Falamos em uma postagem anterior
sobre a taxa de crescimento de lucros que uma empresa vem apresentando em
um determinado período que ocorreu no passado. E mostramos a nossa preferência
em medi-la em crescimento real ao invés de nominal. Agora vamos começar a nos
preocupar com o que vai acontecer com esta taxa no futuro.
Este é o sonho de qualquer investidor: Prever
o futuro. A forma mais comum de se tentar conseguir isto em diversos
campos do conhecimento humano é olhar para o passado. Assim funciona a
medicina, as estratégias na guerra, os negócios e o marketing. O ser humano
sente um bem estar muito grande em se deparar com situações que já vivenciou
anteriormente. No investimento em ações não poderia ser diferente. Neste ponto
fundamentalistas e grafistas tem muito em comum. Ambos tentam aliviar suas
incertezas em relação ao futuro buscando dados no passado. Os fundamentalistas,
pelo seu lado vendo como vem se processando o endividamento da firma, o
lucro, o fluxo de caixa, as margens e a eficiência da administração do empreendimento
com o passar dos anos. Já os grafistas vendo como se processa a tendência de
preço, volume, médias temporais, suportes e resistências. Todos acreditando que
aquilo que aconteceu no passado deve prosseguir, de alguma forma, no
futuro.
Vamos voltar ao nosso assunto. Qual será a
taxa de inflação no futuro? Se alguém soubesse isto com muita certeza teria
grande chance de ficar rico. Por isto preferimos trabalhar com valores reais,
que são aqueles líquidos já descontados da inflação. Mas uma coisa ainda nos incomodará
terrivelmente. Qual será a taxa de juros do Mercado? Mais uma vez uma enorme
dúvida. Muita especulação existe atualmente sobre o posicionamento de Tombini, o presidente do Banco Central, sobre a taxa básica de juros da economia. E como é fácil
prever, estas "dúvidas" abalam o mercado terrivelmente porquê fazem o
investimento em renda variável ficar mais ou menos interessante comparado com o
retorno sem risco oferecido pelo Governo (sem risco porquê o Governo tem
o monopólio da máquina de imprimir dinheiro. Na falta de dinheiro algumas horas
extras de trabalho na "gráfica" serão suficientes). O que todo
investidor deve querer é que o seu retorno seja superior ao conseguido por um
investimento conservador, quanto a isto não há dúvidas. Se não fosse isto
para que iríamos "arriscar" o nosso dinheiro? O que queremos saber é
quanto vamos conseguir acima deste investimento conservador e com que
grau de certeza podemos prever isto. Neste ponto duas coisas então se
tornam fundamentais: Qual será a taxa de juros no futuro? Qual será a
taxa de crescimento de lucros no futuro de nosso projeto de investimento? E,
por conseqüência, qual deve ser a diferença entre elas?
Alexandre Tombini
Warren Buffet, o segundo homem mais rico do
mundo (perdendo apenas para Bill Gates) tem uma idéia bastante interessante
sobre isto. Muitos Fundamentalistas acreditam que deva colocar uma margem extra
sobre o juros básicos da economia, para justificar o risco do uso do dinheiro.
Isto significaria dizer que se a taxa de juros fosse, por exemplo 10% deveria
ser acrescida um valor "X"
a esta taxa de juros que embutiria o risco do mercado acionário como um todo, e
mais uma parcela ainda sobre o risco específico daquela determinada ação
oscilar mais ou menos que o mercado.
Warren acredita que podemos eliminar esta
margem extra com um profundo conhecimento do negócio. Este conhecimento
teria ainda outros importantes aliados: dados consistentes e previsíveis
no passado, uma forma de administração voltadas aos verdadeiros donos do
negócio: os acionistas. Isto se consegue com uma política feroz de controle de
custos, comprovado por uma margem líquida razoável comparado com outras firmas
do mesmo o setor, se não aumentando, pelo menos não diminuindo, também
com um retorno sobre o dinheiro dos acionistas (Patrimônio Líquido)
espetacular. E, de preferência, em um negócio que além de ser do nosso círculo
de competência seja passível de se fazer uma previsão para o futuro em termos
de aumento de vendas, aumento de lucros e aumento de despesas para expansão do
negócio com alguma segurança. Já, pelo lado estratégico, é importante que o
negócio seja previsível em termos de concorrência e liderança setorial, da
possibilidade de expansão em outros mercados, de preferência em algum setor quase
monopolista em ambientes de difícil controle de preços.
