COM FREQUÊNCIA, A MELHOR HORA DE SE COMPRAR ALGUMA COISA É QUANDO NINGUÉM A QUER.
As
pressões da opinião majoritária são perturbadoras, principalmente quando se
aplicam às questões de em que e quando investir. É aí que especuladores
normalmente muito espertos se deixam embrulhar, com maus resultados.
Tomemos
a Bolsa de Valores como exemplo. Qual é a melhor hora de se comprar uma ação?
Quando o preço está baixo, é lógico. E a melhor hora de vender? Ora, quando
está alto, claro. As crianças aprendem isto no jardim-de-infância, e mesmo que
ninguém lhes tenha ensinado, aprendem sozinhas.
O
que geralmente não aprendem até a idade adulta é que esta fórmula,
aparentemente tão simples, é dificílima de ser posta em prática. Boa parte
dessa dificuldade se deve ao fato de que o especulador tem de ir contra a pressão
da opinião pública.
Como
regra geral, o preço de uma ação - ou de qualquer outro objeto de especulação
com igual fluidez – cai quando um número significativo de pessoas passa a crer
que não vale a pena comprá-la. Quanto menos interessante acharem que é, mais
desce o preço. Daí o grande paradoxo que não é ensinado no jardim de infância: a
hora de comprar é precisamente quando a grande maioria está dizendo que não
deve comprar.
Na
hora de vender, a verdade é o contrário. O preço de um objeto de especulação sobe
quando um grande número de compradores briga para adquiri-lo. Quando todo mundo
estiver gritando: ‘’Eu quero!’’, você deve estar do outro lado do balcão,
tranqüilamente, dizendo: ‘’Aqui está, com o maior prazer.’’
Tomemos
um exemplo específico. No começo da década, a indústria automobilística caiu
num amplamente divulgado mar de problemas. Eram problemas graves e, pelo que se
podia ver, insolúveis. Detroit olhava para o futuro, e era a boca do inferno.
Falava-se abertamente de falências entre montadoras e fabricantes de autopeças.
Fechavam-se
fábricas, uma após a outra. Milhares de operários viram-se na rua,
desempregados. Numa tentativa desesperada de reter capital de giro, de 1979 a
81 a GM cortou seus dividendos pela metade; no ano seguinte, a Ford não pagou
dividendo nenhum.
A
maioria das opiniões - dos sindicatos de Detroit aos clubes e bares de Wall
Street - era de que a indústria estava mesmo num buraco, e que não sairia dele
por muito, muito tempo. Para a maioria, quem àquela altura comprasse ações da
indústria automobilística tinha mais era que passar por um psiquiatra.
Indesejadas, as ações desceram a níveis assustadores. Em 1981 ou 82, podiam-se
comprar GM ordinárias a 34 dólares - em mais de vinte anos não haviam estado
tão baixo -, e muitos especialistas previam que ainda desceriam mais. As da
Ford, ajustando-se ao desdobramento de cada 2 ações em 3 sem aumento do capital
da empresa, tinham tido seu valor nominal diminuído e naqueles anos ruins
estavam por 11 dólares.
O
resultado é que quem ignorou a opinião majoritária daqueles anos fez um
excelente negócio. Os papéis da GM, que em meados de 82 eram comprados a 34
dólares, em 1983 já custavam 80; a Ford mais que quadruplicou, de 11 para 46 e
um quebrado.
Os
problemas da indústria haviam sido mais passageiros do que a maioria achava
possível. Ganharam dinheiro os especuladores que não deram bola ao que dizia a
maioria, e resolveram pelas próprias cabeças.
É
sabidamente difícil, porém, pensar ‘’sim’’ quando em volta está todo mundo
berrando ‘’não!’’ Para alguns especuladores, este é um dos grandes problemas.
Maiorias estão sempre dissuadindo-os de executarem bons lances.
