domingo, 7 de setembro de 2014

FUJA DE INVESTIMENTOS A LONGO PRAZO – EXTRAÍDO DO LIVRO “OS AXIOMAS DE ZURIQUE”











Um executivo da União de Bancos Suíços, casa paterna de Frank Henry, contou-me a triste história de uma investidora a longo prazo, Paula W. (pseudônimo), que foi praticamente arrasada pelo já mencionado trator do destino.

Paula começara a sua vida adulta como operária de uma linha de montagem da Ford. Valendo-se dos generosos programas educacionais da empresa, abriu caminho até os níveis gerenciais. Ao longo do percurso foi acumulando alguns milhares de ações ordinárias da Ford. O marido morreu quando Paula tinha cinqüenta e poucos anos, deixando-a proprietária de uma grande casa num subúrbio de Detroit, e de um apartamento na Flórida, imóveis que agora já não a interessavam mais. Resolveu vender os dois, fazer um acordo com a Ford para antecipar sua aposentadoria, pôr todo o seu dinheiro em ações dessa empresa e viver feliz para sempre, recortando cupões de dividendos.

Tudo isto ocorreu no final dos anos 70. A essa altura, a Ford pagava um dividendo de 2,60 dólares por ação.




Juntando as ações novas com as que já possuía, Paula ficou com umas 20.000, que rendiam, então, cerca de 52.000 dólares por ano. Esta cifra era totalmente taxável pelo Imposto de Renda (exceto dedução de 100 dólares, permitida pelo generoso governo); suplementada, porém, pela pensão que recebia, era o bastante para a nossa Paula viver confortavelmente, em segurança.

A sua corretora telefonou-lhe uma ou duas vezes alertando para os problemas que pareciam estar se armando na indústria automobilística. A mulher sugeriu que talvez fosse uma boa idéia vender as ações antes que as cotações caíssem. Se Paula estava interessada principalmente em renda, por que não considerar trocar de posição, comprar alguma boa companhia de serviço público? Tradicionalmente, essas companhias distribuíam grande parte das suas receitas sob forma de dividendos. Os preços dos papéis não se mexiam muito, mas os dividendos andavam geralmente na faixa de 9% a 15% - duas ou três vezes mais do que pagavam outras companhias.

Mas Paula disse que não, que preferia continuar com Ford. Conhecia a empresa, confiava nela, sentia-se confortável com aquele papel. Quanto a uma possível queda de preço, não a preocupava. Era um investimento a longo prazo. Não tinha intenção de vender em futuro próximo. A não ser uma ou duas vezes por ano, nem olhava o jornal para saber a quantas andava. Subiu um pouquinho, desceu um pouquinho – para que iria ela se chatear?




Estava acima dessas miudezas. Das suas ações, só queria um belo cheque gordo a cada trimestre. Fora isto, disse ela à corretora, desejava-as trancadas num cofre e esquecidas.

Em 1980, a Ford reduziu o seu dividendo de 2,60 dólares por ação/ano para 1,73. A renda de Paula caiu para 34.600 dólares.

Conforme vimos em outro contexto, em 1980 os problemas da indústria automobilística começaram a se agravar, inclusive os da Ford. Paula deveria ter saído muito tempo antes, mas deitara raízes.

Em 1981, o dividendo da Ford foi reduzido a 80 centavos de dólar, e Paula recebeu 16.000 dólares nesse ano. No ano seguinte, a Ford não pagou dividendo nenhum. Paula, desesperada, durante esse ano triste teve de vender cerca de 4.000 ações, a fim de fazer dinheiro para viver e pagar dívidas acumuladas. A essa altura, naturalmente, a cotação das ações estava horrivelmente baixa. Ela foi obrigada a vender por muito menos do que tinha comprado.

Em 1983, a Ford começou a sair do buraco. Declarou um dividendo de 50 centavos de dólar. No começo desse ano, sobravam a Paula apenas 16.000 ações, e ao longo do ano ela teve de vender outras 2.000. Seus dividendos, em 1983, ficaram por volta de 7.000 dólares.

Em 1984 as coisas se apresentaram um pouco melhores. A Ford pagou dividendos de 1,20 dólar. Com as 14.000 ações que lhe restavam, Paula recebeu 16.800 dólares. Manteve-se viva, mas não fora isto que antecipara no seu planejamento a longo prazo.




Jesse Livermore escreveu: ‘’Acredito que o dinheiro perdido em especulações (de curto prazo) é uma ninharia comparado às gigantescas somas perdidas pelos assim chamados investidores, que deixam seus capitais empatados durante muito tempo num só negócio. Do meu ponto de vista, os investidores (de longo prazo) são os grandes jogadores. Fazem uma aposta, plantam-se nela e, se der errado, podem perder tudo. O especulador inteligente agirá rapidamente, mantendo as suas perdas num mínimo’’.