Mas e o "risco" da oscilação de preços? Warren costuma dizer que, para
ações que conhecemos profundamente, oscilação é sinônimo de oportunidade.
Mas aonde quero chegar com isto tudo ?
É que atendidas as premissas acima, Warren acha que não precisamos nos
preocupar com margem extra para taxa de juros, aplicando apenas a taxa básica
da economia.
Nos Estados Unidos ele aplica a taxa do
tesouro de 30 anos. E faz uma ressalva, como descrito em sua última reunião
anual: " - Nós empregamos as mesmas
taxas de desconto em todas as ações. Desta forma podemos ser mais conservadores
em estimar o fluxo de caixa em algumas situações. Não é porquê as taxas de
juros estão em 1.5% que significa que nós gostaremos de investimentos que
retornem de 2 a 3%. Nós temos um padrão em nossa cabeça que é muito maior que
as taxas do Governo. Quando nós procuramos por um negócio, estamos pensando em
ficar com ele para o resto da vida, desta forma, não contamos que as taxas
ficarão assim tão baixas pelo resto da vida."
Mas como isto se aplicaria no Brasil?
Para aqueles que preferem trabalhar com crescimento
nominal poderiam trabalhar com a taxa SELIC, mas como preferimos
trabalhar com taxas reais de crescimento, por motivos anteriormente expostos,
precisamos de uma taxa diferente.
A melhor taxa para isto no Brasil é a TJLP
(Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDS. É nesta taxa que o Banco efetua seus
empréstimos às empresas no Brasil. Ela pode ser encontrada em quase todos os
jornais na seção indicadores de finanças. Mas você pode alegar que nunca
conseguiria um empréstimo em um banco a esta taxa. No mercado americano também
não se consegue a taxa do tesouro de 30 anos. Mas o que eu recebo da firma são
dividendos o que isto tem a ver coma taxa de empréstimo do BNDS ? Bom, para
interpretarmos isto de uma outra forma podemos levar em consideração que
a TJLP fica muito próxima da poupança, que é a único investimento garantido
pelo Governo.
Ao estimarmos um "preço justo" para
a compra de um papel, devemos também estar de olho nas perspectivas para esta
taxa, se são de queda ou de elevação. É fácil entender que quanto menor forem
as taxas de desconto maior será o preço justo, e quanto maior a taxa de desconto
menor o preço justo. Somos então mercês do que vai acontecer com esta taxa mostrando aí
a primeira fragilidade do cálculo do "preço justo".
Mas porquê chamamos a isto de desconto?
Porquê receber o mesmo dinheiro no ano que vem é completamente diferente de
receber este dinheiro hoje.
Vamos supor que a taxa de juros básica da
economia seja de 10%. Se alguém pegar emprestado R$ 20.000 para lhe pagar o ano
que vem, deverá lhe pagar naquele momento R$ 20.000 x 1,10 = 22.000,00 ainda
corrigidos pela inflação. (Que aqui foi desconsiderado pois trabalharmos com
moeda real e não nominal).
Mas se a pessoa for lhe pagar R$ 20.000 reais
o ano que vem, quanto você poderá emprestar para ela hoje ?
R$ 20.000/1,10 = R$18.181,82.
Isto na Matemática Financeira é conhecido
como Valor Presente.
Você só vai querer investir em alguma coisa
se conseguir um retorno superior a R$20.000 - R$18.181,82 = R$1.818,82.
Se não, você não vai contentar-se com o mercado financeiro.
Vamos supor que você consiga um excelente projeto
de investimento que retorne R$24.000 daqui a um ano, com os mesmos
R$18.181,82 iniciais. Qual seria o valor presente deste projeto ?
Fácil: R$24.000/1,10 = 21.818,18
Quanto eu ganhei nesta operação?
A resposta é depende. Hoje ou no ano que vem?
Em termos de dinheiro de hoje eu
coloquei 18.181,82 e recebi 24.000,00 daqui a um ano (que correspondem a
21.818,18 hoje). Logo meu ganho hoje será de 21.818,18 - 18.181,82
= 3.636,36 nos dias de hoje.
Leia de novo este exemplo e veja se fixou os
conceitos, pois é com eles que chegaremos ao "preço justo".
sensacional
ResponderExcluirTeu blog é muito bacana, mas essas letras na cor branca em um fundo em preto é terrível pra ler.
ResponderExcluirEu vou mudar a cor da letra para um cinza claro. Veja se agora está legível.
ResponderExcluirConcordo que o conceito básico é esse, mas o exercício de valuation vai muito além disso.
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