É importante
jamais levar muito a sério os seus planos a longo prazo, nem os de quem quer
que seja.
George
e Martha conheceram-se e casaram-se na década de 40. George era contador,
empregado num pequeno escritório de contabilidade. Martha era secretária numa
corretora de seguros. Como era o costume da época, pouco depois do casamento
Martha largou o emprego e foi ser dona de casa e mãe de família. O salário de George
não era tão grande, mas era estável, como ele. O mundo parecia um lugar seguro
e aconchegante. Para torná-lo ainda mais seguro e mais aconchegante por
sugestão do pai de Martha, pequeno comerciante, o jovem casal foi visitar um
conselheiro de finanças e montou um Plano a Longo Prazo.
Considerava-se
isto uma coisa prudente, sensata e perfeitamente admirável de se fazer; até
hoje pensa-se assim. Como dizem os grandes sábios, todo casal jovem deve ter um
plano. As pessoas que tinham planos e as que não tinham eram comparadas à
cigarra e à formiga da fábula de Êsopo. A severa e prática formiga trabalha o verão
inteiro, pensando no inverno que vem pela frente, enquanto, sem planos, a
cigarra se deixa ficar ao sol, cantando. No final, como se sabe, a pobre e
velha cigarra tem de ir lá, chapéu na mão, mendigar comida, enquanto a formiga
tem o prazer de dizer:
-
Pois é, bem que eu avisei...
Na
vida real, porém, o mais das vezes é a formiga que acaba com o seu formigueiro
fumigado, ou arrasado por um trator. Isto é o que acontece com quem tem raízes
(ver o 6º Grande Axioma), e, em boa parte, as raízes nascem dos planos a longo
prazo. A cigarra, viajando mais leve, muda o rumo do vôo e sai da frente.
Atualmente,
George e Martha estão pelos sessenta e poucos anos, aposentados. E praticamente
quebrados. Se viverem muito mais, acabarão totalmente quebrados, durinhos,
vivendo da caridade pública. Praticamente nenhum dos elementos do plano a longo
prazo deles funcionou como deveria.
Na
década de 40, achavam que gostariam de aposentar-se com uma renda de 700
dólares por mês, contando a pensão privada e a do governo. Isto dá 8.400
anuais, quantia que nos anos 40 era dinheiro que não acabava mais. Na
realidade, na maioria das classificações de renda, o nível mais alto costumava
ser ‘’7.500 dólares ou mais’’. Ninguém conhecia quem ganhasse acima disso.
Hoje
em dia, lógico, dependendo do lugar, 700 dólares por mês são suficientes para
pagar o aluguel de um sala-e-quarto, mas não para comer no mesmo mês. Se você
insistir em se alimentar, e ainda quiser dinheiro para se vestir, para contas
médicas e outras despesas, aí já tem problemas.
O
plano a longo prazo de George e Martha incluía a compra de uma casinha na qual
viveriam aposentados, felizes para sempre. Comprariam a casinha à vista, a fim
de não terem de se preocupar com prestações todo mês.
Tendo
isto em mente, o plano previa que teriam economizado, ao atingirem 65 anos,
20.000 dólares. Nos anos 40, com 20.000 dólares você comprava duas casas e
ainda sobrava troco para um carro. O plano não contava que, nos anos 80, o que
então era um dinheirão mal compraria uma casinha de cachorro.
De
qualquer forma, George e Martha não têm os 20.000 dólares. A caminho da
pobreza, foram atingidos por algumas despesas inesperadas (acontece com todo
mundo) a alguns infortúnios (idem). Em meados da década de 60, o patrão de
George foi apanhado numa briga complicada envolvendo a falsificação do balanço
de algumas empresas, e perdeu o escritório de contabilidade. O emprego de
George foi para o espaço, e junto foi-se o plano de aposentadoria privada do
nosso personagem. Depois de longa busca, ele conseguiu outro emprego, mas jamais
chegou perto de 700 dólares de aposentadoria mensal que ele e Martha
planejavam. Depois de se aposentarem, tiveram de recorrer às suas economias.
Embora as reservas de que dispõem sejam remuneradas com juros três vezes
maiores que o previsto (nos anos 40, juros de 2% ou 3% eram a regra), o capital
deles derrete-se a olhos vistos.
Moram
num apartamentinho que não dá para nada, vivem de feijão enlatado, e passam a
maior parte do tempo perplexos, se perguntando o que foi que aconteceu.
Duas
coisas: planejamento, e em seguida o inesperado.
George
e Martha prenderam-se demais ao seu plano. Deitaram raízes nele. Na sua
cinzenta carreira, George teve várias oportunidades de entrar por caminhos
muito mais promissores. Um amigo, por exemplo, convidou-o para um negócio
juntos. O amigo queria montar um escritório de contabilidade de sociedade com
George. Esse escritório, e esse amigo, hoje estão muito prósperos. Quando a
oportunidade apareceu, porém, George morreu de medo. O risco parecia demais.
Ele e Martha se esconderam no aconchego conforto do seu plano. Achavam que não
precisavam correr nenhum risco. A vida deles estava todinha planejada. O plano
garantia-lhes velhice confortável, uma casinha e uma pequena renda. Com esse
pássaro na mão, para que dois voando?
Foi
assim que eles se deixaram embromar pelo seu próprio plano a longo prazo. Não
lhes passou pela cabeça que o pássaro que acreditavam ter na mão iria bater
asas e voar.
Como
diz o 12º Grande Axioma, planejamentos a longo prazo geram a perigosa crença de
que o futuro está sob controle. Poucas crenças são mais perigosas do que esta.
