O Sonho de todo investidor é descobrir o
momento de entrar e de sair de uma posição
na hora certa. Isso, por vários
motivos. Um deles é que uma pessoa
bem-sucedida nessa estratégia não precisa de qualquer habilidade para
selecionar ações, porque sabe entrar e sair de uma posição no momento exato por
si só gera enormes retornos.
O perigo de entrar e sair de uma posição na
hora certa é que, ao conseguirmos isto, tornamo-nos uma presa fácil da próxima
estratégia que se proponha a desvendar o timing de mercado.
A questão de se é possível descobrir o timing
de mercado e ganhar dinheiro com isto, e quais os custos envolvidos nesta
estratégia, possui fortes adeptos e fervorosos opositores tanto entre os
profissionais de mercado quanto no meio acadêmico. Embora o meio acadêmico seja quase unânime em
afirmar que o timing de mercado não vale o tempo e os recursos que consome, os
profissionais do mercado mantêm acaloradas discussões em torno destes dois
pontos.
Se o timing de mercado não tivesse um custo,
todos nós deveríamos tentá-lo, dado os enormes retornos produzidos pelos
acertos. No entanto, existem custos expressivos associados às tentativas frustradas
de se fazer o timing de mercado:
1 – Ao trocarmos ações por caixa, para em
seguida, voltarmos a investir em ações, podemos ficar de fora dos melhores anos
do mercado. Em um artigo intitulado “A
loucura do Timing de mercado acionário”, Jeffrey analisou os efeitos de se
trocar, todos os anos entre 1962 e 1982, ações por caixa para, em seguida,
voltar a investir em ações, e concluiu que o potencial de se perder com esta
estratégia excede o potencial de se ganhar.
Esse resultado foi confirmado por Chua, Woodward que usaram simulações
de Monte Carlo no mercado canadense e confirmaram que, para que um investidor
que use a estratégia de timing de mercado não perca dinheiro, é preciso que ele
acerte entre 70% e 80% de suas mudanças de posições.
2 – Esses estudos não consideram os custos de
transação embutidos nesta estratégia, já que o timing de mercado envolve
negociações frequentes. No limite, uma
estratégia de troca de ações por caixa significa liquidar toda uma posição de
títulos de capital e começar do zero novamente da próxima vez que decidir
investir em ações.
3 – Uma estratégia de timing de mercado
também envolve um aumento potencial do seu passivo tributário. Em consequência, acabaremos por pagar muito
mais impostos ao longo de nossas vidas como investidores.
Os ganhos com timing de mercado além de expressivos
são visíveis, enquanto que os seus custos nem sempre são tão evidentes. Isso talvez explique por que tantos
investidores e gestores de fundos, apesar de o negarem, tentam fazer o timing
de mercado. Além disso, a visibilidade que
têm os estrategistas de mercado das grandes empresas de investimentos parece
indicar que a alocação de ativos é percebida como importante.
No entanto, apesar do apelo que possui, o
timing de mercado continua a ser um sonho fugaz para a maioria dos
investidores. Quando se estuda a
história do mercado, observa-se que o número de investidores bem-sucedidos com
esta estratégia é bem menor do que o número de investidores que tiveram sucesso
com uma estratégia de seleção de ativos, e, assim mesmo, não fica claro se
aqueles que tiveram êxito não foram beneficiados pela sorte. E por que é tão difícil ter sucesso com o
timing de mercado? Uma das explicações é
que existem poucas vantagens competitivas entre os investidores que adotam esta
estratégia. Ainda assim, é possível que,
com pesquisas e boas informações, se obtenha uma vantagem informacional no
processo de seleção de ações. Aqueles
que fazem o timing de mercado afirmam que podem, a partir de informações
disponíveis, utilizá-las de forma mais criativa ou construir modelos melhores
que prevejam as mudanças dos mercados. No
entanto, a verdade é que estas estratégias podem ser facilmente imitadas, e a
imitação é o beijo da morte nas estratégias de investimentos bem-sucedidas.
É provável que existam tantas estratégias de
timing de mercado quanto investidores.
Algumas dessas estratégias são baseadas em indicadores não-financeiros,
outras em indicadores técnicos, outras em bandas, outras, ainda, em variáveis macroeconômicas,
tais como taxas de juros e ciclos de negócios.
Há, também, as que se utilizam das ferramentas que usamos para avaliar
ações: os modelos de fluxos de caixa
descontados e o método dos múltiplos.
Nas últimas décadas, têm existido
investidores que alegam poder prever o comportamento futuro do mercado por meio
do exame de indicadores não-financeiros.
