domingo, 3 de agosto de 2014

O SONHO IMPOSSÍVEL - DESVENDAR O TIMING DE MERCADO











O Sonho de todo investidor é descobrir o momento de entrar e de sair de uma posição  na hora certa.  Isso, por vários motivos.  Um deles é que uma pessoa bem-sucedida nessa estratégia não precisa de qualquer habilidade para selecionar ações, porque sabe entrar e sair de uma posição no momento exato por si só gera enormes retornos.

O perigo de entrar e sair de uma posição na hora certa é que, ao conseguirmos isto, tornamo-nos uma presa fácil da próxima estratégia que se proponha a desvendar o timing de mercado. 

A questão de se é possível descobrir o timing de mercado e ganhar dinheiro com isto, e quais os custos envolvidos nesta estratégia, possui fortes adeptos e fervorosos opositores tanto entre os profissionais de mercado quanto no meio acadêmico.  Embora o meio acadêmico seja quase unânime em afirmar que o timing de mercado não vale o tempo e os recursos que consome, os profissionais do mercado mantêm acaloradas discussões em torno destes dois pontos.

Se o timing de mercado não tivesse um custo, todos nós deveríamos tentá-lo, dado os enormes retornos produzidos pelos acertos. No entanto, existem custos expressivos associados às tentativas frustradas de se fazer o timing de mercado:

1 – Ao trocarmos ações por caixa, para em seguida, voltarmos a investir em ações, podemos ficar de fora dos melhores anos do mercado. Em um artigo intitulado “A loucura do Timing de mercado acionário”, Jeffrey analisou os efeitos de se trocar, todos os anos entre 1962 e 1982, ações por caixa para, em seguida, voltar a investir em ações, e concluiu que o potencial de se perder com esta estratégia excede o potencial de se ganhar.  Esse resultado foi confirmado por Chua, Woodward que usaram simulações de Monte Carlo no mercado canadense e confirmaram que, para que um investidor que use a estratégia de timing de mercado não perca dinheiro, é preciso que ele acerte entre 70% e 80% de suas mudanças de posições.

2 – Esses estudos não consideram os custos de transação embutidos nesta estratégia, já que o timing de mercado envolve negociações frequentes.  No limite, uma estratégia de troca de ações por caixa significa liquidar toda uma posição de títulos de capital e começar do zero novamente da próxima vez que decidir investir em ações.

3 – Uma estratégia de timing de mercado também envolve um aumento potencial do seu passivo tributário.  Em consequência, acabaremos por pagar muito mais impostos ao longo de nossas vidas como investidores.

Os ganhos com timing de mercado além de expressivos são visíveis, enquanto que os seus custos nem sempre são tão evidentes.  Isso talvez explique por que tantos investidores e gestores de fundos, apesar de o negarem, tentam fazer o timing de mercado.  Além disso, a visibilidade que têm os estrategistas de mercado das grandes empresas de investimentos parece indicar que a alocação de ativos é percebida como importante.




No entanto, apesar do apelo que possui, o timing de mercado continua a ser um sonho fugaz para a maioria dos investidores.  Quando se estuda a história do mercado, observa-se que o número de investidores bem-sucedidos com esta estratégia é bem menor do que o número de investidores que tiveram sucesso com uma estratégia de seleção de ativos, e, assim mesmo, não fica claro se aqueles que tiveram êxito não foram beneficiados pela sorte.  E por que é tão difícil ter sucesso com o timing de mercado?  Uma das explicações é que existem poucas vantagens competitivas entre os investidores que adotam esta estratégia.  Ainda assim, é possível que, com pesquisas e boas informações, se obtenha uma vantagem informacional no processo de seleção de ações.  Aqueles que fazem o timing de mercado afirmam que podem, a partir de informações disponíveis, utilizá-las de forma mais criativa ou construir modelos melhores que prevejam as mudanças dos mercados.  No entanto, a verdade é que estas estratégias podem ser facilmente imitadas, e a imitação é o beijo da morte nas estratégias de investimentos bem-sucedidas.




É provável que existam tantas estratégias de timing de mercado quanto investidores.  Algumas dessas estratégias são baseadas em indicadores não-financeiros, outras em indicadores técnicos, outras em bandas, outras, ainda, em variáveis macroeconômicas, tais como taxas de juros e ciclos de negócios.  Há, também, as que se utilizam das ferramentas que usamos para avaliar ações:  os modelos de fluxos de caixa descontados e o método dos múltiplos.




