domingo, 31 de agosto de 2014

PLANEJAMENTOS A LONGO PRAZO GERAM A PERIGOSA CRENÇA DE QUE O FUTURO ESTÁ SOBRE CONTROLE - EXTRAÍDO DO LIVRO "OS AXIOMAS DE ZURIQUE"













É importante jamais levar muito a sério os seus planos a longo prazo, nem os de quem quer que seja.


George e Martha conheceram-se e casaram-se na década de 40. George era contador, empregado num pequeno escritório de contabilidade. Martha era secretária numa corretora de seguros. Como era o costume da época, pouco depois do casamento Martha largou o emprego e foi ser dona de casa e mãe de família. O salário de George não era tão grande, mas era estável, como ele. O mundo parecia um lugar seguro e aconchegante. Para torná-lo ainda mais seguro e mais aconchegante por sugestão do pai de Martha, pequeno comerciante, o jovem casal foi visitar um conselheiro de finanças e montou um Plano a Longo Prazo.

Considerava-se isto uma coisa prudente, sensata e perfeitamente admirável de se fazer; até hoje pensa-se assim. Como dizem os grandes sábios, todo casal jovem deve ter um plano. As pessoas que tinham planos e as que não tinham eram comparadas à cigarra e à formiga da fábula de Êsopo. A severa e prática formiga trabalha o verão inteiro, pensando no inverno que vem pela frente, enquanto, sem planos, a cigarra se deixa ficar ao sol, cantando. No final, como se sabe, a pobre e velha cigarra tem de ir lá, chapéu na mão, mendigar comida, enquanto a formiga tem o prazer de dizer:

- Pois é, bem que eu avisei...




Na vida real, porém, o mais das vezes é a formiga que acaba com o seu formigueiro fumigado, ou arrasado por um trator. Isto é o que acontece com quem tem raízes (ver o 6º Grande Axioma), e, em boa parte, as raízes nascem dos planos a longo prazo. A cigarra, viajando mais leve, muda o rumo do vôo e sai da frente.

Atualmente, George e Martha estão pelos sessenta e poucos anos, aposentados. E praticamente quebrados. Se viverem muito mais, acabarão totalmente quebrados, durinhos, vivendo da caridade pública. Praticamente nenhum dos elementos do plano a longo prazo deles funcionou como deveria.

Na década de 40, achavam que gostariam de aposentar-se com uma renda de 700 dólares por mês, contando a pensão privada e a do governo. Isto dá 8.400 anuais, quantia que nos anos 40 era dinheiro que não acabava mais. Na realidade, na maioria das classificações de renda, o nível mais alto costumava ser ‘’7.500 dólares ou mais’’. Ninguém conhecia quem ganhasse acima disso.

Hoje em dia, lógico, dependendo do lugar, 700 dólares por mês são suficientes para pagar o aluguel de um sala-e-quarto, mas não para comer no mesmo mês. Se você insistir em se alimentar, e ainda quiser dinheiro para se vestir, para contas médicas e outras despesas, aí já tem problemas.

O plano a longo prazo de George e Martha incluía a compra de uma casinha na qual viveriam aposentados, felizes para sempre. Comprariam a casinha à vista, a fim de não terem de se preocupar com prestações todo mês.




Tendo isto em mente, o plano previa que teriam economizado, ao atingirem 65 anos, 20.000 dólares. Nos anos 40, com 20.000 dólares você comprava duas casas e ainda sobrava troco para um carro. O plano não contava que, nos anos 80, o que então era um dinheirão mal compraria uma casinha de cachorro.

De qualquer forma, George e Martha não têm os 20.000 dólares. A caminho da pobreza, foram atingidos por algumas despesas inesperadas (acontece com todo mundo) a alguns infortúnios (idem). Em meados da década de 60, o patrão de George foi apanhado numa briga complicada envolvendo a falsificação do balanço de algumas empresas, e perdeu o escritório de contabilidade. O emprego de George foi para o espaço, e junto foi-se o plano de aposentadoria privada do nosso personagem. Depois de longa busca, ele conseguiu outro emprego, mas jamais chegou perto de 700 dólares de aposentadoria mensal que ele e Martha planejavam. Depois de se aposentarem, tiveram de recorrer às suas economias. Embora as reservas de que dispõem sejam remuneradas com juros três vezes maiores que o previsto (nos anos 40, juros de 2% ou 3% eram a regra), o capital deles derrete-se a olhos vistos.




Moram num apartamentinho que não dá para nada, vivem de feijão enlatado, e passam a maior parte do tempo perplexos, se perguntando o que foi que aconteceu.

Duas coisas: planejamento, e em seguida o inesperado.




George e Martha prenderam-se demais ao seu plano. Deitaram raízes nele. Na sua cinzenta carreira, George teve várias oportunidades de entrar por caminhos muito mais promissores. Um amigo, por exemplo, convidou-o para um negócio juntos. O amigo queria montar um escritório de contabilidade de sociedade com George. Esse escritório, e esse amigo, hoje estão muito prósperos. Quando a oportunidade apareceu, porém, George morreu de medo. O risco parecia demais. 




Ele e Martha se esconderam no aconchego conforto do seu plano. Achavam que não precisavam correr nenhum risco. A vida deles estava todinha planejada. O plano garantia-lhes velhice confortável, uma casinha e uma pequena renda. Com esse pássaro na mão, para que dois voando?




Foi assim que eles se deixaram embromar pelo seu próprio plano a longo prazo. Não lhes passou pela cabeça que o pássaro que acreditavam ter na mão iria bater asas e voar.

