Este 3º Axioma Menor visa a ajudá-lo a resolver o sempre difícil e às vezes paralisante problema de saber quanto é o bastante.
Conforme ficou visto, a ganância é a principal razão da dificuldade desta decisão. Quanto mais se tem, mais se quer. É da natureza do ser humano.
Há outro fator, porém, que contribui muito para essa dificuldade da maioria, talvez de quase todo mundo; é o fato peculiar de que, se uma especulação dá certo e a fortuna do especulador cresce, a posição recém-atingida vira posição inicial.
Digamos que você começa com 1.000 dólares. Aplica-os dando certa garantia, numa especulação com prata. O palpite funciona e, um ano depois, você está com 2.000 dólares. Dobrou o seu dinheiro.
Beleza. Se conseguisse isso todo ano, breve estaria milionário. O problema, porém, é que não parece ser a beleza que é. Pelo contrário: de repente você já está achando que esse dinheiro é seu por um mérito qualquer. A tendência é que passe a encará-lo assim, principalmente se o ganhou devagarinho, ao longo de um ano, e não uma bolada, de uma só vez. Em lugar de dar pulos e dizer, “epa, dobrei a minha grana!” ou “olha só, estou com uma milha que não tinha antes!”, a sensação é de que sempre teve aquele total.
Os 2.000 não parecem ser a sua posição ao final. A sensação é que se trata de uma nova posição inicial. Graças a isto, não vai ser fácil cair fora de tal operação.
Se você nunca especulou, nem sequer jogou um pôquer baratinho, isto pode parecer confuso. Também pode parecer um probleminha curioso, capaz de afligir outras pessoas, mas que com você não acontece. É compreensível que pense assim, mas está sendo otimista demais. Chega uma hora em que esse problema aflige praticamente todo mundo. Existe uma remotíssima chance de que você seja imune. O negócio é aprender a enfrentá-lo quando se apresentar.
São inúmeras as atividades humanas nas quais as posições inicial e final são claramente visíveis, percebidas e compreendidas. No atletismo, por exemplo. Quando um corredor chega ao final dos 1.500 metros, sabe que é o fim. Não existe a questão de correr outros 1.500 m, a fim de ganhar duas medalhas em vez de uma. As energias estão exauridas. A fita foi rompida, o placar já registra o vencedor. Acabou-se. É hora de ir para casa descansar, reunir energias para a próxima corrida.
No mundo do jogo e das especulações, são poucos os pontos finais assim nítidos. Jogos de pôquer têm fim, é verdade. Os hipódromos fecham ao final do dia. De longe em longe, uma operação de Bolsa pode encerrar-se quando a empresa na qual se investiu é absorvida por uma empresa maior e deixa de existir. Na maioria dos casos, porém, é você mesmo que vai ter de decidir quando basta.
Isto é muito, muito difícil de fazer, tão difícil que apenas uma minoria aprende. Na realidade, a maioria nem sequer chega a perceber a necessidade de fazê-lo. Mas é uma técnica que você tem de dominar. É peça essencial do equipamento de um bom especulador.
Seu final - seu basta - é quando você cai fora, dá um suspiro de alívio e relaxa. Como o corredor ao final da prova, você se joga na grama, ao lado da pista, e pensa: “Tudo bem, acabou. Cumpri o meu objetivo inicial. Fiz o que vim fazer. Ganhei a minha medalha. Vou ficar aqui um pouquinho e saborear a vitória.” De um jeito ou de outro, você chegou ao final.
Como, porém, alcançar um final assim, tão definido, num mundo onde não há fitas de chegada nem gongos marcando o fim de cada round, principalmente quando cada posição atingida parece um novo ponto de partida?
Vamos supor que você comprou um punhado de ações da Union Carbide. Ou investiu em ouro, ou na compra de sua casa. Essas não são corridas que terminam num futuro previsível. São corridas abertas. Não há uma distância arbitrada. Você mesmo, sozinho, é que tem que decidir quando rompeu a fita de chagada. A corrida acaba quando você disser que acabou.
