sábado, 24 de janeiro de 2015

O DINHEIRO QUE CIRCULA - TEXTO DE AUTORIA DO DÉCIO BAZIN











Muito dinheiro eletrônico circula na Bolsa, na grande festança promovida por manipuladores e Especuladores em operações day trade.

Mas o mercado não tem somente moedeiros falsos.  Há nele também dinheiro sólido e concreto, que existe de fato e tem o brilho e o som dos metais duros.

Moeda forte, dessas em que uma mordida não deixa marca; é o dinheiro dos Investidores Institucionais, rotineiramente conduzidos para os pregões e de modo compulsório. Como se sabe, os institucionais são obrigados por lei a ter ações em portfólios, em percentuais mínimos fixados pelo governo.

O dinheiro institucional é como as Cataratas do Iguaçu nas chuvas de março.  É um caudal sem fim nem fronteiras, só que na região institucional é sempre março e nunca para de chover.

Essa catarata de dinheiro novo provém das contribuições de milhares de associados das entidades de previdência complementar, além dos dividendos das ações constituídas em carteira e também dos aluguéis dos prédios já adquiridos, e dos juros dos títulos de renda fixa que o governo obriga essas entidades a comprar e pelos quais paga remuneração muito alta.

Só a parte que os institucionais destinam as ações garante o movimento dos pregões mesmo que os outros compradores se retraiam.

E quanto a maior a massa de dinheiro que tiverem à sua disposição, mais os institucionais serão compelidos a comprar ações, para manter o percentual mínimo das suas reservas técnicas aplicado nesses papéis.

Num quadro como esse, pode afirmar-se que a Bolsa jamais terá outro crash igual ao de 2002 ou 2008.  Isto porque as fundações estarão sempre a postos para comprar ações oferecidas, o que segurará os preços.

Se os preços caem, elas terão de comprar, porque cai também o valor da carteira abaixo do mínimo exigido, ficando em desproporção com o montante do portfólio de investimentos obrigatórios.

Um crash que provoque desastre social não poderá acontecer novamente embora muitos Especuladores individuais ainda venham a arruinar-se quando negociarem mal.

Os institucionais só não precisarão comprar ações para adequar-se à lei se as suas reservas se reduzirem, o que é matematicamente impossível, exceto em caso de confisco de ativos pelo governo federal.  Em 1987, por exemplo, o governo tomou às brutas 30% das reservas das fundações oficiais, o que fez com que elas parassem de comprar ações durante mais de um ano. A queda nas Bolsas foi superior a 60%.

Deduz-se daí que, em condições normais, tanto as altas como as baixas obrigam os institucionais a colocar dinheiro novo no mercado, para adequar suas carteiras, como num moto contínuo.

Fora os recursos institucionais, dinheiro bom também é o dos investidores individuais e o dinheiro que muitas empresas levam para as Bolsas a fim de comprar ações de outras companhias.

Outro dinheiro metálico, sólido, é o dos Especuladores internacionais, que todavia, causa mais mal do que bem. É o dinheiro que entra e sai.

Uma parte do dinheiro que Manipuladores e Especuladores locais ganham nas Bolsas fica girando no próprio mercado.




Outra parte sai e vai para o consumo, contribuindo assim para movimentar a economia.

Outra parte que sai destina-se às diversas modalidades do mercado financeiro.

Grandes Manipuladores e Especuladores, que retêm a parte de leão dos lucros – o dinheiro grosso -, separam uma parcela desses ganhos e a remetem para o exterior, a fim de usá-la em suas viagens, em investimentos ou como reserva para o caso de haver problemas aqui e eles terem de buscar refúgio mais seguro lá fora.

De todo o capital movimentado, sobra alguma coisa para as próprias empresas, cujas ações dão tanto lucro a terceiros.  É natural que lhes caiba algum quinhão.  As companhias chamam subscrições com as quais se capitalizam e dão andamento a planos de investimentos.

Todavia, em sua primeira etapa, a abertura de uma empresa só favorece os seus sócios fundadores.

Um amigo meu, diretor de empresa que entrou há alguns anos na Bolsa, contou-me que durante muito tempo o presidente proprietário da companhia foi repetidamente assediado por profissionais do mercado acionário.  Eles tentavam convencê-lo a abrir o capital da organização e expunham-lhe as inúmeras vantagens que favorecem as empresas de capital aberto.




Entre essas vantagens, disseram-lhe, estava a propaganda gratuita de que desfrutam as empresas da Bolsa, que passam a ter seu nome veiculado diariamente nos jornais e adquirem uma aura de respeitabilidade junto a bancos e fornecedores, além de poderem obter dinheiro mais barato no mercado acionário por via de subscrições.

O que realmente o fez decidir foi o argumento de que o dinheiro proveniente de venda de ações ao público seria totalmente seu, já que lhe pertenciam os papéis.




Mas não seriam vendidas ações ordinárias, que dão direito a voto e ao controle.  Seria usada uma invenção ardilosa chamada “Ações Preferenciais”, que não dão direito a voto nem ao comparecimento às assembleias gerais.

A empresa desdobrou suas ações em 3 x 1.  Os sócios fundadores que tinham uma ação ficaram com 4, uma das quais emitida de forma preferencial.

Foi assinado contrato de underwriting, pelo qual os bancos de investimento seriam responsáveis pelo lançamento das ações preferenciais junto ao público, com garantia de compra se não fosse adquirida toda quantidade colocada à venda.  Desse modo, a absorção já estaria antecipadamente assegurada.

Até então, para os cofres da empresa não tinha entrado nem um centavo. Posteriormente, os homens do mercado acionário passaram a assediar o presidente da empresa com propostas para manipulação de preços.  Ele concordou quando lhe disseram que a manipulação poderia ser chamariz para subscrição a preços altos.

Daí para frente, a companhia nunca mais deixou de chamar subscrições em períodos regulares, mas seu controle permanece na mão do fundador sob rédea firme.  A parte que cabe a este subscrever é muito pequena em relação à de outros sócios que vieram depois.  Mas isso não faz diferença.  Se precisa de dinheiro para subscrever, tira-o da própria empresa que controla.

Ele controla a empresa, mas não o papel, que está em grande parte nos portfólios dos Investidores Institucionais, que determinam os preços.  As subscrições são agora cumpridas sem demora e sem alarde. Em menos de cinco anos a companhia teve expansão geométrica, que a transformou em um poderoso grupo econômico.

Essa empresa, como as outras que seguiram a sua trilha, exalta o capitalismo de mercado e trata cordialmente os acionistas minoritários.

Quando o momento não está favorável à emissão de ações, as empresas da Bolsa dispõem ainda de outra fonte igualmente eficiente, que é o lançamento de debêntures.  São títulos de crédito que possibilitam a obtenção de recursos para pagamento em cinco anos.
















Um comentário:

  1. Muito bom, mas está desatualizado num aspecto, hoje os investidores institucionais têm cotas máximas de aplicações em ações, nunca mínimas.

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