Olhando
à frente, mal consigo divisar a estrutura básica da semana que vem. A
continuidade dos acontecimentos só dá para isto. Numa quarta-feira, talvez, posso
me sentar e armar algum tipo de planejamento financeiro para a quarta-feira
seguinte. Com certa margem de erro, sou capaz de uma previsão razoavelmente confiável
do valor dos meus investimentos e dos da minha mulher – ações, imóveis, contas
bancárias, prata e tudo o mais – daqui a uma semana. Mesmo um plano ou uma
previsão destas pode acabar de modo ridiculamente errado, é claro. Tanto quanto
sei, a Bolsa pode despencar antes da quarta-feira que vem.
Eu
posso passar com o carro em cima do dedão de alguém, e levar pela proa um
processo que me arranque até o último níquel, sei lá. De qualquer forma, para
um plano de sete dias eu ainda me garanto. A visibilidade não é lá essas coisas,
mas dá-se um jeito.
Um
mês à frente, e a visibilidade cai muito; um ano, e já está quase tudo opaco.
Dez anos... vinte... Bem, aí já não se enxerga é mais nada. Nem formas vagas,
nem contornos, nada, nada mesmo. É como tentar, em Londres, pela madrugada,
enxergar através daqueles nevoeiros que os ingleses chamam de ‘’sopa de
ervilha’’. É totalmente impossível saber o que virá pela frente.
E se
você não consegue enxergar o objetivo do seu plano, como vai traçar um plano
inteligente? Planejar para um futuro que não se vê? Para mim isto parece grossa
bobagem. Contudo, vendedores de seguros de vida, assessores de investimentos e
demais especialistas vivem insistindo que é isso mesmo que você tem que fazer,
e inúmeras famílias, principalmente famílias jovens, continuam a fazê-lo. Como
no tempo de George e Martha, até hoje ainda acham que é muito louvável fazer
planejamentos a longo prazo. E os resultados continuarão sendo mais ou menos os
mesmos.
Um
planejamento é uma ilusão de ordem para toda a vida. Economistas, assessores
financeiros e o pessoal que vende planos de aposentadoria privada para daqui a
vinte anos, falam como se o mundo do dinheiro fosse um lugar da maior ordem, no
qual as mudanças se processam lenta e previsivelmente, como uma árvore crescendo.
Espiando o próximo século, enxergam um mundo financeiro exatamente igual ao
nosso, mais igual até. Maior, mais automatizado, mais isto, mais aquilo. Chegam
a essas tranqüilizadoras conclusões observando as tendências que caracterizam o
nosso mundo, hoje, e jogam essas tendências para o futuro. Tudo muito organizadinho,
e aí dá para cozinhar uma porção de planejamentos a longo prazo.
O
que esses planejadores esperançosos esquecem, ou preferem ignorar, é que o
mundo do dinheiro se parece com uma árvore crescendo, mas só num sentido muito
limitado. É ridículo achar que simplesmente examinando-se as tendências de hoje
pode-se enxergar o mundo futuro. Nos próximos vinte anos, algumas dessas
tendências certamente desaparecerão, ou virarão ao contrário. E ninguém é capaz
de dizer quais. Tendências completamente novas surgirão, aparecerão fatores com
os quais a gente nem sonha hoje. Eventos totalmente imprevisíveis nos apanharão
de surpresa. Mercados subirão explosivamente, outros simplesmente explodirão,
revoluções, guerras, falências, calamidades: quem é capaz de dizer o que vem
pela frente?
O
mundo no qual serão conduzidos os seus assuntos financeiros, daqui a vinte
anos, está oculto por trás de uma cortina que não deixa passar nem uma réstia
de luz. Não se pode saber nem se existirá um mundo do dinheiro,
se existirá o dólar, ou o que comprar com um dólar.
Isto
posto, não faça nenhum plano a longo prazo, nem deixe ninguém fazer por você.
Só serviria para atrapalhar. Em vez disso, viaje leve feito a cigarra. Em vez
de tentar organizar a sua vida para acomodar coisas imprevisíveis, no futuro,
reaja aos fatos à medida que forem surgindo, no presente. Quando enxergar uma oportunidade,
corra atrás; quando vir o perigo, dê o fora.
No
que se refere a dinheiro, tudo que precisa, em matéria de planejamento a longo
prazo, é da intenção de ficar rico. Como, exatamente, é algo que você não pode
saber, a não ser nas linhas mais genéricas. Eu gosto de ações, e geralmente
estou afundando melas até as orelhas. O meu como, então, presumo eu, terá algo
a ver com essa área de especulação. Mas é só isto que sei sobre o meu futuro
financeiro, e é só isto que eu tentarei saber. O único tipo de preparação que
posso fazer para o século que vem, portanto, é continuar estudando o mercado, continuar
aprendendo, melhorando. Se dá para chamar uma coisa tão vaga como esta de
plano, tudo bem, é isso aí que é o meu plano.
O
seu deve ser igualmente solto, sem amarras. Decida-se a aprender tudo que
houver para aprender sobre os negócios que mais o atraem. Porém, jamais perca
de vista a probabilidade... não, a certeza, melhor dizendo, de que o seu meio
especulativo e as circunstâncias que o afetam se modificarão de forma que não é
capaz de imaginar agora. Não se deixe prender, não deite raízes como a formiga;
não queira ser uma vítima potencial do trator do destino.
Brother, com esse medo todo você não vai chegar longe. Passar a vida se preparando ??? Coragem meu amigo, se deixe ser feliz!
ResponderExcluirNão sou eu, é só o capítulo do livro que está com medo.
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