanças calmas e firmes sugeridas pela linha ascendente do gráfico não passam de uma ilusão. O fato é que se trata de uma relação cada vez mais desordenada.
É por aí que as pessoas se deixam iludir pelos gráficos. Uma linha em papel milimetrado tem sempre um ar confortavelmente ordenado, mesmo quando o que ela representa é o caos.
A vida jamais acontece numa linha reta, como qualquer adulto sabe. Contemplando um gráfico, porém, é facílimo ficarmos hipnotizados e esquecermos disto.
Você dá uma olhada num gráfico representando a lucratividade da U-Lá-Lá Eletrônica. Especialmente preparado para o relatório anual, o gráfico só mostra glórias, ao vivo e em cores. A linha ascendente, forte, grossa, ininterrupta, tão completamente entronizada ali, parece que nunca será diferente. Nada é capaz de rompê-la. Pode curvar-se, mas só um pouquinho. A impressão que dá é de que subirá para sempre. Você, porém, não deve apostar nisso.
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