Ouve-se dizer que diversificar é uma coisa sensata. A razão é muito
simples: nós cometemos erros. Você pode gostar muito de duas ações, mas nunca
saberá ao certo qual delas será o melhor investimento. Erros de avaliação
acontecem. Pode ser que justamente aquela companhia que você achava que estava
barata não estivesse tão barata assim. Pode ter faltado alguma coisa na hora de
fazer a avaliação.
Outro motivo para empregarmos a diversificação é que o futuro trás
mudanças. A empresa que você escolheu
pode estar passando por momentos difíceis e o preço do papel acabar caindo
rapidamente. E essa pode não ser apenas uma desvalorização temporária que você
pode superar tranqüilamente. Lidar com flutuações temporárias da bolsa, não é
um grande problema para o investidor inteligente. Mas, lidar com mudanças no
valor da companhia das quais você não possa esperar uma recuperação, é outra
coisa. Pode ser que ocorram falhas na administração da companhia ou que ela
contraia uma dívida enorme. Nesses casos, se você possuir seus papéis
certamente acabará afetado. Só que a forma com que isso afetará você será bem
pior se essa for à única companhia que existir na sua carteira! Porém, se a
companhia que estiver indo mal for apenas uma das diversas companhias que você
possui, as conseqüências serão minimizadas sensivelmente. Eu não sou adepto de
regras rígidas e inflexíveis para diversificação. Existem algumas pessoas que
lhe dirão que você deve possui de dez a vinte ações na carteira. Ou, que você
não deve alocar mais de 5% em um único papel. Na verdade, isso nunca fez muito
sentido para mim. São regras muito rígidas. Mas nós aconselhamos que você saiba
sempre muito bem como está sua carteira em termos de diversificação. Se eu
tivesse que sugerir uma regra, essa seria possuir no mínimo dez ou quinze
ações. Isto está de acordo com o que pensa Warren Buffet. Mas ainda acho que
deveríamos fazer algumas considerações em cima desse critério.
Warren Buffet
Se estivermos pensando em montar uma carteira com 10 ações, distribuídas
em partes iguais, cada ação corresponderia a 10% do total. Em outras palavras,
isso quer dizer que, se uma ação deixasse de existir nós perderíamos 10% da
carteira. Por outro lado, o máximo que poderíamos esperar de retorno de uma
carteira como essas ficaria também em torno de 10%. Se perdêssemos uma ação, as
nove restantes teriam que render em conjunto 10%, para quase zerarmos o
prejuízo. Vamos supor nesse exemplo que a nossa carteira valesse originalmente R$ 1.000. A ação que chegou a zero ocasionou uma perda de R$100. Vamos admitir que
conseguíssemos um rendimento de 10% sobre os R$ 900 restantes, ou seja, R$ 90. No
final, acabaríamos com uma perda de R$ 10, o que equivale a apenas 1% do valor
inicial. Isto não é um mau resultado se levarmos em consideração que uma
ação de nossa carteira deixou de existir e corresponde a uma perda permanente.
Note bem, se perdêssemos um dos dez papéis da carteira, ainda
sobreviveríamos no final. Ressalto que não estou preocupado aqui com
flutuações de preço de mercado de natureza temporária. Estou preocupado com
perdas permanentes, como seria o caso de uma falência.
A chance de sofrer uma perda como essas em uma carteira conservadora,
escolhida criteriosamente, são bem pequenas. Se suas ações foram escolhidas
entre companhias como a Ambev, Eztec, Itaú e Porto Seguro, é bem pouco provável
que uma completa falência venha a ocorrer. Nesse caso, dez ações lhe darão uma
diversificação muito boa. Você pode até possuir somente oito ações e, ainda
assim, estar bem seguro. Agora, se você possui companhias em recuperação
(“turnarounds”) na sua carteira, empresas que estão na beira do precipício,
perder uma companhia em dez não é uma coisa muito difícil.
