SE NÃO DEU CERTO DA PRIMEIRA VEZ, ESQUEÇA
A
perseverança é como o otimismo: sempre teve críticas favoráveis. ‘’Se não
conseguiu da primeira vez, tente, tente de novo’’, teria dito um antigo rei
inglês, depois de observar uma aranha tecendo a sua teia após vários começos em
falso. Para aranhas, com certeza um bom conselho. Para reis, que geralmente
nascem ricos, também pode ser. Para pessoas comuns como você e eu, que damos
duro para faturar algum, é um conselho a ser considerado muito seletivamente.
Há
inúmeras áreas da vida em que a perseverança pode nos ser muito útil. Em
especulações, porém, embora haja momentos em que é de utilidade, há outros em
que pode levar-nos ao desastre.
Como?
Um corretor da Merrill Lynch conta a seguinte história: Ao longo de vários
anos, até pouco tempo, ele teve uma cliente obcecada com Sears, Roebuck. Tinha
porque tinha que ganhar algum dinheiro com esse papel, ainda que isto a levasse
à falência. E quase a levou.
Apaixonara-se
por Sears, Roebuck enquanto trabalhava na área administrativa da Universidade
de Chicago. A empresa, que tem sua sede em Chicago, sempre fora generosa com a
Universidade. Uma fabulosa doação foi a editora de Encyclopaedia Britannica,
que era de propriedade da Sears mas que, através de diversos acordos e contratos
de direitos autorais, fazia desaguar o seu verdadeiro caudal de receita nos
sedentos cofres da universidade. Quando soube disto, a nossa personagem ficou
encantada. Ainda estudante, resolvera que, se um dia tivesse a investir, só
compraria ações de empresas que dessem boas contribuições à sociedade. Beirando
os 40 anos, e com algum dinheiro sobrando, resolvera que o que queria era
Sears.
Não
há nada de errado em escolher seus investimentos por critérios como este, desde
que não se esqueça de que está no mercado, principalmente, para ganhar
dinheiro. Se você rejeita investimentos porque ofendem as suas sensibilidades
sociais ou políticas, pode limitar um pouco o seu campo de ação, mas não muito.
Existem inúmeras empresas, como a Sears, que são boas cidadãs e, ao mesmo
tempo, faturam um caminhão de dinheiro quando as coisas andam direito.
Para
começar, a mulher comprou um punhado de ações da Sears. Infelizmente, o papel
não recompensou o seu afeto. Por motivos que ninguém, nem antes, nem depois,
foi capaz de explicar, nos 12 meses seguintes a clientela resolveu ficar longe
das lojas Sears e dos seus famosos catálogos. E não só da Sears, mas dos magazines
em geral. As ações dos grande varejistas como a Sears deram um mergulho.
Bem
aconselhada – veja o 3º Grande Axioma, DA ESPERANÇA, ela liquidou a posição,
absorvendo uma perda de 15% a 20%. Guardou o que sobrou no banco.
A
ação ficou quase um ano na bobeira, nem pra cá, nem pra lá. De repente, para
surpresa geral, deu um salto. Passou pelo ponto em que a nossa personagem
vendera, e seguiu em frente.
Boquiaberta
e irritadíssima, ela ficou só olhando. Mais o preço subia, mais zangada ela
ficava. Sentia-se traída, seduzida e abandonada. Como ousava a ação fugir dela
daquele jeito?
Na
sua maneira de ver, a ação lhe devia algo. Nossa personagem pôs na cabeça que
tiraria algum dinheiro dela, nem que tivesse de lhe torcer o pescoço.
Começava
a sofrer um ataque de perseverança. Ligou para o seu corretor e o informou de
que estava tornando a comprar Sears. O homem discutiu com ela. A ação estava um
pouco alta. Tão alta que o dividendo anula ficaria abaixo de 4% do valor atual
da ação, algo raríssimo na história da empresa. Teimosamente, ela insistiu.
Queria voltar à Sears, e fazer o papel pagar o que lhe devia. Não
pagou. Tornou a cair.
E
assim foi, durante anos. A decisão de obter um ganho com aquele papel cegou-a
para todas as outras oportunidades, outras boas jogadas em que poderia ter
entrado. Ela ‘’caçava’’ a Sears, no pico das altas e no fundo
das baixas, quase sempre perdendo dinheiro, porque a obstinação perturbava a
sua visão e não a deixava raciocinar com lógica.
