EM
30 ANOS, O INVESTIDOR WARREN BUFFETT FEZ SUA FORTUNA CRESCER MAIS DE 3 MIL
VEZES COM MATEMÁTICA BÁSICA E JUÍZO NA HORA DE ANALISAR A ECONOMIA DAS
EMPRESAS, COMO CONTAM OS SEUS MELHORES BIÓGRAFOS.
Warren
Buffett parece uma estrela do rock. Todos os anos, dezenas de milhares
de admiradores do mundo inteiro viajam a Omaha, Nebraska, nos Estados Unidos,
para ouvi-lo falar na assembleia de acionistas de sua empresa, a Berkshire
Hathaway. Muitos dos que comparecem ao evento (apelidado por Buffett de
“Woodstock para capitalistas”) fazem da reunião um ritual em que prestam
homenagem ao homem que os fez ganhar dinheiro graças às ações da Berkshire e às
ideias para investir e fazer negócios.
WOODSTOCK DO CAPITALISMO
Não é de estranhar que a excelente biografia escrita por Alice Schroeder, A Bola de Neve – Warren Buffett e o Negócio da Vida (ed. Sextante), lançada em 2009, venha tendo tanto sucesso. A autora explica como Buffett se transformou em um dos homens mais ricos do mundo e como construiu sua imagem de ética nos negócios e de compromisso com causas filantrópicas.
São
famosas, por exemplo, as cartas de Buffett a seus acionistas. Nelas, ele
analisa os bons e maus negócios, oferece exemplos de gestores que tratam bem os
clientes e os funcionários e obtêm bons lucros ao mesmo tempo, e revela truques
contábeis que enganam investidores.
Em
algumas cartas, Buffett chega a dizer que só se devem pagar bonificações a
executivos quando o desempenho de longo prazo de sua empresa for melhor que o
dos concorrentes. Em outras, alerta sobre desastres iminentes, como quando
garantiu que os derivativos (instrumentos financeiros que são produtos apoiados
em garantias) se tornariam “armas financeiras de destruição em massa”. Durante
a crise hipotecária norte-americana, que contaminou o mundo, declarou que os
ricos, como ele, deveriam ter alíquotas de impostos mais pesadas do que os
assalariados, como sua secretária, por exemplo.
Sua
ação mais importante foi doar à fundação de Bill Gates grande parte de sua
fortuna, a ser aplicada, principalmente, em medicina e educação nos próximos 20 anos. “A ideia de passar a riqueza à geração
seguinte para que meus descendentes possam administrar os recursos alheios só
porque são de minha família contradiz totalmente uma sociedade baseada na
meritocracia”, afirma. E, diferentemente de quase todos os outros filantropos,
Buffett não criou uma fundação nem construiu pavilhões de hospitais ou museus para
perpetuar seu nome.
Máquina de fazer dinheiro
No final da década de 1970, Buffett tinha investido US$ 15,4
milhões na compra de 46% da Berkshire, incluindo 3% para sua esposa, Susan. Pagara,
em média, US$ 32,45 por ação (hoje, os papéis da Berkshire estão cotados acima
de US$ 100). Em 30 anos, Buffett fez sua fortuna crescer mais de 3 mil vezes.
Esse enorme acúmulo de capital se apoia em um método de investimento que ele
aprendeu com o economista Benjamin Graham: usar o bom senso e a matemática
básica na hora de analisar a economia de uma empresa.
Buffett
compra empreendimentos, não ações, ignora as flutuações do mercado de capitais
e sempre opera com uma margem de segurança. Depois de frequentar a Wharton
Business School, Buffett voltou à Columbia University para estudar sob a
orientação de Graham. Em 1951, obteve seu MBA. Mais tarde, modificou o modelo de
seu professor, que propunha contar com uma carteira muito diversificada de
ações baratas, e realizou investimentos concentrados em algumas poucas
empresas, fáceis de entender, estáveis e prósperas, dirigidas por gestores qualificados
e preocupados com os acionistas.
Os lucros e o valor da Berkshire aumentaram
graças a uma combinação de investir os prêmios das apólices de suas operações
de seguros e resseguros na aquisição de empresas como a See’s Candies
(chocolates), a Borsheim’s (joias) e a MidAmerican Energy (serviços de energia)
e pôr o fluxo de caixa livre destas em papéis de liquidez relativamente baixa
e, portanto, de baixo custo de transação, como os do Washington Post, da
Coca-Cola, da American Express e da Procter & Gamble.
