René Descartes
"Fuja da opinião da
maioria. Provavelmente está errada."
René
Descartes foi campeão mundial da dúvida. Teimosamente, recusava-se a acreditar
em qualquer coisa até que a tivesse verificado pessoalmente. Este foi um dos
traços que fez dele um bem sucedido jogador e especulador.
Morreu
há mais de trezentos anos, mas o especulador moderno aproveitará muito - além
de passar várias noites agradáveis - da leitura da obra desse encantador
homenzinho feioso, com seus olhos negros e penetrantes, o nariz feito um
crescente, e dotado de um gigantesco intelecto.
Descartes
começa a sua filosofia duvidando de tudo, literalmente, inclusive da existência
de Deus, do homem e de si próprio. As autoridades religiosas da sua França
Natal ficaram furibundas, de maneira que foi melhor ele fugir para os Países
Baixos. Continuando a recusar o que os outros queriam vender-lhe como verdade,
ele buscou meios de descobrir a verdade através dos seus próprios sentidos e
experiências. Finalmente, deu com o que considerou uma verdade básica e
indiscutível: ‘’Cogito, ergo sum’’, ou seja: ‘’Penso, logo existo.’’
Agora
convencido de que não era apenas um fantasma dos seus próprios sonhos.
Descartes continuou a comprovar ou rejeitar outras verdades postuladas. No
processo, fez importantes contribuições à matemática, e construiu uma filosofia
que, pela pura lucidez do seu pensamento, não foi superada em três séculos - e,
na minha opinião, nunca teve concorrentes, sequer quem se lhe aproximasse. No
mesmo impulso, também, tanto como hobby quanto porque gostava de vinhos caros e
de outros luxos, Descartes estudou cientificamente os jogos.
Na
primeira metade do século XVII, existiam umas poucas e mal organizadas bolsas
de valores e de mercadorias. Descartes deixou-se fascinar pelo grande e ativo
mercado de Amsterdã; se chegou a pôr o seu dinheiro ali, e em quantidades, não
se sabe. Sabe-se, porém, que freqüentemente viajava a Paris, às vezes com papéis
falsos para não ser preso como herege, a fim de jogar.
Para
tomar dinheiro dos trouxas, havia disponíveis jogos de cartas, tabuleiros e
roletas. Descartes gostava de jogos que, como o bridge e o pôquer hoje em dia,
além de sorte implicavam cálculos matemáticos e psicologia.
Estudava
os jogos com o cuidado e o ceticismo costumeiros, rejeitando todos os clichês e
lugares comuns da sua época, insistindo em descobrir verdades e falácias por
conta própria. Aparentemente, sempre voltava de Paris mais rico do que na ida,
às vezes muito mais. Embora o único meio de vida conhecido, ao longo de toda
sua vida de adulto, fosse uma modesta herança do pai, Descartes morreu
financeiramente muito bem.
O
truque, não se cansava ele de repetir em diferentes contextos, é rejeitar o que
lhe dizem, até ter pensado tudo pela própria cabeça. Duvidava das verdades
afirmadas por autoproclamados especialistas, e recusava-se até a ouvir a
opinião da maioria. Escreveu ele: ‘’Não existe praticamente nada que tenha sido
afirmado por um sábio e não tenha sido contraditado por outro.’’ E também: ‘’
Contar votos não serve de nada. Em qualquer questão difícil, é mais provável
que a verdade seja descoberta por uns poucos do que por muitos.’’
Foi
com esta visão do mundo, arrogante talvez, e certamente solitária, que René
Descartes freqüentou as mesas de jogo de Paris, das quais saiu rico. Um
especulador bem sucedido só tem a ganhar dando atenção às palavras desse
homenzinho duro, de olhar penetrante.
Na
nossa era democrática, no nosso democrático lado do mundo, tendemos a aceitar
sem críticas a opinião da maioria. Se um monte de gente diz que é assim, tudo
bem, assim seja. É como nós pensamos. Se não temos certeza de alguma coisa,
vamos contar os votos. Desde o primário aprendemos que a maioria está sempre
certa.
Nos
EUA e em outras nações ocidentais, é quase uma religião, principalmente na
França e na Inglaterra, ambos países com longas tradições de resolver problemas
pelo voto popular. Se 75% das pessoas acreditam em alguma coisa, parece quase
sacrilégio perguntar, ainda que num sussurro:
-
Ei, esperem aí, será que não podem estar errados?
Guiemo-nos
por Descartes: podem. Nos EUA, é o voto que decide quem governa. É o único meio
de fazê-lo. Pelo menos, é o único meio que os americanos aceitam sem briga. São
treinados desde a infância a aceitar o desejo da maioria. As vezes, há quem resmungue
contra esse desejo - quem perde uma eleição reclama muito -, mas, no fundo, por
trás de todo o som e toda fúria, sempre se ouve o termo da democracia: ‘’O povo
falou. Não se pode iludi-lo. Se é isto que quer, deve estar certo.’’
Essa
humilde aceitação da opinião da maioria passa para a vida financeira. Não
apenas são ouvidos economistas, banqueiros, corretores, assessores e outros
especialistas, mas também as maiorias. E isto pode custar
dinheiro, pois, como dizia Descartes, é mais provável que a verdade tenha sido
encontrada por uns poucos do que por muitos.
Os
muitos podem estar certos, mas as probabilidades são contra eles. Pare com o
hábito de achar que todas as afirmativas muito repetidas são a verdade. ‘’Um
grande déficit orçamentário será a ruína da América’’, diz quase todo mundo. É
verdade? Talvez sim, talvez não. Descubra você mesmo. Tire suas próprias
conclusões. ‘’Na segunda metade da década, aumentarão a inflação e a taxa de
juros.’’ É mesmo? Não engula, simplesmente.
Examine.
Não deixe que a maioria manobre com você. Estudando os outros Axiomas, vimos
muitas coisas que são afirmadas por maiorias. Vale mais um pássaro na mão que
dois voando. Mantenha uma carteira diversificada. Arrisque somente apenas o que
pode se permitir perder. E assim por diante. Todos esses conselhos supostamente
sábios fazem parte do conhecimento popular.
Em
qualquer coquetel ou reunião, é só trazer investimentos à discussão que os
clichês logo aparecem. E, à medida que esses chavões vão sendo repetidos, quem
estiver por perto balançará a cabeça, compenetradamente, e dirá:
-
Exato. Perfeito! Excelente conselho!
A
maioria das pessoas acredita que os antigos clichês são verdades indiscutíveis.
Isto posto, vale a pena observar que a maioria das pessoas não é rica.
Vou começar a divulgar meus investimentos também http://investidorconvicto.blogspot.com.br/
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