quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A CÉLEBRE RELAÇÃO P/L












Qualquer discussão séria sobre lucros envolve a relação preço/lucro. Essa relação é uma abreviação numérica do relacionamento entre preço da ação e os lucros da empresa. A relação P/L para cada ação está listada nas tabelas diárias de ações da maioria dos grandes sites financeiros.

Assim como a linha de lucros, a relação P/L frequentemente é uma medida útil para verificar se qualquer ação está sobrevalorizada, adequadamente cotada ou subvalorizada em relação ao potencial de geração de receitas da empresa.

A relação P/L pode ser vista como o número de anos necessários para uma empresa recuperar o valor de seu investimento inicial – considerando-se, obviamente, que os lucros da empresa permaneçam constantes.  Digamos que você compre 100 ações da empresa Y por R$ 3.500,00.  Os lucros atuais são de R$ 3,50 por ação, de forma que estas 100 ações produzirão lucros de R$ 350,00 em um ano e o investimento original será recuperado em 10 anos.  Contudo, você não tem de realizar esse exercício, porque a relação P/L de 10 já lhe diz que são necessários 10 anos.

Se você compra ações de uma empresa vendida por duas vezes seus lucros (uma P/L de 2), conseguirá recuperar seu investimento original em 2 anos; mas, em uma empresa vendida por 40 vezes seus lucros (uma P/L de 40), seriam necessários 40 anos para realizar o mesmo.  Com tantas oportunidades de ações com P/L baixas, por que alguém compraria uma ação com uma P/L elevada? Os lucros corporativos não permanecem constantes por mais tempo do que permanecem os lucros humanos.

O fato de que algumas ações têm P/L de 40 e outras de 3 lhe diz que os investidores estão dispostos a realizar apostas arriscadas em melhores lucros futuros de algumas empresas, ao mesmo tempo que se mostram muito céticos em relação ao futuro de outras. Procure essas informações e ficará surpreso com a variação de P/L que encontrará.

Você também descobrirá que os níveis de P/L tendem a ser altas para as empresas de crescimento rápido e mais baixas para empresas de crescimento lento, com as empresas cíclicas oscilando entre elas. Isso é como as coisas deveriam ser se você acompanha a lógica da discussão apresentada aqui. Uma P/L média para uma concessionária de serviços públicos (entre 7 e 9) será menor que a média para uma empresa confiável (10 e 12), a qual, por sua vez, será mais baixa que a média para uma empresa de crescimento rápido (14 a 20). Alguns caçadores de pechinchas acreditam na compra de quaisquer e/ou todas as ações com baixos P/L, mas essa estratégia não faz sentido para mim. Uma P/L, considerada como pechincha para a pequena empresa da esquina não é necessariamente idêntica àquela mesma P/L para a AMBEV.

Uma discussão detalhada sobre relações P/L de vários setores e de diferentes tipos de empresas tomaria um livro inteiro que ninguém desejaria ler. É tolice ater-se às P/L, mas você não desejaria ignorá-las. Novamente, seu corretor pode ser sua melhor fonte para uma análise de P/L. Você poderia começar perguntando se as relações P/L das várias ações que possui são baixas, altas ou moderadas com relação ao padrão do setor. Algumas vezes você ouvirá coisas como “essa empresa é vendida com desconto em relação ao resto do setor” – o que significa que sua P/L está em um nível de barganha.

Os sites financeiros também lhe fornecem um registro histórico das P/L de uma empresa – e a mesma informação pode ser encontrada nos relatórios. Antes de comprar uma ação, você talvez queira acompanhar a evolução de sua P/L ao longo de vários anos para obter uma percepção de seus níveis normais. (As empresas novas, obviamente, não estão no mercado por tempo suficiente para possuírem tais registros)

Se você comprar ações da AMBEV, por exemplo, é útil saber se está pagando pelos lucros de acordo com aquilo que os outros pagaram no passado. O histórico anual da relação P/L pode lhe confirmar isso.

