Um
executivo da União de Bancos Suíços, casa paterna de Frank Henry, contou-me a
triste história de uma investidora a longo prazo, Paula W. (pseudônimo), que
foi praticamente arrasada pelo já mencionado trator do destino.
Paula
começara a sua vida adulta como operária de uma linha de montagem da Ford.
Valendo-se dos generosos programas educacionais da empresa, abriu caminho até
os níveis gerenciais. Ao longo do percurso foi acumulando alguns milhares de
ações ordinárias da Ford. O marido morreu quando Paula tinha cinqüenta e poucos
anos, deixando-a proprietária de uma grande casa num subúrbio de Detroit, e de
um apartamento na Flórida, imóveis que agora já não a interessavam mais.
Resolveu vender os dois, fazer um acordo com a Ford para antecipar sua
aposentadoria, pôr todo o seu dinheiro em ações dessa empresa e viver feliz
para sempre, recortando cupões de dividendos.
Tudo
isto ocorreu no final dos anos 70. A essa altura, a Ford pagava um dividendo de
2,60 dólares por ação.
Juntando
as ações novas com as que já possuía, Paula ficou com umas 20.000, que rendiam,
então, cerca de 52.000 dólares por ano. Esta cifra era totalmente taxável pelo
Imposto de Renda (exceto dedução de 100 dólares, permitida pelo generoso
governo); suplementada, porém, pela pensão que recebia, era o bastante para a
nossa Paula viver confortavelmente, em segurança.
A
sua corretora telefonou-lhe uma ou duas vezes alertando para os problemas que
pareciam estar se armando na indústria automobilística. A mulher sugeriu que
talvez fosse uma boa idéia vender as ações antes que as cotações caíssem. Se
Paula estava interessada principalmente em renda, por que não considerar trocar
de posição, comprar alguma boa companhia de serviço público? Tradicionalmente,
essas companhias distribuíam grande parte das suas receitas sob forma de
dividendos. Os preços dos papéis não se mexiam muito, mas os dividendos andavam
geralmente na faixa de 9% a 15% - duas ou três vezes mais do que pagavam outras
companhias.
Mas
Paula disse que não, que preferia continuar com Ford. Conhecia a empresa,
confiava nela, sentia-se confortável com aquele papel. Quanto a uma possível
queda de preço, não a preocupava. Era um investimento a longo prazo. Não tinha
intenção de vender em futuro próximo. A não ser uma ou duas vezes por ano, nem
olhava o jornal para saber a quantas andava. Subiu um pouquinho, desceu um
pouquinho – para que iria ela se chatear?
Estava
acima dessas miudezas. Das suas ações, só queria um belo cheque gordo a cada
trimestre. Fora isto, disse ela à corretora, desejava-as trancadas num cofre e
esquecidas.
Em
1980, a Ford reduziu o seu dividendo de 2,60 dólares por ação/ano para 1,73. A
renda de Paula caiu para 34.600 dólares.
Conforme
vimos em outro contexto, em 1980 os problemas da indústria automobilística
começaram a se agravar, inclusive os da Ford. Paula deveria ter saído muito
tempo antes, mas deitara raízes.
Em
1981, o dividendo da Ford foi reduzido a 80 centavos de dólar, e Paula recebeu
16.000 dólares nesse ano. No ano seguinte, a Ford não pagou dividendo nenhum.
Paula, desesperada, durante esse ano triste teve de vender cerca de 4.000
ações, a fim de fazer dinheiro para viver e pagar dívidas acumuladas. A essa
altura, naturalmente, a cotação das ações estava horrivelmente baixa. Ela foi
obrigada a vender por muito menos do que tinha comprado.
Em
1983, a Ford começou a sair do buraco. Declarou um dividendo de 50 centavos de
dólar. No começo desse ano, sobravam a Paula apenas 16.000 ações, e ao longo do
ano ela teve de vender outras 2.000. Seus dividendos, em 1983, ficaram por
volta de 7.000 dólares.
Em
1984 as coisas se apresentaram um pouco melhores. A Ford pagou dividendos de
1,20 dólar. Com as 14.000 ações que lhe restavam, Paula recebeu 16.800 dólares.
Manteve-se viva, mas não fora isto que antecipara no seu planejamento a longo
prazo.
Jesse
Livermore escreveu: ‘’Acredito que o dinheiro perdido em especulações (de curto
prazo) é uma ninharia comparado às gigantescas somas perdidas pelos assim
chamados investidores, que deixam seus capitais empatados durante muito tempo
num só negócio. Do meu ponto de vista, os investidores (de longo prazo) são os grandes
jogadores. Fazem uma aposta, plantam-se nela e, se der errado, podem perder
tudo. O especulador inteligente agirá rapidamente, mantendo as suas perdas num
mínimo’’.
Conforme
já vimos, Livermore não teve 100% de sucesso como especulador. Não apenas
ganhou quatro fortunas, como as perdeu, e, finalmente, por alguma tragédia
pessoal, perdeu a vida. Mas quando o seu motor especulativo estava em ordem e
bem lubrificado, ele parecia um Rolls-Royce. Valia a pena escutar.