O 3º Axioma Menor ensina a alcançar esse final. Antes de começar a corrida, estabeleça onde é a linha de chegada. Isto facilita devolver as fichas e embolsar o dinheiro? Não, claro que não. Mas fica muito mais fácil do que entrar em cada especulação com a idéia de que é uma corrida sem fim.
Voltemos ao exemplo inicial. Você tem 1.000 dólares, e acha que prata é uma boa especulação. Diz a si mesmo: “Vou entrar nisto com o objetivo de...” Mas, seja qual for o seu objetivo, não busque nada muito grandioso, seja modesto. Duplicar, alcançar 2.000 dólares em dois anos, digamos. Ou 1.500 em um ano. Esta é a linha de chegada. Ao longo da corrida toda, não a perca de vista. E quando a alcançar, caia fora.
Vejamos como isto o ajuda, do ponto de vista psicológico. Ali está você, na linha de partida, com 1.000 dólares no bolso, na esperança de que virem 2.000. Não dá para achar que os 2.000 estão no papo, porque ainda não estão, e você sabe muitíssimo bem que podem nunca estar. A essa altura do campeonato, na linha de partida, 2.000 dólares parecem um prêmio pelo qual vale a pena brigar. Não parecem um novo ponto de partida. Parecem a chegada.
À medida que a operação vai andando, mantenha viva essa sensação. Se e quando atingir o objetivo, a menos que haja razões indiscutíveis, óbvias, para transformar a linha de chegada em novo ponto de partida, faça um carinho na sua sorte e caia fora.
O que podem ser essas “razões indiscutíveis, óbvias” para se continuar numa corrida cujo plano era terminar? Esse tipo de razão só pode ocorrer por alguma mudança drástica, imprevisível, nos fatos e circunstâncias envolvendo a sua operação. Uma simples mudancinha não é suficiente: tem de ser um cataclisma. Surgiu uma situação inteiramente nova, que não apenas lhe dá esperança, mas praticamente certeza de que o período de ganhos prosseguirá.
Vamos supor, por exemplo, que você especula em mercadorias, está comprando concentrado de laranja a futuro, e atingiu a sua linha de chegada. Cumprindo o que prometeu a si mesmo, está prestes a vender e pôr o lucro no bolso. Ouve, então, que uma geada fora de hora acabou com grande parte da safra de cítricos da Flórida.
Em casos assim, pode ser uma boa idéia ficar na corrida ao menos um pouco mais, e ver o que acontece. Situações como essa, porém, são raras. A maior parte do tempo, a fita de chegada só quer dizer uma coisa: acabou.
Uma boa maneira de reforçar essa sensação de “final” é estabelecer alguma forma de premiação para si próprio. Se quiser, que seja uma medalha. Antecipadamente, prometa-se que, se e quando alcançar o objetivo preestabelecido, pegará parte do lucro e comprará um carro novo, um casaco de peles, um banjo de cinco cordas, o que lhe der prazer. Ou que pegará a sua mulher, ou alguém querido, e juntos jantarão o que houver de mais ridiculamente caro no restaurante mais caro da cidade.
Com isto, o final associa-se a algum fato real, a algum objetivo concreto. Muitos especuladores, mesmo alguns curtidos veteranos da brincadeira, empregam esse estratagema psicológico. Frank Henry costumava presentear-se com ostras e churrasco de filé mignon à americana - coisas que adorava e que não eram fáceis de encontrar na sua Suíça natal. Jesse Livermore, que às vezes tinha grandes dificuldades em encerrar sua especulações, a cada vitória presenteava-se com uma nova peça para a sua coleção de antigas canecas de barbear. Mary, a amiga de Gerald Loeb, dava-se um vestido ou um casaco.
Considerando-se os volumes de dinheiro arriscados, essas recompensas podem parecer triviais; o importante, porém, é a sensação de final que mesmo esses prêmios aparentemente bobos podem produzir. Se funcionar com você, então é esse o caminho a seguir.