Conforme já vimos, Livermore não teve 100% de sucesso como especulador. Não apenas ganhou quatro fortunas, como as perdeu, e, finalmente, por alguma tragédia pessoal, perdeu a vida. Mas quando o seu motor especulativo estava em ordem e bem lubrificado, ele parecia um Rolls-Royce. Valia a pena escutar.

Vamos, então, prestar atenção a esta sua sentença básica: ‘’Os investidores (de longo prazo) são os grandes jogadores.’’ É a pura verdade. Apostar no amanhã já é um risco. Apostar num dia daqui a vinte ou trinta anos é loucura total.




Investimentos a longo prazo, como tantos outros procedimentos falaciosos que já vimos, têm lá os seus encantos. O maior deles, talvez, é que o aliviam de ter de tomar decisões freqüentes e talvez penosas. Você toma uma só – ‘’compro isto e esqueço’’ – e relaxa. Isto atrai os preguiçosos e os covardes – e nós todos temos muito destas qualidades. Além do mais, o fato de termos um pé-de-meia acoplado, como a maioria dos pés-de-meia, a algum plano a longo prazo, dá um enorme quentinho na barriga, uma sensação de pura felicidade. A vida está todinha planejada! Nada pode lhe acontecer! Pelo menos é o que você pensa.

Outra beleza dos investimentos a longo prazo é o que você economiza em comissões de corretagem. Quanto mais você entra e sai de coisas como ações, moedas ou imóveis, mais pagará de comissões e outras despesas e taxas. No caso de imóveis, onde as comissões são significativas, isto pode ter importância, mas, na maioria dos outros negócios que envolvem corretores, é pouco mais que a picada de um mosquito. Mesmo assim, há muitos investidores a longo prazo que se valem da história das comissões como justificativa para a sua imobilidade.

O seu corretor preferia que você fosse um especulador do tipo ligeiro, que entra e sai rapidinho, em vez do tipo coqueiro, que fica plantado. Quanto mais você se mexer, mais o seu corretor ganha. Neste caso, o interesse dele coincide perfeitamente com o seu.

Não deite raízes. Cada investimento deve ser reavaliado no mínimo a cada três meses, tendo de justificar-se novamente. Pergunte-se sempre: ‘’Se este investimento me fosse oferecido hoje pela primeira vez, eu poria o meu dinheiro nele? Está marchando na direção da posição de saída que eu estabeleci?’’




Isto não quer dizer que você deve ficar pulando de galho em galho, só pela farra. Mas se as circunstâncias se modificaram depois que fez o investimento, se ele vem caindo, se a posição de saída está ficando mais longe em vez de mais perto, se você vê outra coisa que, à luz das novas circunstâncias, parece evidentemente mais promissora, pule.

A pressão para se ficar plantado num pé-de-meia não vem apenas da nossa covardia, preguiça ou outro problema íntimo qualquer. O mundo à nossa volta também aplica uma pressão enorme.

Muitas grandes empresas de capital aberto, por exemplo, oferecem arranjos aparentemente atraentes, pelos quais os empregados podem investir nas suas próprias ações. Você assina um papel se comprometendo a investir tanto por mês, e, para facilitar, algumas empresas descontam em folha e compram as ações em seu nome. Você nem vê a cor do dinheiro. Um investimento sem dor!

É o que lhe dizem, pelo menos. O que esse tipo de negócio faz é arraigar você num lugar onde, quem sabe, você nem queira ter sempre as suas raízes. Qual teria sido o sentido, por exemplo, de ficar preso num investimento a longo prazo em GM, nas duas últimas décadas? Em 1971, o papel era negociado acima de 90 dólares. Desde então, não chegou nem perto.

Corretores e outros agentes da várias formas de especulação oferecem o que geralmente chamam de planos ‘’convenientes’’ de investimento mensal. Para comprar o que determinou, você entra com tanto por mês. Isto não o prende, inexoravelmente, num investimento a longo prazo, mas a tendência é essa. O risco neste tipo de investimento é que ele o estimula a bolar um plano a longo prazo: ‘’Então, vamos ver. Se eu investir tanto por mês em Oba-Oba Computadores e se o preço da ação aumentar, modestamente, 10% ao ano... Puxa, quando eu fizer 65 anos terei tantos milhares de dólares! Estarei rico!’’




Não conte com isso, meu amigo. Vendedores de fundos mútuos acenam com dezenas de atrativos diante dos seus esbugalhados olhos. Esse pessoal também tem os seus convenientes planos mensais. Você receberá lindos gráficos a quatro cores, mostrando por A mais B como teria sido inteligente você ter-se agarrado com os planos deles pelos últimos vinte anos. Ou, se o desempenho deles tiver sido tão miserável que não há gráfico a quatro cores que dê jeito, terão outros gráficos, igualmente bonitos, mostrando o deslumbrante futuro que você terá de assinar nesta linha pontilhada aqui.