Vamos,
então, prestar atenção a esta sua sentença básica: ‘’Os investidores (de longo
prazo) são os grandes jogadores.’’ É a pura verdade. Apostar no amanhã já é um
risco. Apostar num dia daqui a vinte ou trinta anos é loucura total.
Investimentos
a longo prazo, como tantos outros procedimentos falaciosos que já vimos, têm lá
os seus encantos. O maior deles, talvez, é que o aliviam de ter de tomar
decisões freqüentes e talvez penosas. Você toma uma só – ‘’compro isto e
esqueço’’ – e relaxa. Isto atrai os preguiçosos e os covardes – e nós todos
temos muito destas qualidades. Além do mais, o fato de termos um pé-de-meia
acoplado, como a maioria dos pés-de-meia, a algum plano a longo prazo, dá um
enorme quentinho na barriga, uma sensação de pura felicidade. A vida está todinha
planejada! Nada pode lhe acontecer! Pelo menos é o que você pensa.
Outra
beleza dos investimentos a longo prazo é o que você economiza em comissões de
corretagem. Quanto mais você entra e sai de coisas como ações, moedas ou
imóveis, mais pagará de comissões e outras despesas e taxas. No caso de
imóveis, onde as comissões são significativas, isto pode ter importância, mas,
na maioria dos outros negócios que envolvem corretores, é pouco mais que a
picada de um mosquito. Mesmo assim, há muitos investidores a longo prazo que se
valem da história das comissões como justificativa para a sua imobilidade.
O
seu corretor preferia que você fosse um especulador do tipo ligeiro, que entra
e sai rapidinho, em vez do tipo coqueiro, que fica plantado. Quanto mais você
se mexer, mais o seu corretor ganha. Neste caso, o interesse dele coincide
perfeitamente com o seu.
Não
deite raízes. Cada investimento deve ser reavaliado no mínimo a cada três
meses, tendo de justificar-se novamente. Pergunte-se sempre: ‘’Se este
investimento me fosse oferecido hoje pela primeira vez, eu poria o meu dinheiro
nele? Está marchando na direção da posição de saída que eu estabeleci?’’
Isto
não quer dizer que você deve ficar pulando de galho em galho, só pela farra.
Mas se as circunstâncias se modificaram depois que fez o investimento, se ele
vem caindo, se a posição de saída está ficando mais longe em vez de mais perto,
se você vê outra coisa que, à luz das novas circunstâncias, parece
evidentemente mais promissora, pule.
A
pressão para se ficar plantado num pé-de-meia não vem apenas da nossa covardia,
preguiça ou outro problema íntimo qualquer. O mundo à nossa volta também aplica
uma pressão enorme.
Muitas
grandes empresas de capital aberto, por exemplo, oferecem arranjos
aparentemente atraentes, pelos quais os empregados podem investir nas suas
próprias ações. Você assina um papel se comprometendo a investir tanto por mês,
e, para facilitar, algumas empresas descontam em folha e compram as ações em
seu nome. Você nem
vê a cor do dinheiro. Um investimento sem dor!
É o
que lhe dizem, pelo menos. O que esse tipo de negócio faz é arraigar você num
lugar onde, quem sabe, você nem queira ter sempre as suas raízes. Qual teria
sido o sentido, por exemplo, de ficar preso num investimento a longo prazo em
GM, nas duas últimas décadas? Em 1971, o papel era negociado acima de 90 dólares.
Desde então, não chegou nem perto.
Corretores
e outros agentes da várias formas de especulação oferecem o que geralmente
chamam de planos ‘’convenientes’’ de investimento mensal. Para comprar o que
determinou, você entra com tanto por mês. Isto não o prende, inexoravelmente,
num investimento a longo prazo, mas a tendência é essa. O risco neste tipo de investimento
é que ele o estimula a bolar um plano a longo prazo: ‘’Então, vamos ver. Se eu
investir tanto por mês em Oba-Oba Computadores e se o preço da ação aumentar,
modestamente, 10% ao ano... Puxa, quando eu fizer 65 anos terei tantos milhares
de dólares! Estarei rico!’’
Não
conte com isso, meu amigo. Vendedores de fundos mútuos acenam com dezenas de
atrativos diante dos seus esbugalhados olhos. Esse pessoal também tem os seus
convenientes planos mensais. Você receberá lindos gráficos a quatro cores, mostrando
por A mais B como teria sido inteligente você ter-se agarrado com os planos
deles pelos últimos vinte anos. Ou, se o desempenho deles tiver sido tão
miserável que não há gráfico a quatro cores que dê jeito, terão outros
gráficos, igualmente bonitos, mostrando o deslumbrante futuro que você terá de
assinar nesta linha pontilhada aqui.
Temos,
também, a indústria do seguro de vida. Este é um mundo espantosamente complexo.