Não são poucos os solenes assessores de investimentos que franzem a testa a essa prática. Por motivos que ninguém jamais foi capaz de explicar direito, desde o século XVIII existe a crença de que dinheiro de investimento deve ser inviolável. Não se deve gastá-lo, especialmente em frivolidades como uma dúzia de ostras ou um casaco de peles. Há até uma expressão para definir esse sacrilégio: esbanjar o capital. Que pouca vergonha!
Mas, como gostava de perguntar Geraldo Loeb:
- Por que você se dá a tanto trabalho para ganhar dinheiro? Para que serve? Para ficar olhando? Loeb, provavelmente, foi o primeiro corretor a dizer, publicamente - e, parece, sem se envergonhar -, que o investidor/especulador deve gastar parte dos seus ganhos. Na realidade, Loeb chegava a ponto de afirmar que, num ano bom, alcançada ou não a linha de chegada, parte dos lucros deveria ser gasta.
Dinheiro de investimento é dinheiro como outro qualquer, chamava ele a atenção. Não tem nada de ficar segregado, com um cartaz: “Não tocar”. É claro, existem dezenas de boas razões para você sentar no seu dinheiro. É uma grande ajuda na velhice; numa emergência, é um belo pára-quedas; é algo para os filhos herdarem; é bom saber que está no cofre, e por aí afora. Tudo muito bem. Só que ele também pode servir para lhe proporcionar um pouco de diversão. Tirar um pouquinho de vez em quando, especialmente numa posição final, é muito melhor do que geralmente se imagina.
É por isto que eu o aconselharia a manter o seu capital especulativo o mais líquido que puder, bem acessível. Isto se faz melhor em algumas especulações do que em outras. Se o seu dinheiro está trancafiado num imóvel ou numa coleção de moedas raras, é capaz de permanecer trancafiado até aparecer um comprador. Um número cada vez maior de bancos, porém, começa a oferecer empréstimos sobre ativos líquidos como esses, a juros perfeitamente razoáveis. Talvez você possa conseguir algo assim.
Com outras especulações, o objetivo de liquidez vem se tornando cada vez mais fácil. Nos últimos anos, bancos e corretoras que operam em ações, opções, mercadorias e metais preciosos vêm criando para os seus clientes tipos altamente inovativos de contas correntes. Eu, por exemplo, mantenho todo o meu capital destinado a ações num estranho cesto inventado pela minha corretora, a Merril Lynch, chamado de “conta de fundos administrativos”. É uma combinação de várias coisas: em parte, é uma conta normal de depósito de ações com a qual compro e vendo ações da maneira tradicional; mas também é conta corrente, contra a qual emito cheques, ou saco com o meu cartão de crédito. A conta paga tudo. Isto é que chamo de liquidez imediata.
E é perfeito para se celebrar uma posição final. Quando atinjo uma dessas posições, minha mulher, eu e o meu cartão de crédito saímos por Nova York, para um fim de semana de luxo e pecado.
Estratégia Especulativa
Vamos, então, repassar o que nos ensina o 2º Grande Axioma. Diz, “Venda cedo demais”. Não espere a alta atingir o pico. Não espere que um período de ganhos prossiga indefinidamente. Não teste demais a sua sorte. Parta do pressuposto de que tais períodos são breves. Quando atingir uma linha de chegada previamente estabelecida, liquide a posição e caia fora. Faça-o ainda que tudo pareça cor-de-rosa, mesmo que continue otimista e que todo mundo em volta esteja dizendo que a alta continuará rugindo sem parar.
A única razão para não o fazer será algum fato novo, cujo surgimento praticamente garanta que você
continuará ganhando durante algum tempo.
Exceto em circunstâncias assim inusitadas, habitue-se a vender cedo demais. E, uma vez vendido, não se atormente se a alta continuar sem a sua presença. É muito provável que ela não vá durar muito. Se durar, console-se pensando nas tantas vezes em que, tendo vendido cedo demais, protegeu ganhos que, de outra forma, teriam ido por água abaixo.
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