Temos, também, a indústria do seguro de vida. Este é um mundo espantosamente complexo. Para irmos ao cerne da questão, porém, diremos que existem dois tipos de seguro de vida: o que o prende num investimento a longo prazo e o que não o prende. Fuja do primeiro.

Seguro de vida com investimento a longo prazo – às vezes chamado de vida ‘’total’’, mas que tem uma porção de outros nomes – pode acabar de duas maneiras: dá um bom dinheiro aos seus herdeiros, no caso de você passar desta para a melhor, ou paga-lhe uma anuidade, ou numa bolada só, caso você se mantenha no jogo além de certa idade. Sob todas as suas mais variadas formas – e bota variadas nisso -, uma coisa não muda nunca: custa os olhos da cara.

O vendedor, sobriamente vestido, delicado, que espalha aqueles folhetos diante dos seus olhos e fala com temor reverencial em planos a longo prazo, sinceramente deseja que você compre este tipo de seguro de vida. Se você embarcar, ele fatura uma burra duma comissão. Ele está a fim de ver você comprometer o seu rico dinheiro por vinte ou trinta anos; para ele, porém, o negócio é a prazo muito menor que para você. Muito provavelmente, é o do tipo ‘’comissão de frente’’, ou seja, já nos dois ou três primeiros anos do seguro ele recebe uma boa parte das comissões sobre esses vinte ou trinta anos.

O seu principal ponto de venda será que você não está comprando, está investindo. Se andar tudo direitinho, você acabará recebendo de volta o que tiver colocado, ou boa parte. Enquanto isso, se esticar as canelas antes do planejado, a sua família estará protegida. Beleza, não?

Não. O que esse vendedor está querendo que você faça é pura loucura. Ele quer que você invista milhares de dólares, ao longo de um período de alguns anos, contra um futuro muito, muito distante. E como é que você sabe como será o mundo no futuro? Aí sentado, hoje, como pode saber que daqui a dez ou vinte anos estará a fim de investir num esquema de anuidade como este? Quem sabe se o mundo não vai mudar de tal maneira que essas anuidades não valerão mais nada? Então, para que se prender a tal esquema?

Se tem dependentes que, sem você, terão problemas financeiros, proteja-os comprando as formas mais baratas de seguro de vida. Só pagam se você morrer, mas essa é que é a idéia. Você não se prende a nada. Se chegar um momento em que os seus dependentes já não precisam mais de você, ou se outras mudanças ocorrerem na sua vida, você simplesmente para de pagar o prêmio, e tudo bem. Enquanto isso, como os prêmios são baixos, você fica com dinheiro para investir em outras coisas mais interessantes que seguros de vida.

Tudo o que você pode saber sobre o futuro é que, quando chegar, chegou. Não dá para ver a cara que terá, mas você pode ao menos se preparar para reagir às suas oportunidades e acasos. Não tem a menor graça ficar aí parado e esperar que ele o atropele.




Estratégia Especulativa

O 12º (e último) Grande Axioma adverte para a futilidade e os perigos de se planejar para um futuro que não se pode enxergar. Não deite raízes em planos ou investimentos a longo prazo. Em vez disso, reaja aos fatos à medida que eles se apresentam, no momento. Ponha o seu dinheiro em negócios, também à medida que se apresentam, e tire-os dos riscos assim que tais riscos apareçam. Valorize a liberdade de movimentos que lhe permitirá agir assim. Jamais assine qualquer papel que comprometa essa liberdade.


O 12º Grande Axioma diz que só existe um plano financeiro a longo prazo de que você precisa: o plano de ficar rico. Não dá para saber nem para planejar o como. Tudo que você tem de saber é que irá conseguir, de um jeito ou de outro.













2 comentários:

  1. Pois é,

    Mas o exemplo utilizado não desqualifica de maneira nenhuma o investimento de longo prazo, uma vez que ele não foi feito da maneira adequada. Os erros mais gritantes nesse caso foram: a ausência de diversificação nos investimentos, de modo a se proteger de possíveis crises ou mesmo a falência da empresa, e a falta de acompanhamento dos resultados da empresa. Entre outras coisas. Da maneira que foi apresentado, foi a receita para o fracasso que, cedo ou tarde, deverá chegar.

    Um investidor de longo prazo deve se preocupar com o negócio da empresa, tem que se preocupar com os resultados que ela apresenta, levar em consideração o cenário em que ela se insere e não achar que os resultados serão sempre bons. A diversificação pode te proteger nesse sentido. E se o negócio ficar ruim, você cai fora e investe em outra. Ser investidor de longo prazo não quer dizer manter um investimento pra sempre e sim ser um investidor até que os resultados atendam aos seus interesses.

    Por isso se selecionam boas empresas no início e você a mantém em sua carteira. Deixaram de ser boas (segundos os seus critérios), tchau! Não existe essa de ficar no negócio levando prejuízo. Isso não tem nada a ver com investimento de longo prazo.

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