O nível de diversificação que você precisa não depende apenas da sua tolerância ao risco, mas, também, da estabilidade das companhias. Uma companhia como a Ambev com alguns milhares de produtos na praça é certamente mais estável que uma companhia que está começando agora com apenas um produto. Seria necessária uma verdadeira tragédia na Ambev para que deixasse de existir.
Outro aspecto da diversificação normalmente esquecido é que você poderá
estar avaliando duas companhias similares no que diz respeito a seus atributos
de crescimento, e não conseguir chegar à conclusão de qual delas é o melhor
investimento. Se você investir em apenas uma, poderá estar perdendo a chance de
investir em uma empresa espetacular. Por exemplo, se você decidiu investir em
10 companhias em recuperação em 1995 e deixou passar o Banco do Brasil, que
seria a décima-primeira companhia da sua carteira, somente porquê quebraria a
sua regra de “investir exatamente em dez companhias”, teria cometido um grande
erro. Da mesma forma, seria burrice vender uma das dez companhias que você já
possui, e que considera excelente companhia, somente para o Banco do Brasil
“caber dentro da carteira”. Alguns
grandes investidores como Peter Lynch são conhecidos por possuírem um grande
numero de companhias. Não há nada de errado nisso.
Peter Lynch
Provavelmente, você não vai querer ter mais de 20 ou 30 ações na
carteira. Se você tiver 60 ações e não conseguir lembrar-se porquê comprou
qualquer uma delas ou, até mesmo, quais companhias você possui, estará muito
provavelmente fazendo uma má administração de carteira. Se continuar assim
acabará, invariavelmente, cometendo novos erros e decisões erradas. Possuir
várias empresas na carteira poderia induzir você a pensar coisas do tipo: “- Se eu tenho tantas ações na carteira,
como é que eu posso estar cometendo um erro?”. Isso pode até ser verdade, mas
não se acomode com essa situação e nem use isso como desculpa para fazer um
investimento que você ache que tem grande chance de dar errado, ou comprar uma
ação sem fazer a sua avaliação correta, deixando de estudar a companhia antes
de investir.
Lembre-se disso principalmente quando estiver comprando uma companhia
menor e mais dinâmica aonde as condições se modificam muito mais rapidamente.
Isso também vale para companhias em recuperação (“turnarounds”). Se você
começar a negligenciar os maiores acontecimentos dentro das suas pequenas
companhias, estará, muito provavelmente, tendo mais ações do que deveria.
Mesmo que você não passe por qualquer desastre nas suas companhias, deve
sempre se comportar como se estivesse comprando apenas uma companhia e colocando
todo o seu dinheiro nela no momento da escolha. Ao invés de começar a sair
comprando por aí, você deveria se perguntar: “- existiria alguma companhia
melhor na qual eu deveria estar investindo?”. Pensando assim, você certamente
fará mais pesquisas e procurará por oportunidades em um maior número de
companhias. Você deve agir como um consumidor que compra mercadorias comparando
qualidade e preço. Você poderá relaxar um pouco mais com as grandes companhias
e não precisará se preocupar tanto com variações mensais. Mas, esse não é o
caso das companhias pequenas.
Em algumas ocasiões você poderá pegar mais pesado em algumas companhias
ou, como dizem alguns investidores, “encher a mala”. A situação da Vale em 2005
me veio à cabeça agora. Eu me sentiria bastante confortável colocando 25% da
minha carteira naquele papel. Era uma tremenda companhia, possuía grande
estabilidade, excelente desconto, grandes margens e pertencia a um grande setor.
Mas isso era uma exceção. Muito poucas ações justificariam uma concentração
maior que 25%. Mas, algumas vezes, situações como essas podem vir a acontecer.
Faça você mesmo a avaliação. Nunca deixe outra pessoa convencê-lo de que a sua
posição é pouco inteligente. Se você sabe o que tem, é realmente necessário
pensar por si próprio.