Como diz o 12º Grande Axioma, planejamentos a longo prazo geram a perigosa crença de que o futuro está sob controle. Poucas crenças são mais perigosas do que esta.




Olhando à frente, mal consigo divisar a estrutura básica da semana que vem. A continuidade dos acontecimentos só dá para isto. Numa quarta-feira, talvez, posso me sentar e armar algum tipo de planejamento financeiro para a quarta-feira seguinte. Com certa margem de erro, sou capaz de uma previsão razoavelmente confiável do valor dos meus investimentos e dos da minha mulher – ações, imóveis, contas bancárias, prata e tudo o mais – daqui a uma semana. Mesmo um plano ou uma previsão destas pode acabar de modo ridiculamente errado, é claro. Tanto quanto sei, a Bolsa pode despencar antes da quarta-feira que vem.

Eu posso passar com o carro em cima do dedão de alguém, e levar pela proa um processo que me arranque até o último níquel, sei lá. De qualquer forma, para um plano de sete dias eu ainda me garanto. A visibilidade não é lá essas coisas, mas dá-se um jeito.

Um mês à frente, e a visibilidade cai muito; um ano, e já está quase tudo opaco. Dez anos... vinte... Bem, aí já não se enxerga é mais nada. Nem formas vagas, nem contornos, nada, nada mesmo. É como tentar, em Londres, pela madrugada, enxergar através daqueles nevoeiros que os ingleses chamam de ‘’sopa de ervilha’’. É totalmente impossível saber o que virá pela frente.




E se você não consegue enxergar o objetivo do seu plano, como vai traçar um plano inteligente? Planejar para um futuro que não se vê? Para mim isto parece grossa bobagem. Contudo, vendedores de seguros de vida, assessores de investimentos e demais especialistas vivem insistindo que é isso mesmo que você tem que fazer, e inúmeras famílias, principalmente famílias jovens, continuam a fazê-lo. Como no tempo de George e Martha, até hoje ainda acham que é muito louvável fazer planejamentos a longo prazo. E os resultados continuarão sendo mais ou menos os mesmos.

Um planejamento é uma ilusão de ordem para toda a vida. Economistas, assessores financeiros e o pessoal que vende planos de aposentadoria privada para daqui a vinte anos, falam como se o mundo do dinheiro fosse um lugar da maior ordem, no qual as mudanças se processam lenta e previsivelmente, como uma árvore crescendo. Espiando o próximo século, enxergam um mundo financeiro exatamente igual ao nosso, mais igual até. Maior, mais automatizado, mais isto, mais aquilo. Chegam a essas tranqüilizadoras conclusões observando as tendências que caracterizam o nosso mundo, hoje, e jogam essas tendências para o futuro. Tudo muito organizadinho, e aí dá para cozinhar uma porção de planejamentos a longo prazo.




O que esses planejadores esperançosos esquecem, ou preferem ignorar, é que o mundo do dinheiro se parece com uma árvore crescendo, mas só num sentido muito limitado. É ridículo achar que simplesmente examinando-se as tendências de hoje pode-se enxergar o mundo futuro. Nos próximos vinte anos, algumas dessas tendências certamente desaparecerão, ou virarão ao contrário. E ninguém é capaz de dizer quais. Tendências completamente novas surgirão, aparecerão fatores com os quais a gente nem sonha hoje. Eventos totalmente imprevisíveis nos apanharão de surpresa. Mercados subirão explosivamente, outros simplesmente explodirão, revoluções, guerras, falências, calamidades: quem é capaz de dizer o que vem pela frente?




O mundo no qual serão conduzidos os seus assuntos financeiros, daqui a vinte anos, está oculto por trás de uma cortina que não deixa passar nem uma réstia de luz. Não se pode saber nem se existirá um mundo do dinheiro, se existirá o dólar, ou o que comprar com um dólar.

Isto posto, não faça nenhum plano a longo prazo, nem deixe ninguém fazer por você. Só serviria para atrapalhar. Em vez disso, viaje leve feito a cigarra. Em vez de tentar organizar a sua vida para acomodar coisas imprevisíveis, no futuro, reaja aos fatos à medida que forem surgindo, no presente. Quando enxergar uma oportunidade, corra atrás; quando vir o perigo, dê o fora.

No que se refere a dinheiro, tudo que precisa, em matéria de planejamento a longo prazo, é da intenção de ficar rico. Como, exatamente, é algo que você não pode saber, a não ser nas linhas mais genéricas. Eu gosto de ações, e geralmente estou afundando melas até as orelhas. O meu como, então, presumo eu, terá algo a ver com essa área de especulação. Mas é só isto que sei sobre o meu futuro financeiro, e é só isto que eu tentarei saber. O único tipo de preparação que posso fazer para o século que vem, portanto, é continuar estudando o mercado, continuar aprendendo, melhorando. Se dá para chamar uma coisa tão vaga como esta de plano, tudo bem, é isso aí que é o meu plano.





O seu deve ser igualmente solto, sem amarras. Decida-se a aprender tudo que houver para aprender sobre os negócios que mais o atraem. Porém, jamais perca de vista a probabilidade... não, a certeza, melhor dizendo, de que o seu meio especulativo e as circunstâncias que o afetam se modificarão de forma que não é capaz de imaginar agora. Não se deixe prender, não deite raízes como a formiga; não queira ser uma vítima potencial do trator do destino.

















2 comentários:

  1. Brother, com esse medo todo você não vai chegar longe. Passar a vida se preparando ??? Coragem meu amigo, se deixe ser feliz!

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  2. Não sou eu, é só o capítulo do livro que está com medo.

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