Nas últimas décadas, têm existido investidores que alegam poder prever o comportamento futuro do mercado por meio do exame de indicadores não-financeiros.  Alguns desses indicadores são de origem claramente duvidosa e poderiam ser classificados no que chamaríamos de indicadores espúrios.  Outros indicadores, como o índice de saias, que relaciona o preço de ações ao comprimento das saias femininas, se enquadram no grupo dos “indicadores de humor”, que buscam avaliar o estado de espírito dos agentes econômicos, os quais, no frigir dos ovos, são ao mesmo tempo os consumidores que movem a economia e os investidores que determinam os preços.  Por fim, há os “indicadores oba-oba”, que avaliam se os preços de mercado estão se descolando da realidade.






Os investidores que fazem o timing de mercado são as estrelas cadentes do universo dos investimentos.  Embora atraiam muita atenção enquanto brilham, desaparecem rapidamente.  Examinando os timers de mercado mais conhecidos (os gurus do mercado) ao longo do tempo, desde Jesse Livermore, no início do século passado, a Ralph Acampora, o excêntrico estrategista de mercado da Prudencial no início da década de 1990, encontramos um grupo bastante diverso.  Alguns eram especialistas em análise gráfica, outros eram fundamentalistas, outros, ainda faziam mistério quanto aos seus métodos.  No entanto, há três características que são comuns a todos eles:

1 – Uma capacidade de ver o mundo em preto e branco:  Os gurus do mercado não prevaricam.  Muito pelo contrário, fazem declarações corajosas sobre onde o mercado estará daqui a seis meses ou um ano e que, na hora, parecem estapafúrdias.  Acampora, por exemplo, ficou famoso com sua afirmação de que o índice Dow chegaria a 7.000 quando ainda estava em 3.500.

2 – Uma afirmação correta sobre uma grande mudança de mercado:  Todos os que fazem timing de mercado ficam famosos quando acertam pelo menos uma grande mudança de mercado.  Para Livermore, foi o crash de 1929 e para Acampora foi a alta da década de 90.

3 – Personalidades extrovertidas:  Os gurus de mercado são histriônicos natos que usam a mídia de suas épocas como caixa de ressonância para alardear não só suas próprias previsões quanto ao mercado, mas também os seus sucessos.  Na verdade, parte do seu sucesso pode ser atribuída à sua capacidade de fazer com que os outros investidores ajam com base em suas previsões, transformando-as, pelo menos no curto prazo, em profecias auto-realizadas.


JESSE LIVERMORE

Então por que os gurus do mercado tropeçam?  Os mesmos fatores que contribuem para seu sucesso parecem estar subjacentes aos seus fracassos.  Suas convicções absolutas quanto às suas habilidades de timing de mercado e seus sucessos passados parecem levá-los a declarações ainda mais estapafúrdias que acabam por destruir suas reputações.  Joe Granville, um guru do final da década de 70, por exemplo, passou toda a década de 80 recomendando que as pessoas vendessem ações e comprassem ouro e seu boletim informativo foi classificado como o pior da década em termos de desempenho.

JOE GRANVILLE

Todo mundo quer fazer timing de mercado e não é difícil entender por que.  Um timer de mercado bem-sucedido pode gerar retornos muito elevados, com relativamente pouco esforço.  O custo do timing de mercado, entretanto, é alto tanto em termos de custos de transação (quanto maior o giro, maior é a carga tributária) quanto em termos de custos de oportunidade (ficar fora do mercado em anos nos quais o mercado sobe).  Na verdade, precisamos estar certos em cerca de dois terços do tempo para que o timing de mercado dê resultado.





Se acreditamos ser a exceção a essa regra geral de fracasso, e que podemos fazer timing de mercado, poderemos fazê-lo com graus variáveis de entusiasmo.  A estratégia mais simples é a de alterar a composição da alocação de ativos para que reflita nossas visões do mercado, mas isso pode exigir que saiamos do mercado acionário por longos períodos.  Se quisermos estar plenamente investidos em títulos de capital, podemos tentar mudar de estratégia de investimento antes das mudanças de mercado, passando de investimento em valor (em períodos de alto crescimento econômico) para investimento em crescimento (se o crescimento se estabilizar) ou redirecionar nossos recursos entre os diversos segmentos econômicos do mercado.  Por fim, se tivermos fé suficiente em nossas capacidades de timing de mercado para sairmos ilesos, podemos comprar mercados subavaliados e vender mercados superavaliados e realizar lucros significativos quando eles convergirem.  O risco, é claro, é que divirjam e, neste caso, veremos nossa carteira sofrer como consequência.















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