Outra coisa que você vai ouvir bastante por aí é que precisa se
diversificar entre setores. Em outras palavras, seria bobagem possuir 10 ações
se elas estiverem todas dentro da mesma indústria como, por exemplo, a
farmacêutica. Existe bom senso nesse conselho. As companhias dentro da mesma
indústria costumam sofrer dos mesmos problemas. Por exemplo, se você possuir
dez ações dentro do setor de armamento e os armamentos virem a ser proibidos
ou, se as dívidas nessas companhias crescerem desesperadamente você acabaria
sendo atingido. A mesma coisa vai acontecer se você possuir dez ações dentro do
setor de tabaco ou siderúrgico. Mas esta é uma situação extrema em indústrias
de alto risco que sofrem grandes influências políticas e regulatórias. Você não
vai querer possuir 10 indústrias do setor tecnológico na sua carteira, porquê
não vai querer ser 100% afetado pela rápida evolução tecnológica.
O problema de ficar tão preocupado com a diversificação entre setores é
que, de vez em quando, indústrias maravilhosas e promissoras ficarão
subavaliadas, criando excelentes oportunidades de compra para alguns
investidores inteligentes que aproveitarão a ocasião para investir pesado. Este
foi o caso das ações da indústria siderúrgica em 1994. Antes disso, foram às
ações de serviços financeiros e bancos que entraram em promoção. Naquela mesma
época houveram ações de outros setores industriais, passando pela mesma
situação, como foi o caso das ações da Internet em 1999 (Nos Estados Unidos). -
Não compre ações superavaliadas somente para obter diversificação de
“setores”!
As indústrias entram e saem de moda. Sempre me pareceu que alguns dos
melhores investidores de longo-prazo investem pesado nessas ações quando seus
setores ficam subavaliados. Eles carregam suas carteiras com boas compras - e
normalmente encontram suas melhores oportunidades dentro de uma mesma
indústria. Eles mantêm-se longe de indústrias superavaliadas.
Se as ações das siderúrgicas como a Usiminas e a Companhia Siderúrgica
Nacional estivessem agora nas alturas como estiveram em 2005, seria muito
perigoso comprar qualquer uma delas. Uma companhia sempre pode cometer erros.
Embora a Companhia Siderúrgica Nacional tenha conseguido voltar com força, a Usiminas
nunca conseguiu se reerguer depois de cair. Mas, é muito pouco provável que
toda indústria siderúrgica terminasse na mesma situação. Dizer que você deveria
possuir apenas uma empresa de siderurgia na sua carteira somente para manter a
diversificação é muito perigoso (significa obrigar que as outras nove ações
fossem de outro setor). Você certamente obteria uma diversificação melhor se
possuísse várias ações dentro da mesma indústria, desde que ela tivesse boas
perspectivas e que você tivesse comprado seus papéis a um bom preço.
Veja um exemplo fora do Brasil: em 1980 muitas ações de fabricantes de
automóveis americanas caíram. A Chrysler foi o melhor exemplo, mas, até mesmo a
Ford caiu. Ouve muita preocupação de que toda a indústria automobilística dos
Estados Unidos não conseguisse mais ser competitiva em relação aos fabricantes
japoneses. Compare isso com o que aconteceu com a indústria farmacêutica na
metade da década de 90, aonde muitas ações do setor possuíam excelente
qualidade. Mesmo que você tivesse 25% de sua carteira investida na Merck
poderia tranqüilamente investir outros 25% da sua carteira em outra ação do
setor médico-farmacêutico. Muitas dessas companhias foram precificadas como
se já estivessem reguladas. E estas companhias não estavam passando por
qualquer problema operacional. É importante fazer a distinção entre
companhias que estão apenas subavaliadas na bolsa daquelas indústrias que estão
passando por problemas operacionais.
Como um investidor inteligente, é obvio que você não vai querer ter
todas as ações da bolsa na carteira. Teoricamente, possuindo todas as ações
existentes na bolsa você obteria a melhor diversificação possível. Mas qual o
sentido de possuir uma ação extremamente sobre-avaliada em uma carteira
escolhida inteligentemente? Qual é o problema de ter na carteira mais de uma
empresa do setor farmacêutico se elas tiverem sido escolhidas criteriosamente?