Durante
a catástrofe da indústria automobilística, aconteceu com a minha mulher. No
começo de 82, ela vendeu um CDB de seis meses que trazia guardado. Tinha um
palpite sobre Ford que, conforme vimos, estava no fundo do poço. Ela gostava
dos carros da Ford, vivia ouvindo outras mulheres elogiá-los, e achava que os
choros e ranger de dentes que se escutavam em Detroit eram apenas um ataque de
pânico e autocomiseração, e que passaria logo. Foi conversar com o seu corretor
sobre a compra de ações da Ford.
O
homem riu na cara dela. Tratava-se de um sujeito mergulhado até as orelhas na
opinião majoritária, e era capaz de documentar essa opinião, abundantemente.
Artigos em jornais, relatórios, análises e, naturalmente, o próprio preço baixo
do papel. Tudo isto formava um poderoso coro: ‘’não compre!’’
Ela
não comprou. Da parte dela, tal atitude foi muito inusitada, pois na maioria
das situações costuma pensar por conta própria e chegar sozinha às conclusões.
Nesse caso, porém, a pressão da maioria foi simplesmente demais. Ela não
resistiu.
A
pressão da maioria não só é capaz de demolir um bom palpite; nos faz duvidar
até mesmo quando sabemos que temos razão. O departamento de psicologia da
Universidade de Princeton costumava demonstrar isto.
A
experiência era maldosa, mas extraordinariamente eficaz. Oito ou dez pessoas
sentavam-se à volta de uma mesa. Ao centro, meia dúzia de lápis de cores
variadas. Todos do mesmo comprimento, exceto um - o vermelho, digamos -, que
era obviamente mais curto que os demais. À
volta da mesa, pedia-se que as pessoas opinassem sobre o comprimento do lápis.
A maioria - todo mundo menos uma pessoa espantadíssima - expressava opiniões
claramente erradas, que iam contra o que os olhos viam. Diziam que os lápis
eram todos do mesmo tamanho.
A
maioria havia sido ensaiada, e sabia o que estava acontecendo. Todas as pessoas
ali estavam por dentro, menos uma. A idéia era ver como essa pessoa reagiria.
Em
cerca de um terço dos casos, a vítima entrava em colapso moral e acompanhava a
maioria. Apesar da evidência diante dos seus olhos, a pessoa relutava, chiava,
suspirava, se contorcia e acabava concordando, é, está legal, acho que têm
razão, os lápis são todos do mesmo tamanho.
Ir
contra a maioria é das coisas mais difíceis do mundo. Não é fácil nem quando a
discussão trata de fatos que podem ser vistos e medidos. Fica muito mais
complicado quando se trata de questões de opinião, que não podem ser
imediatamente verificadas. Quase todas as questões que mexem com dinheiro são
do segundo gênero.
Tanto
quanto sei, não existe um curso de fortalecimento dos músculos mentais que
possa reforçar a sua capacidade de resistir a pressões da maioria. Em jantares,
às vezes coloco-me de propósito na condição de minoria de um, expressando
alguma opinião idiota que, com certeza, fará todo mundo querer me bater: ‘’A guerra
nuclear pode ser uma coisa muito menos horrorosa do que aquelas guerras
antigas, nas quais as pessoas eram esquartejadas por espadas’’, ou outra
bobagem parecida. É muito estimulante tentar defender-se de uma maioria assim
enraivecida; se o fortalecerá para a próxima vez que a Ford estiver num
atoleiro e você quiser comprar suas ações, não sei dizer.
A
melhor defesa contra a pressão da maioria, provavelmente é saber que existe e
conhecer o seu poder coercitivo. Com freqüência, os noviços em especulações
parecem não ter essa consciência. Um noviço desses é capaz de ser atropelado
por uma maioria sem sequer se dar conta do que lhe está acontecendo.
