Muito dinheiro eletrônico
circula na Bolsa, na grande festança promovida por manipuladores e
Especuladores em operações day trade.
Mas o mercado não tem
somente moedeiros falsos. Há nele também
dinheiro sólido e concreto, que existe de fato e tem o brilho e o som dos
metais duros.
Moeda forte, dessas em que
uma mordida não deixa marca; é o dinheiro dos Investidores Institucionais,
rotineiramente conduzidos para os pregões e de modo compulsório. Como se sabe,
os institucionais são obrigados por lei a ter ações em portfólios, em
percentuais mínimos fixados pelo governo.
O dinheiro institucional é
como as Cataratas do Iguaçu nas chuvas de março. É um caudal sem fim nem fronteiras, só que na
região institucional é sempre março e nunca para de chover.
Essa catarata de dinheiro
novo provém das contribuições de milhares de associados das entidades de
previdência complementar, além dos dividendos das ações constituídas em
carteira e também dos aluguéis dos prédios já adquiridos, e dos juros dos
títulos de renda fixa que o governo obriga essas entidades a comprar e pelos
quais paga remuneração muito alta.
Só a parte que os
institucionais destinam as ações garante o movimento dos pregões mesmo que os
outros compradores se retraiam.
E quanto a maior a massa de
dinheiro que tiverem à sua disposição, mais os institucionais serão compelidos
a comprar ações, para manter o percentual mínimo das suas reservas técnicas
aplicado nesses papéis.
Num quadro como esse, pode
afirmar-se que a Bolsa jamais terá outro crash igual ao de 2002 ou 2008. Isto porque as fundações estarão sempre a
postos para comprar ações oferecidas, o que segurará os preços.
Se os preços caem, elas
terão de comprar, porque cai também o valor da carteira abaixo do mínimo
exigido, ficando em desproporção com o montante do portfólio de investimentos
obrigatórios.
Um crash que provoque
desastre social não poderá acontecer novamente embora muitos Especuladores
individuais ainda venham a arruinar-se quando negociarem mal.
Os institucionais só não
precisarão comprar ações para adequar-se à lei se as suas reservas se
reduzirem, o que é matematicamente impossível, exceto em caso de confisco de
ativos pelo governo federal. Em 1987,
por exemplo, o governo tomou às brutas 30% das reservas das fundações oficiais,
o que fez com que elas parassem de comprar ações durante mais de um ano. A
queda nas Bolsas foi superior a 60%.
Deduz-se daí que, em
condições normais, tanto as altas como as baixas obrigam os institucionais a
colocar dinheiro novo no mercado, para adequar suas carteiras, como num moto
contínuo.
Fora os recursos
institucionais, dinheiro bom também é o dos investidores individuais e o
dinheiro que muitas empresas levam para as Bolsas a fim de comprar ações de
outras companhias.
Outro dinheiro metálico,
sólido, é o dos Especuladores internacionais, que todavia, causa mais mal do
que bem. É o dinheiro que entra e sai.
Uma parte do dinheiro que
Manipuladores e Especuladores locais ganham nas Bolsas fica girando no próprio
mercado.
Outra parte sai e vai para o
consumo, contribuindo assim para movimentar a economia.
Outra parte que sai
destina-se às diversas modalidades do mercado financeiro.
Grandes Manipuladores e
Especuladores, que retêm a parte de leão dos lucros – o dinheiro grosso -,
separam uma parcela desses ganhos e a remetem para o exterior, a fim de usá-la
em suas viagens, em investimentos ou como reserva para o caso de haver
problemas aqui e eles terem de buscar refúgio mais seguro lá fora.
De todo o capital
movimentado, sobra alguma coisa para as próprias empresas, cujas ações dão
tanto lucro a terceiros. É natural que
lhes caiba algum quinhão. As companhias
chamam subscrições com as quais se capitalizam e dão andamento a
planos de investimentos.
Todavia, em sua primeira
etapa, a abertura de uma empresa só favorece os seus sócios fundadores.
Um amigo meu, diretor de
empresa que entrou há alguns anos na Bolsa, contou-me que durante muito tempo o
presidente proprietário da companhia foi repetidamente assediado por
profissionais do mercado acionário. Eles
tentavam convencê-lo a abrir o capital da organização e expunham-lhe as
inúmeras vantagens que favorecem as empresas de capital aberto.
Entre essas vantagens,
disseram-lhe, estava a propaganda gratuita de que desfrutam as empresas da
Bolsa, que passam a ter seu nome veiculado diariamente nos jornais e adquirem
uma aura de respeitabilidade junto a bancos e fornecedores, além de poderem
obter dinheiro mais barato no mercado acionário por via de subscrições.
O que realmente o fez
decidir foi o argumento de que o dinheiro proveniente de venda de ações ao
público seria totalmente seu, já que lhe pertenciam os papéis.
Mas não seriam vendidas
ações ordinárias, que dão direito a voto e ao controle. Seria usada uma invenção ardilosa chamada “Ações Preferenciais”, que não dão
direito a voto nem ao comparecimento às assembleias gerais.
A empresa desdobrou suas
ações em 3 x 1. Os sócios fundadores que
tinham uma ação ficaram com 4, uma das quais emitida de forma preferencial.
Foi assinado contrato de
underwriting, pelo qual os bancos de investimento seriam responsáveis pelo
lançamento das ações preferenciais junto ao público, com garantia de compra se
não fosse adquirida toda quantidade colocada à venda. Desse modo, a absorção já estaria
antecipadamente assegurada.
Até então, para os cofres da
empresa não tinha entrado nem um centavo. Posteriormente, os homens do mercado
acionário passaram a assediar o presidente da empresa com propostas para
manipulação de preços. Ele concordou
quando lhe disseram que a manipulação poderia ser chamariz para subscrição a
preços altos.
Daí para frente, a companhia
nunca mais deixou de chamar subscrições em períodos regulares, mas seu controle
permanece na mão do fundador sob rédea firme.
A parte que cabe a este subscrever é muito pequena em relação à de
outros sócios que vieram depois. Mas
isso não faz diferença. Se precisa de
dinheiro para subscrever, tira-o da própria empresa que controla.
Ele controla a empresa, mas
não o papel, que está em grande parte nos portfólios dos Investidores
Institucionais, que determinam os preços.
As subscrições são agora cumpridas sem demora e sem alarde. Em menos de
cinco anos a companhia teve expansão geométrica, que a transformou em um
poderoso grupo econômico.
Essa empresa, como as outras
que seguiram a sua trilha, exalta o capitalismo de mercado e trata cordialmente
os acionistas minoritários.
Quando o momento não está
favorável à emissão de ações, as empresas da Bolsa dispõem ainda de outra fonte
igualmente eficiente, que é o lançamento de debêntures. São títulos de crédito que possibilitam a
obtenção de recursos para pagamento em cinco anos.
Muito bom, mas está desatualizado num aspecto, hoje os investidores institucionais têm cotas máximas de aplicações em ações, nunca mínimas.
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