Não seja um escravo da regras de diversificação! Favoreça as empresa que você
acredita que têm melhores perspectivas e aproveite as oportunidades quando elas
aparecerem. Apenas esteja consciente dos fatores que afetam aquela indústria e
use o seu próprio julgamento.
A chave é entender o que a diversificação pode fazer por você. O
problema é que hoje em dia tudo é associado com o conceito de que risco é
medido pela volatilidade. Desde que Harry Markowitz criou a sua teoria das
carteiras e o conceito de diversificação, a associação entre risco e
volatilidade do preço das ações tem sido a base da teoria de investimentos. A
maioria dos investidores acredita que o objetivo da diversificação seja
possuirmos diferentes tipos de ações de modo que, quando as ações de algumas
indústrias saírem fora-de-moda, e seus preços caírem, o preço das outras
indústrias se manterão, ou talvez, se estiverem em um momento favorável,
subirão. Assim impediríamos que todas as ações de nossa carteira caíssem ao
mesmo tempo! Algumas ações subiriam compensando outras que tivessem caído. Pelo
menos esta é a visão convencional de que a diversificação diminuiria a
volatilidade da carteira.
Harry Markowitz
O problema dessa abordagem é que acabamos obcecados pela volatilidade. A
verdade é que o mercado acionário como um todo é volátil e, se você realmente
necessita manter o seu patrimônio acima de algum valor arbitrário qualquer,
vamos dizer um milhão de reais, não deveria estar investido exclusivamente em
ações. O mercado acionário poderá cair como um todo e, certamente, a sua
carteira irá acompanhar. Não importa se você tem dez, vinte ou um milhão de
ações na sua carteira. Nunca invista na bolsa o dinheiro que vai precisar no
curto-prazo. Nunca compre ações de empresas das quais você não confie nas
perspectivas de longo-prazo. Nunca conte com a possibilidade que você vai
conseguir passar adiante o papel daquela companhia que não está indo muito bem
por um preço razoável para um outro investidor “bonzinho”. Se você tiver isso na cabeça, então a
volatilidade de curto-prazo da bolsa não deve lhe causar preocupação.
Imagine que você comprou uma companhia espetacular por R$50 cuja sua
estimativa de valor intrínseco seja por volta dos R$100. De uma hora para outra
o preço da ação dessa companhia despenca para R$25. Você momentaneamente teria
perdido dinheiro. Mas se você não precisa do dinheiro, está confiante na sua
avaliação, acredita que a avaliação que fez sobre aquela companhia permanece a
mesma, porquê diabos então você venderia? Nada mudou! Você deve estar preocupado com os resultados
de longo-prazo do seu investimento, não com a volatilidade de curto-prazo. Na
verdade, uma indústria fora-de-moda é o local aonde devemos começar a procurar
comprar e não vender! É muito difícil acertar exatamente o fundo do poço de um
mercado de baixa! O objetivo de um investidor conservador de longo-prazo é
diversificar para proteger-se contra problemas no negócio das empresas, a falta
de crescimento, problemas operacionais e outros fatores adversos que podem
recair sobre uma determinada companhia (como, por exemplo, foi o caso da Petrobrás),
etc. Esta sim deve ser a sua preocupação principal.
É verdade que algumas indústrias são mais arriscadas que outras. Você
não deve se carregar de papéis de um setor muito arriscado. Mas, se a indústria
na qual você estiver comprando estiver bem e ela tiver boas perspectivas pela
frente, não há motivo para que você desejar estar muito diversificado entre
setores. Não há motivo para temer possuir várias companhias dentro de um mesmo
setor. Da mesma forma que você, como investidor individual, não precisa ter
papéis de todos os setores, principalmente naqueles setores sobreavaliados, ou
com pontos fracos como, por exemplo, o têxtil.
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