Toda religião tem um credo – práticas que de
repente passaram a ser aceitáveis, simplesmente porque foram aceitas. Entre
elas estão estas:
1. O
uso que a bolsa faz de desempenhos passados para guiar o futuro.
2. O fato de uma carteira ter em média 20
ações.
3. Um desejo imenso de fazer IPO.
Mas o simples fato dessas práticas terem sido
aceitas não quer dizer que elas estejam certas.
Está na hora de desafiar estes credos.
DESEMPENHOS
PASSADOS COMO GUIA PARA DESEMPENHOS FUTUROS.
Um pilar central do setor de serviços
financeiros é pegar os retornos passados e projetá-los para o futuro, na forma
de retornos esperados. Além disso, uma
das premissas mais aceitas é a de que, se o desempenho de um administrador de
fundo (ou de qualquer consultor financeiro) foi bom no ano passado, ou nos
últimos cinco anos, vai continuar sendo assim no próximo ano. Mas como qualquer um que tenha tido lições
básicas de estatística irá lhe dizer, dentro da distribuição normal dos
retornos aleatórios (com ênfase no “aleatório”), vai haver alguns eventos que
são realmente extraordinários. Como
alguém jogando cara ou coroa e tirando dez caras seguidas. Isso é possível e
está dentro da distribuição normal dos retornos aleatórios, mas continua sendo
aleatório. Portanto, o fato de alguém ter tirado dez caras seguidas não tem a
menor relação com o próximo resultado – se vai ser cara ou coroa. Pense nisso
na próxima vez em que ler um reluzente folheto de performance financeira. Você pode estar olhando para um ganhador da
loteria com um excelente departamento de marketing.
AS
CARTEIRAS DE 20 AÇÕES.
Se você realmente quer obter retornos de
longo prazo, por que então deveria montar uma carteira com ações diferentes, em
vez de simplesmente investir num fundo de índice? As chances de errar a mão com
20 ações são as mesmas de acertar, especialmente se você tiver uma postura
preguiçosa e desinteressada, que só pensa no longo prazo. Se tudo o que você
estiver a fim de capturar for o mero desempenho de mercado, ou o das
mineradoras, ou dos bancos, por que não escolher apenas algumas ações
específicas? Esse tipo de tática é um convite para os acidentes.
Em vez disso, compre um fundo de índice. É uma
operação mais barata de ser executada, a administração é infinitamente mais
simples, e , para o investidor de longo prazo, os retornos são os mesmos e às
vezes até melhores. O investimento também é inteiramente livre de “culpa”.
Ninguém é responsável pelo índice. Por outro lado, se você comprar ações individuais,
vai se ver diante de um mundo de pesquisas de analistas, vai ter que redobrar
sua vigilância e executar um enorme pingue-pongue mental. Tem gente entre nós que adora isso. Mas se
não for o seu caso, o que há de errado em investir num índice, em vez de numa
carteira completa de 20 ações? (20 é o
exemplo de um número-tipo padronizado pelas corretoras. Poderia ser 10, 15 e até 30)
OFERTAS
PÚBLICAS INICIAIS (IPOs)
O interesse que o público em geral tem pelas
IPOs chega a ser quase constrangedor. Colocando de maneira bem simples, tem
gente que acha que entrar numa IPO é a mesma coisa que ganhar dinheiro de
graça. Por alguns meses, antes do estouro do boom da tecnologia, era mesmo. Mas esse sucesso se baseou em duas
mercadorias muito simples: esperança e ignorância. Durante o boom da tecnologia
surgiu a idéia de que uma chance de participar numa IPO era um presente dos
céus.
Mas não é nada disso. É só dar uma olhada no
histórico das IPOs, e os retornos médios não são nada bons. O auge das IPOs no Brasil foi nos anos
2004-2008. Lembram-se da euforia?
O apetite em torno da IPOs chega a fazer mal
à saúde e gera uma falsa demanda que, por definição, vai fazer uma empresa ter
um valor maior do que deve já no primeiro pregão, ou logo a seguir. Resultado
final? O erro de avaliação não vai durar muito tempo, as pessoas vão perder
dinheiro, e a companhia vai perder investidores que ela batalhou para conseguir
por causa de uma decepção no curto prazo. Por isso, IPOs não são dinheiro de
graça. As empresas que partem para uma IPO quase sempre arrancam tudo o que
podem no preço da emissão. E, assim, as chances
de você ganhar algum dinheiro na verdade são muito poucas. Todo mundo
tem que ficar com um pé atrás na hora de uma IPO. Leia o prospecto de emissão
com um pouco mais de cuidado e invista olhando para o futuro, e não por um dia.
Talvez alguns de vocês não tenham ouvido a
famosa regra de ouro das IPOs: “Se ela for boa, ninguém vai oferecer a você. E,
se oferecerem, é porque não presta.”
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