É
claro que a mágica matemática dos lucros compostos também ajudou a Berkshire
Hathaway a multiplicar sua riqueza com o passar do tempo. As três regras de
Buffett para a gestão de uma carteira de investimentos são:
1) não perder dinheiro; 2) não se esquecer da regra 1; 3) não se endividar.
Segundo
sua biógrafa, a capacidade de concentração, a racionalidade, a confiança, o
interesse pelo aprendizado constante e a ambição de enriquecer com raízes na
infância foram os grandes impulsionadores do sucesso de Buffett. Por outro
lado, o fundador da Berkshire Hathaway também soube cercar-se de talentos,
atraídos por sua franqueza e justiça e pela liberdade de poder trabalhar sem
interferências.
Buffett
reconhece que também cometeu vários equívocos. O maior foi ter comprado a
fabricante de calçados Dexter Shoes por US$ 433 milhões em 1993 e, depois,
piorar a situação pagando-a com 1,6% das ações da Berkshire, o que custou aos
acionistas mais de US$ 2,2 bilhões –no valor atual dos papéis. As operações
têxteis originais da Berkshire foram outro erro, liquidado em 1985, após anos
de prejuízos. Embora a venda tenha lhe dado o capital para ingressar no negócio
dos seguros – “o pilar da empresa”, como ele mesmo diz –, os funcionários que
perderam o emprego receberam indenizações mínimas quando demitidos.
Naturalmente,
os êxitos de Buffett são muito mais numerosos que seus fracassos. Na bolsa de
valores, conta Schroeder, sua estratégia observa rigorosamente o princípio
fundamental de Graham, de contar com uma margem de segurança. Diante da euforia
dos mercados altistas, Buffett costuma mostrar-se temeroso enquanto outros atuam
com ganância; ele realiza lucros com alguns papéis e poupa o caixa gerado pelos
negócios da Berkshire. Foi o que fez quando vendeu sua participação na PetroChina por US$ 4 bilhões, em 2007, em meio ao rápido
aumento dos preços do petróleo e à loucura por investir em mercados emergentes (tinha
adquirido essa participação em 2002 e 2003 por US$ 488 milhões). Já quando ocorrem quedas abruptas na bolsa de valores ou na
economia, Buffett faz o contrário: compra boas empresas a preços atraentes.
Homem de sorte
Alice Schroeder descreve Buffett como uma pessoa complexa, que tem
habilidade para aproveitar as oportunidades que se lhe apresentam. Na década de
1940, quando era adolescente, vivia em Washington com a família. Seu pai,
grande amigo e exemplo de vida de Buffett, era um deputado republicano
ultraconservador do estado de Nebraska. E o menino Warren já comprava máquinas de
fliperama operadas com moedas e as instalava em barbearias de bairros pobres,
dividindo o lucro com os proprietários dos estabelecimentos. Mais tarde, em
meados dos anos 1970, conseguiu sair ileso de uma investigação feita pela SEC,
a comissão de valores mobiliários dos EUA, a respeito da compra da
participação majoritária na Wesco Financial, imediatamente depois de uma tentativa
de aquisição da seguradora por outra empresa ter fracassado. Na verdade, o insucesso
foi provocado por Buffett e seu sócio Charles Munger, interessados em ficar com
a Wesco. Em 1976, sem admitir nem negar más práticas de compra, Buffett e
Munger acertaram com a SEC US$ 115 mil de indenização aos acionistas da Wesco.
Dessa maneira, Buffett evitou ser multado, o que teria representado um “dano
terrível e irreversível” a sua reputação.
O
acordo com a SEC fez com que Buffett e Munger dissolvessem sua intrincada
estrutura de pequenas participações em numerosas empresas e, com o tempo,
reunissem todas na Berkshire. Schroeder escreve em seu livro que, para
estruturar a Berkshire, Buffett se inspirou em outro
investidor, Jay Pritzker, cuja família é proprietária dos hotéis Hyatt. Será
que também procurava minimizar o pagamento de impostos, como Pritzker, com um
labirinto de empresas controladas por outros?