Assim,
sempre se encontrarão noviços entre as hordas especuladoras atraídas por
modismos. Quando ouro é a Especulação do Mês - está todo mundo falando, todas
as colunas de jornais comentam furiosamente os negócios de ouro, é aí que o
especulador recém-nascido mergulha e vai fundo. É, também, quando a cotação do
ouro está nas alturas, mas as pessoas parecem levar muito tempo até se darem
conta disto. Da mesma forma, quando as companhiazinhas de baixo capital e alta
tecnologia são o quente de Wall Street, quando a cotação das suas ações está
nas nuvens, é aí que aparecem os especuladores recém-nascidos, trazendo o seu
dinheirinho para aumentar a pilha que um dia será uma fogueira.
Levam
o noviço no bico sem que ele sequer se dê conta de que está sendo levado. Ele
nem se detém para perguntar: ‘’Estou tomando esta decisão porque é melhor, ou
porque a maioria diz ser a melhor?’’ Esta é a pergunta que Descartes faria.
Podia investir em ouro, ou em alta tecnologia, mas somente pelas suas próprias razões,
pouco se incomodando com o que o rebanho estivesse pensando ou fazendo.
Nos
seus esforços para resistir às pressões do rebanho, você terá de enfrentar,
além do mais, a pressão de corretores e de outras pessoas que ganham com as
suas transações especulativas. Esses prestadores de serviços, atrás de suas
comissões e taxas, estão sempre a fim de empurrar o que for o quente na hora, o
que estiver nas graças do público, o que for mais caro. Se você é um
especulador habitual, será constantemente bombardeado por anúncios, conversas
de camelô e por tudo que ajudar a lhe empurrar o que a maioria estiver
comprando.
Não
é que esses prestadores de serviços, por uma maldade qualquer, estejam a fim de
vê-lo pobre. Ao contrário, até gostariam que você enriquecesse, em parte porque
significaria ganharem mais dinheiro, através de taxas e comissões, e em parte
porque são seres humanos como todos nós: gostam que as pessoas sorriam para eles.
Mesmo assim, como qualquer vendedor de qualquer coisa, têm de estar atentos ao
que o público quer.
Por
exemplo, nas recessões, quase sempre o que o público quer é ouro. Quando a
economia nacional está fazendo água e exibindo rachaduras, as moedas, as ações
e tudo o mais está desabando, o metal amarelo parece um cofre forte guardando o
seu próprio valor. Em tempos negros, como o início da década de 80, o preço do ouro
tende a subir, porque está todo mundo comprando. Conforme já discutimos, é a
hora em que você deve tomar o maior cuidado se for fazer a mesma coisa. É, também,
a hora em que a pressão de venda do ouro atinge o seu pico. No começo dos anos
80, os jornais andavam cheios de anúncios oferecendo barras de ouro, moedas,
medalhas. As corretoras badalavam as ações de mineradoras de ouro, como a
Homestake. Fundos mútuos especializados em investimentos ligados ao ouro despachavam
toneladas de folhetos e prospectos. Serviços especializados ofereciam análises
e profecias sobre o ouro. Se quisesse pôr o seu dinheiro em ouro ou em qualquer
investimento ligado ao metal, bastava-lhe dar um telefonema a cobrar que
dezenas de felizes operadores estavam ali mesmo para tomar o seu pedido.
Pelo
final de 1983, porém, quando as condições econômicas pareciam mais róseas e a
cotação do ouro andava em baixa, era preciso procurar com uma lupa quem lhe
vendesse uma moeda de ouro.
Nada
disto quer dizer que você fará, automaticamente, seja o que for que a maioria
não estiver fazendo. Quer apenas dizer que você tem de resistir, teimosamente,
às pressões da maioria, em vez de apenas ir na onda. Estude qualquer situação
pela própria cabeça, processe-a no seu belo cérebro. É possível que você
conclua que a maioria está errada, o que nem sempre é o caso. Se concluir que
está todo mundo certo, por favor, entre na dança. Mas, atenção: faça o que
fizer, apostando a favor ou contra o rebanho, para começo de conversa pense
pela sua própria cabeça.
