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Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou na quarta-feira a proposta
da BM&FBovespa que modifica a estrutura das corretoras de valores. De
acordo com as novas regras, passam a existir dois tipos de corretoras, as
Participantes de Negociação Plenas (PNP) e as Participantes de Negociação (PN).
As primeiras serão semelhantes às corretoras atuais,
prestando todos os serviços e fazendo todas as operações direto com a bolsa,
como liquidação dos negócios, tendo com isso de manter garantias na BM&F Bovespa.
Já as PN farão o atendimento ao cliente, mas a liquidação e o acesso ao
ambiente de negociação da bolsa serão feitos por intermédio de uma outra
corretora PNP.
As mudanças são importantes pois permitirão às empresas,
hoje na maioria operando no prejuízo por conta do mercado acionário ruim e a
queda no número de investidores, reduzir despesas e se concentrar nas operações
que realmente desejam, deixando os investimentos em tecnologia para terceiros.
Continuará sendo necessário, porém, ser integrante do
sistema de distribuição, ou seja, corretora de títulos e valores mobiliários,
distribuidora, corretora de mercadorias, banco de investimentos ou banco
múltiplo com carteira de investimentos.
Liberação
de R$ 25 milhões
Com isso, além de reduzir as despesas com infraestrutura
e tecnologia para liquidar os negócios, as corretoras plenas que se tornarem PN
poderão liberar as garantias depositadas na bolsa, de R$ 25 milhões, explica
Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa. “Hoje não olhamos as corretoras
por seu tamanho ou seu modelo de negócio e, com esse novo modelo, vamos passar
a diferenciá-las”, diz o executivo. A bolsa tem atualmente 73 corretoras que,
para começar a operar, tiveram de depositar os R$ 25 milhões, o que representa
um valor imobilizado na bolsa de R$ 1,825 bilhão.
EDEMIR PINTO - PRESIDENTE DA BOVESPA
“O projeto passa a reconhecer as corretoras por seu
tamanho e seu modelo de negócio”, explica Edemir, observando que algumas
poderão se concentrar somente no atendimento dos clientes, deixando a parte de
liquidação das operações para outras. Com custo menor, poderão ainda se
especializar em determinados mercados ou clientes apenas, observa.
Fim do conta e ordem
A mudança acabará ainda com o sistema de conta e ordem
hoje mantido por empresas de agentes autônomos, distribuidoras e corretoras não
credenciadas na bolsa. Por esse sistema, elas enviam as ordens de seus clientes
para serem executadas por uma corretora credenciada. “Hoje há cerca de 300
empresas, entre distribuidoras, bancos e corretoras que não são credenciados na
bolsa e, desses, 20%, 25% (60 a 75) operam por conta e ordem”, estima Edemir.
Essas 75 empresas terão de se tornar corretoras PN para continuar operando.
Controle
da BSM
A vantagem do novo sistema é que esses participantes
passarão a ser fiscalizados pela Bovespa Supervisão de Mercado (BSM), que passa
a ser responsável pelo seu funcionamento. “A CVM deu um voto de confiança ao
transferir para a BSM essa responsabilidade”, afirma Edemir. As empresas PN
também terão de aderir ao Programa de Qualidade Operacional (PQO) da bolsa, o
que também não era exigido. “Podemos ter outras empresas, como Family offices
ou gestoras, bancos de investimentos, que hoje distribuem apenas cotas de
fundos e que podem se interessar em distribuir outros investimentos”, disse
Edemir.
EDEMIR PINTO
Cerca de 45 PN
O presidente da bolsa estima que até o fim deste
ano 10 a 15 corretoras tradicionais peçam a mudança de PNP para PN. Outras 30
empresas que operam por conta e ordem também devem aderir ao formato PN, o que
elevaria o total a 45. Mas o sistema só deverá entrar em funcionamento pleno no
começo do ano que vem. “A BSM terá de fazer uma auditoria operacional em todas
as empresas que quiserem se tornar Participantes de Negociação, e isso deve
levar um tempo”, explicou.
Deve ser criado também um código de autorregulação para
as novas empresas.
Além disso, os clientes das empresas que se tornarem PN
passarão a contar com a proteção do Mecanismo de Ressarcimento de Perdas (MRP),
que cobre eventuais prejuízos por falhas operacionais da bolsa ou dos
participantes.
As corretoras PN continuarão com todo o acesso e
exclusividade dos clientes, explica Cicero Augusto Vieira Neto, diretor
executivo de Operações, Clearing e Depositária. “Os dados do cliente não serão
repassados para a corretora PNP que vai executar as ordens, até por isso o PN
continuará responsável pelo cadastro, “know your customer” (fiscalização do
cliente) suitability, controle e recebimento de ordens e pela liquidação e
custódia perante os clientes”, diz. “Tínhamos um modelo único de corretora, extragrande, que
não permitia muita flexibilidade para as empresas mudarem seus modelos de
negócios”, afirma Vieira.
O
sistema permitirá ainda a consolidação de corretoras, que hoje sofrem com a
falta de escala e a queda do número de clientes e das receitas. “Acredito que
quatro ou cinco corretoras podem iniciar um processo de consolidação em meio a
essas mudanças, temos hoje duas empresas grandes no mercado atuando como
consolidadoras”, diz Edemir, referindo-se indiretamente à XP Investimentos, que
recentemente comprou a Clear, e a Rico, que se junto à Caixa Geral de Depósitos
(CGD).
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