Decisões equânimes
Na linguagem popular, Buffett sempre se preocupou em “dar uma no
cravo, outra na ferradura”. Vejamos:
• Em 1957, fundou sua sociedade de
investimentos com US$ 105 mil fornecidos por familiares e amigos e com apenas
US$ 100 do próprio bolso. Quando fechou a empresa, em 1969, possuía US$ 26,5
milhões dos US$ 100 milhões em ativos da sociedade, graças à retenção e
capitalização de seus honorários sobre a base crescente de ativos. Ao contrário
dos gestores de investimentos de hoje, que cobram taxas altíssimas, Buffett
aceitou arcar com um quarto dos prejuízos, caso ocorressem – algo que nunca
teve de fazer, já que sua sociedade recebeu lucros anuais compostos de 31% em
seus 12 anos.
• Nos anos 1980, opôs-se publicamente às chamadas “táticas de greenmail
”, praticadas por caçadores corporativos que, depois de comprar grandes
pacotes de ações, ameaçavam desalojar a gerência e só se retiravam se os
acionistas concordassem em recomprar os papéis a um preço mais alto, o que
gerava lucros para eles. Buffett agia no sentido oposto: buscava organizações
que podiam aumentar os retornos para o acionista mediante o uso de caixa ou de outros
ativos que não se refletissem no preço dos papéis, profundamente subvalorizados.
• Em 1989, a Berkshire detinha uma participação de 6% nas ações da
Coca-Cola e Buffett integrou o conselho de administração. Em meados dos anos
1990, quando as ações da Coca--Cola haviam subido várias vezes, seu CEO,
Roberto Goizueta, prometeu um crescimento de 16% a 20% aos analistas de Wall
Street, o que era feito “artificialmente”, embora não fosse tecnicamente ilegal. Buffett sabia disso e calou. Mas,
em 2002, pressionou a Coca-Cola a ser a primeira empresa a contabilizar opções sobre
ações distribuídas a gestores como despesas. Buffett cobra um salário anual
simbólico de US$ 100 mil da Berkshire e não concede a si nem a outros gestores
opções sobre ações.
O ideal de Buffett é um mundo no qual os vencedores se sintam
livres para prosperar. Mas o fato é que ele também se preocupa em reduzir as diferenças,
ajudando os perdedores.
Eu também adora estudar a vida desses homens de sucesso, acho isso fundamental para nosso crescimento como investidores e como pessoas.
ResponderExcluirO que não podemos confundir que a mairia acaba fazendo é querer operar como esses caras. O que vale pra eles não vale pra nós.
Os caras investem milhões ou bilhões em uma empresa numa tacada. Os caras não compram algumas ações apenas eles compram praticamente o comando da empresa.
Só ficarmos atento a esses detalhes.
Você não deve copiar sem saber o que está fazendo. Mas se você estudou uma empresa e gosta dela, e sabe que um grande investidor está adquirindo ela não vai deixar de comprar a empresa que você tanto queria só porque o investidor adquiriu.
ExcluirCada caso é um caso. Se você comprasse a Coca Cola em 1987 e segurasse ela até hoje (no mesmo tempo que Buffett comprou) você ganharia como ninguém. Se você comprasse a Celesc há 11 anos atrás só porque parisotto comprou, perderia 70% do que investiu. Então depende. As vezes é bom comprar, as vezes não. Não é porque um grande investidor comprou uma ação, que você não pode mais olhar para ela e fazer o sinal de cruz credo. Se for uma boa opção, compre junto. Quem comprou a Eternit em 1998 juntamente com Luis Barsi ganhou 3500% em 13 anos.
O Buffett não comprou o comando da Coca Cola e nem da American Express. ele tem 10% da Coca Cola e 5% da American Express. Menos do Que Barsi tem na Eternit. Nem o Barsi consegue trocar o presidente da Eternit com 30% das ações. A gente tem que ver o que é bom e o que é ruim nestes casos de compra por grandes investidores. Tem casos em que é bom comprar junto com eles, e tem casos em que não é bom.
ResponderExcluirEu concordo contigo.
ResponderExcluirO que estou querendo dizer não é para não olharmos para eles nem que não devemos entrar em um investimento por causa que um desses bilionários entraram. Longe disso...
Como esses exemplos que você citou, veja que as empresas que já eram boas continuaram boas e em alguns casos até melhoraram, mas as que já eram ruins não adianta que nem santo ajuda.
As vezes eles compram uma empresa ruim e o pequeno investidor como nós acaba entrando de cabeça achando que vai virar uma turnaround só porque WB ou qualquer outro adquiriu, como você mesmo citou, eles também erram as vezes.