Há
especuladores que têm por dogma ir contra a maioria, automaticamente. Dizem ser
pensadores ao contrário, ou os contrários. A filosofia deles baseia-se no
paradoxo que vimos examinando: freqüentemente, a boa hora de se comprar alguma
coisa é quando parece menos atraente. Assim, você topará com contrários comprando
ações nos buracos negros da depressão, ouro no auge dos demais mercados, esta
ou aquela escola de pintura quando está todo mundo usando as telas como papel
de embrulho.
O
problema do contrarismo é que ele começa como uma boa idéia, se cristaliza, e
acaba como mais uma grandiosa ilusão de ordem. É bem verdade que a melhor hora
de se comprar alguma coisa pode ser quando ninguém a quer. Mas comprar
automática e impensadamente, só por isto, comprar só porque se trata de uma coisa
que ninguém mais quer, parece bobagem tão grande quanto correr,
irracionalmente, os riscos do rebanho.
O
rebanho não está sempre errado. Se o valor de mercado de Trashworthy cair a 10
centavos de dólar o metro quadrado, pode ser que seja uma boa oportunidade de
comprar. Por outro lado, quem sabe o rebanho não está certo em deixar pra lá
aquelas manchas estranhas? Quem sabe só servirão mesmo para embrulhar o lixo?
No
começo da década, e acho que com muita razão, quase todo mundo dava as coisas
às ações da Chrysler.
Àquela
altura, se era arriscado pôr o seu dinheiro em GM ou Ford, que andavam por
baixo, comprar Chrysler era a maior loucura. A empresa estava com o pé na cova.
Um empréstimo do governo, em meio a amargos debates, mantinha-a mal respirando;
a longo prazo, o prognóstico era triste. O papel podia ser comprado por 3 ou 4 dólares.
Ao emitir a sua pouco entusiasmada opinião sobre a Chrysler, o rebanho levava
em conta a realidade objetiva: as chances de a empresa se recuperar eram
infinitamente pequenas. A Chrysler parecia um caso terminal.
Hoje,
é claro, com a visão perfeita de quem examina os fatos depois de ocorridos,
percebemos que a opinião pública foi pessimista demais. Contra todas as
probabilidades, contra todos os prognósticos, a Chrysler juntou e recuperou a
saúde. No final de 1983, a ação andava acima dos 35 dólares. Tivesse comprado
um ano e meio antes, teria multiplicado o seu dinheiro por dez.
O
que não modifica o fato de que, do ponto de vista de 1981, o papel era um
enorme tiro no escuro. Ao desprezá-lo, a maioria dos especuladores agia
razoavelmente. Esse era o caso em que uma aposta contrária, ir automaticamente
contra a maioria, teria parecido perfeitamente idiota.
Esse
era um caso em que, realmente, pareceria sensato fazer-se uma exceção ao 1º
Axioma Menor, que diz que só se aposta o que valer a pena. Até meados de 1982,
jogar na Chrysler seria mais ou menos como comprar uma rifa ou um bilhete de
loteria. Sabendo que as probabilidades são de uma em 1 milhão contra, você pões
um dinheirinho só pela farra. Em 1981, se existisse uma lei dizendo que todos
os contribuintes eram obrigados a investir em Chrysler, eu teria comprado uma
ação.
Sei
lá, quem sabe 100? Sempre é bom sonhar com o seu dinheiro multiplicando por dez
em um ano e meio.
Estratégia
Especulativa
O
10º Grande Axioma ensina que a maioria, embora não sempre nem automaticamente
errada, o mais das vezes está errada. Não se vai, automaticamente, a favor nem
contra uma maioria. Principalmente a favor. Cada caso é um caso, e você tem de
pensar pela própria cabeça antes de envolver o seu dinheiro em riscos.
A
maior e mais freqüente pressão em cima de você será a dos que querem obrigá-lo
a ir com o rebanho. Essas especulações tipo maria-vai-com-as-outras, adverte o
Axioma, podem custar caro. É da natureza delas que você compre na alta e venda
na baixa. A mais poderosa linha de resistência a essas pressões é a nítida
consciência da sua existência, e do seu insidioso poder.
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