Finalmente,
em fins de 1982, ela teve a satisfação de possuir ações da Sears quando elas
tiveram um bom desempenho. Parece que isto resolveu o problema da mulher. As
ações haviam, finalmente, resgatado a dívida que tinham com ela.
Mas,
será mesmo? Todos aqueles anos que ela estivera caçando a Sears, o dinheiro
dela poderia ter estado em outras transações – estas escolhidas a frio, pelos
seus méritos e não por teimosia. Algumas dessas transações poderiam tê-la
enriquecido. A caça à Sears deixara-a apenas um pouquinho melhor do que no
começo, tendo havido momentos em que, por se recusar a abandonar o papel,
poderia ter acabado com pesados prejuízos.
É
por aí que se orienta um programa especulativo? Não, mas é típico de
investidores noviços. Mesmo os especuladores mais experimentados às vezes caçam
um investimento, por pura teimosia, resolvidos a tirar leite de pedra a
qualquer custo. Por razões que eu jamais entendi, Frank Henry vivia comprando e
vendendo imóveis nos arredores de Morristown, em Nova Jersey, quando deveria
estar com a sua atenção noutro lugar. Ele perdera dinheiro numa transação
imobiliária para aqueles lados, e não havia o que o fizesse ficar quieto e
largar aquilo de mão. Eu tive o mesmo problema, uma vez, com IBM, e até hoje
não fiquei totalmente curado. O diabo da ação me deve um dinheiro, e, embora
nem negocie mais com ela, volta e meia eu me imagino comprando ou vendendo IBM
a termo e ficando enlouquecido quando sobe e eu não estou na jogada.
É
humano, mas é besteira. Como é que um papel de investimento pode lhe ‘’dever’’
dinheiro? Alguém pode lhe dever. Se a pessoa não pagar, está no seu direito de
cobrar, e ficar zangado se o comportamento irresponsável continuar. Porém, se
você perder dinheiro num metal precioso ou numa obra de arte, é ilógico
personificar o meio de investimento com idéias sobre ‘’dever’’. Não apenas é
ilógico, mas pode levá-lo ao comportamento do tipo caçador, que provavelmente
vai lhe custar mais dinheiro ainda.
Digamos
que tenha perdido algum dinheiro em Sears. Claro que está a fim de recuperar o
que perdeu. Mas, por que essa recuperação tem de ser com Sears?
Um
ganho é um ganho, venha de Sears ou de onde for. Não importa onde o conseguir,
é dinheiro igual. Com todo um grande e maravilhoso mundo de opções aberto, por
que ficar obcecado com o investimento no qual perdeu algum? Por que perseverar
em Sears, num momento em que outros investimentos, racionalmente considerados,
podem ser mais promissores?
As
razões da perseverança são emocionais, e não são fáceis de explicar. Conforme
observamos, a idéia de ‘’dever’’ vem da personificação da entidade
especulativa: ‘’Esse investimento levou o meu dinheiro. Eu vou ficar atrás dele
até pegar o meu de volta, ou não me chamo Fulano de Tal!’’ Junto com isto vão
vagos sentimentos de vingança: ‘’Esse papel vai ver quanto custa me fazer de
bobo!’’ E há também o desejo de ter razão, já estudado sob outro Axioma: ‘’No
final, provei que estava certo!’’ Todas essas razões emocionais fervendo no
mesmo caldeirão resultam num estado de espírito no qual o raciocínio do especulador
vai para o espaço.
Pairar
acima dessa tempestade emocional não é mais fácil do que outros ajustamentos
internos a que um especulador tem de se obrigar, mas não há como não o fazer.
Conforme observei antes, quando estudávamos outra difícil manobra mental, este
não é um livro de aconselhamento psicológico, e eu não tenho nenhuma psicanálise
instantânea a oferecer. Se você está com problema e não consegue resolver essa
história de perseverar numa operação que está dando prejuízo, talvez um papo
com um amigo, com a sua mulher ou com o seu barman preferido possa ajudar. Um
bom concerto ou um cineminha também são capazes de aliviá-lo, de fazer você
esquecer seus problemas por algumas horas. Para mim, uma caminhada de uns cinco
quilômetros é um santo remédio. Cada um acaba encontrando o seu próprio caminho
da salvação.
Parabéns, Belos artigos!
ResponderExcluir