Para irmos ao cerne da questão, porém, diremos que existem dois tipos de seguro
de vida: o que o prende num investimento a longo prazo e o que não o prende.
Fuja do primeiro.
Seguro
de vida com investimento a longo prazo – às vezes chamado de vida ‘’total’’,
mas que tem uma porção de outros nomes – pode acabar de duas maneiras: dá um
bom dinheiro aos seus herdeiros, no caso de você passar desta para a melhor, ou
paga-lhe uma anuidade, ou numa bolada só, caso você se mantenha no jogo além de
certa idade. Sob todas as suas mais variadas formas – e bota variadas nisso -,
uma coisa não muda nunca: custa os olhos da cara.
O
vendedor, sobriamente vestido, delicado, que espalha aqueles folhetos diante
dos seus olhos e fala com temor reverencial em planos a longo prazo,
sinceramente deseja que você compre este tipo de seguro de vida. Se você
embarcar, ele fatura uma burra duma comissão. Ele está a fim de ver você
comprometer o seu rico dinheiro por vinte ou trinta anos; para ele, porém, o
negócio é a prazo muito menor que para você. Muito provavelmente, é o do tipo
‘’comissão de frente’’, ou seja, já nos dois ou três primeiros anos do seguro
ele recebe uma boa parte das comissões sobre esses vinte ou trinta anos.
O
seu principal ponto de venda será que você não está comprando, está investindo.
Se andar tudo direitinho, você acabará recebendo de volta o que tiver colocado,
ou boa parte. Enquanto isso, se esticar as canelas antes do planejado, a sua
família estará protegida. Beleza, não?
Não.
O que esse vendedor está querendo que você faça é pura loucura. Ele quer que
você invista milhares de dólares, ao longo de um período de alguns anos, contra
um futuro muito, muito distante. E como é que você sabe como será o mundo no
futuro? Aí sentado, hoje, como pode saber que daqui a dez ou vinte anos estará
a fim de investir num esquema de anuidade como este? Quem sabe se o mundo não
vai mudar de tal maneira que essas anuidades não valerão mais nada? Então, para
que se prender a tal esquema?
Se
tem dependentes que, sem você, terão problemas financeiros, proteja-os
comprando as formas mais baratas de seguro de vida. Só pagam se você morrer,
mas essa é que é a idéia. Você não se prende a nada. Se chegar um momento em
que os seus dependentes já não precisam mais de você, ou se outras mudanças ocorrerem
na sua vida, você simplesmente para de pagar o prêmio, e tudo bem. Enquanto
isso, como os prêmios são baixos, você fica com dinheiro para investir em
outras coisas mais interessantes que seguros de vida.
Tudo
o que você pode saber sobre o futuro é que, quando chegar, chegou. Não dá para
ver a cara que terá, mas você pode ao menos se preparar para reagir às suas
oportunidades e acasos. Não tem a menor graça ficar aí parado e esperar que ele
o atropele.
Estratégia Especulativa
O
12º (e último) Grande Axioma adverte para a futilidade e os perigos de se
planejar para um futuro que não se pode enxergar. Não deite raízes em planos ou
investimentos a longo prazo. Em vez disso, reaja aos fatos à medida que eles se
apresentam, no momento. Ponha o seu dinheiro em negócios, também à medida que
se apresentam, e tire-os dos riscos assim que tais riscos apareçam. Valorize a
liberdade de movimentos que lhe permitirá agir assim. Jamais assine qualquer papel
que comprometa essa liberdade.
O
12º Grande Axioma diz que só existe um plano financeiro a longo prazo de que
você precisa: o plano de ficar rico. Não dá para saber nem para planejar o
como. Tudo que você tem de saber é que irá conseguir, de um jeito ou de outro.
Pois é,
ResponderExcluirMas o exemplo utilizado não desqualifica de maneira nenhuma o investimento de longo prazo, uma vez que ele não foi feito da maneira adequada. Os erros mais gritantes nesse caso foram: a ausência de diversificação nos investimentos, de modo a se proteger de possíveis crises ou mesmo a falência da empresa, e a falta de acompanhamento dos resultados da empresa. Entre outras coisas. Da maneira que foi apresentado, foi a receita para o fracasso que, cedo ou tarde, deverá chegar.
Um investidor de longo prazo deve se preocupar com o negócio da empresa, tem que se preocupar com os resultados que ela apresenta, levar em consideração o cenário em que ela se insere e não achar que os resultados serão sempre bons. A diversificação pode te proteger nesse sentido. E se o negócio ficar ruim, você cai fora e investe em outra. Ser investidor de longo prazo não quer dizer manter um investimento pra sempre e sim ser um investidor até que os resultados atendam aos seus interesses.
Por isso se selecionam boas empresas no início e você a mantém em sua carteira. Deixaram de ser boas (segundos os seus critérios), tchau! Não existe essa de ficar no negócio levando prejuízo. Isso não tem nada a ver com investimento de longo prazo.
- Falou pouco, mas falou bonito.
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