Se você não se lembrar de nada sobre as relações P/L, lembre-se  de evitar ações de empresas com P/L elevada. Você economizará muita frustração e muito dinheiro se o fizer. Com poucas exceções, uma relação P/L extremamente alta é uma desvantagem para uma ação, da mesma forma como o peso extra na sela é uma desvantagem em uma corrida de cavalos.

Uma empresa com uma P/L elevada deve ter um crescimento de lucros incrível para justificar o alto preço atribuído a sua ação. As relações P/L das empresas não existem no vazio. O mercado de ações como um todo possui sua própria relação P/L coletiva, a qual é uma boa indicadora da sobrevalorização ou subvalorização do mercado em sua totalidade. Sei que já lhe aconselhei a ignorar o mercado, mas quando você descobre que algumas ações são vendidas por preços inflados em relação a seus lucros, é provável que a maioria das ações seja vendida por preços inflados em relação a seus lucros. Isso foi o que ocorreu em 2007.  Durante 5 anos, desde 2002, você podia ver que a P/L do mercado, em geral aumentava de maneira gradual, de aproximadamente 8 para 17. Isso significa que os investidores em 2007 estavam dispostos a pagar duas vezes mais do que pagaram em 2002 pelos mesmos lucros corporativos – o que deveria ter sido um alerta de que a maioria das ações estava sobrevalorizada.

As taxas de juros têm um grande efeito sobre as relações P/L existentes, uma vez que os investidores pagam mais pelas ações quando as taxas de juros são baixas e os títulos públicos são menos atraentes. Mas, independentemente das taxas de juros, o incrível otimismo produzido durante mercados de alta pode conduzir as P/L a níveis ridículos, como se passou nos casos da VALE, PETROBRÁS, BANCO DO BRASIL e outras grandes empresas de lento crescimento durante o boom de 2002-2007. Nesse período, as ações de empresas de crescimento rápido tinham relações P/L que pertenciam ao reino da fantasia, as ações de empresas de crescimento lento tinham relações P/L normalmente reservadas às empresas de crescimento rápido e o mercado atingiu um pico de 20 em 2007.

Qualquer estudioso de relações P/L teria visto que se tratava de uma insensatez, e gostaria que um deles houvesse me dito isso. No período de 2008 a 2010, o mercado teve sua correção.

Os lucros futuros – aqui está o ponto. Como você poderia prevê-los? O melhor que se pode obter a partir dos lucros presentes é uma suposição sobre o preço da ação, se está ou não adequadamente fixado. Se você realizar apenas isso, jamais comprará ações da AMBEV ou ITAÚ com uma P/L de 65, também pouco pagará excessivamente por ações da BRADESCO ou da PORTO SEGURO.  Contudo, o que você realmente gostaria de saber é o que ocorrerá com os lucros no próximo mês, ano ou década.

Os lucros, afinal de contas, supostamente deveriam crescer, e o preço de cada ação carrega consigo uma expectativa de crescimento. Batalhões de analistas e estatísticos são lançados contra as questões de crescimento e lucros futuros, e você pode apanhar a revista ou site financeiro mais próximo para ver, por si mesmo, a freqüência com qual obtêm a resposta errada (a palavra mais frequentemente vista ao lado de “lucros” é “surpresa”). Não estou sugerindo que possa começar a prever lucros ou crescimento de lucros por conta própria, de forma bem-sucedida.

Uma vez que se entra para valer neste jogo, você ficaria atônito com exemplo de ações que caem ainda que seus lucros estejam em alta, pois os analistas profissionais e seus clientes institucionais esperavam rendimentos maiores, ou de ações que sobem mesmo quando seus lucros estão em baixa, pois a mesma seção de torcedores esperava lucros menores. Essas são anomalias de curto prazo, embora sejam frustrantes para o acionista que os observa.

Se não se pode prever lucros futuros, pelo menos você pode descobrir como uma empresa planeja aumentá-los. Então, pode verificar periodicamente se os planos estão funcionando.