Alguns desses indicadores são de origem claramente duvidosa e poderiam
ser classificados no que chamaríamos de indicadores espúrios. Outros indicadores, como o índice de saias,
que relaciona o preço de ações ao comprimento das saias femininas, se enquadram
no grupo dos “indicadores de humor”, que buscam avaliar o estado de espírito
dos agentes econômicos, os quais, no frigir dos ovos, são ao mesmo tempo os
consumidores que movem a economia e os investidores que determinam os
preços. Por fim, há os “indicadores
oba-oba”, que avaliam se os preços de mercado estão se descolando da realidade.
Os investidores que fazem o timing de mercado
são as estrelas cadentes do universo dos investimentos. Embora atraiam muita atenção enquanto
brilham, desaparecem rapidamente.
Examinando os timers de mercado mais conhecidos (os gurus do mercado) ao
longo do tempo, desde Jesse Livermore, no início do século passado, a Ralph
Acampora, o excêntrico estrategista de mercado da Prudencial no início da
década de 1990, encontramos um grupo bastante diverso. Alguns eram especialistas em análise gráfica,
outros eram fundamentalistas, outros, ainda faziam mistério quanto aos seus
métodos. No entanto, há três
características que são comuns a todos eles:
1 – Uma capacidade de ver o mundo em preto e
branco: Os gurus do mercado não
prevaricam. Muito pelo contrário, fazem
declarações corajosas sobre onde o mercado estará daqui a seis meses ou um ano
e que, na hora, parecem estapafúrdias.
Acampora, por exemplo, ficou famoso com sua afirmação de que o índice
Dow chegaria a 7.000 quando ainda estava em 3.500.
2 – Uma afirmação correta sobre uma grande
mudança de mercado: Todos os que fazem
timing de mercado ficam famosos quando acertam pelo menos uma grande mudança de
mercado. Para Livermore, foi o crash de
1929 e para Acampora foi a alta da década de 90.
3 – Personalidades extrovertidas: Os gurus de mercado são histriônicos natos
que usam a mídia de suas épocas como caixa de ressonância para alardear não só
suas próprias previsões quanto ao mercado, mas também os seus sucessos. Na verdade, parte do seu sucesso pode ser
atribuída à sua capacidade de fazer com que os outros investidores ajam com
base em suas previsões, transformando-as, pelo menos no curto prazo, em
profecias auto-realizadas.
JESSE LIVERMORE
Então por que os gurus do mercado
tropeçam? Os mesmos fatores que
contribuem para seu sucesso parecem estar subjacentes aos seus fracassos. Suas convicções absolutas quanto às suas
habilidades de timing de mercado e seus sucessos passados parecem levá-los a
declarações ainda mais estapafúrdias que acabam por destruir suas
reputações. Joe Granville, um guru do
final da década de 70, por exemplo, passou toda a década de 80 recomendando que
as pessoas vendessem ações e comprassem ouro e seu boletim informativo foi
classificado como o pior da década em termos de desempenho.
JOE GRANVILLE
Todo mundo quer fazer timing de mercado e não
é difícil entender por que. Um timer de
mercado bem-sucedido pode gerar retornos muito elevados, com relativamente
pouco esforço. O custo do timing de
mercado, entretanto, é alto tanto em termos de custos de transação (quanto
maior o giro, maior é a carga tributária) quanto em termos de custos de
oportunidade (ficar fora do mercado em anos nos quais o mercado sobe). Na verdade, precisamos estar certos em cerca
de dois terços do tempo para que o timing de mercado dê resultado.
Se acreditamos ser a exceção a essa regra geral
de fracasso, e que podemos fazer timing de mercado, poderemos fazê-lo com graus
variáveis de entusiasmo. A estratégia
mais simples é a de alterar a composição da alocação de ativos para que reflita
nossas visões do mercado, mas isso pode exigir que saiamos do mercado acionário
por longos períodos. Se quisermos estar
plenamente investidos em títulos de capital, podemos tentar mudar de estratégia
de investimento antes das mudanças de mercado, passando de investimento em
valor (em períodos de alto crescimento econômico) para investimento em
crescimento (se o crescimento se estabilizar) ou redirecionar nossos recursos
entre os diversos segmentos econômicos do mercado. Por fim, se tivermos fé suficiente em nossas capacidades
de timing de mercado para sairmos ilesos, podemos comprar mercados subavaliados
e vender mercados superavaliados e realizar lucros significativos quando eles
convergirem. O risco, é claro, é que
divirjam e, neste caso, veremos nossa carteira sofrer como consequência.
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